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Associação dos Profissionais de Saúde ameaça retomar a greve

8 de julho de 2024

Em entrevista à DW, presidente da APSUSM confirma cortes nos salários para "amedrontar" os profissionais da saúde e ameaça retomar a greve se pagamentos não forem repostos.

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APSUSM alerta que a situação continua caótica no Sistema Nacional de Saúde
APSUSM alerta que a situação continua caótica no Sistema Nacional de SaúdeFoto: Sitoi Lutxeque/DW

A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) anunciou, há uma semana, a prorrogação da suspensão da greve convocada em finais de maio, resultado de negociações com o Governo, mas alerta que a situação continua caótica no Sistema Nacional de Saúde.

Em entrevista à DW, o presidente da APSUSM explica que há uma falta generalizada de condições para atendimento aos doentes – de medicamentos e material de trabalho a alimentos – e diz que a associação quer entender o funcionamento da logística, no intuito de ajudar o Ministério da Saúde a sanar o problema.

Anselmo Muchave afirma que a corrupção e a falta de comprometimento do Governo estão na base do problema, confirma cortes nos salários para "amedrontar" os profissionais da saúde e ameaça retomar a greve se os pagamentos não forem repostos.

DW África: O que levou Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique a suspender a greve?

Anselmo Muchave (AM): Devido ao número elevado de mortes que estávamos a ter nas nossas unidades sanitárias, decidimos reconsiderar.

APSUSM quer entender logística dos medicamentos

DW África: O que é que está a faltar nos hospitais e postos de saúde de Moçambique e o que estará na raiz dessas mortes que foram registadas?

AM: As nossas unidades sanitárias em Moçambique são precárias. Falando das grandes unidades sanitárias, dos hospitais centrais provinciais, ressentem-se da falta de medicamentos. Imagine se o hospital central, que é o mais grande do país, não tem medicamentos, os centros de saúde e postos de saúde nas localidades estão em péssimas condições de internamento, alimentação para os pacientes e medicamentos.

O Governo pode dizer "vamos trabalhar paulatinamente para resolver a questão dos medicamentos". Mas a doença não se adia. Enquanto o Governo não disponibiliza o medicamento necessário, as pessoas não vão parar de morrer por falta de medicamentos.

As nossas ambulâncias não têm oxigênio, nem materiais de emergência. São simples carros que carregam corpos de um lado para o outro, mas não salvam vidas.

DW África: Como tem sido os relatos dos profissionais que estão a trabalhar com falta de tantos meios essenciais?

AM: O sentimento é de muita dor, sem saber onde podem adquirir esse apoio para poderem continuar a exercer o seu trabalho com zelo. Porque dói-nos, como profissionais de saúde, termos um óbito evitável.

Desde novembro do ano passado a esta data, as unidades públicas de saúde não têm gesso. Como é que ficam as pessoas acidentadas? Significa que, daqui há algum tempo, teremos muita população moçambicana deficiente.

Ambulância na zona rural de Chicuque
Ambulâncias não têm oxigênio, nem materiais de emergência, denuncia a APSUSMFoto: DW/L. da Conceição

DW África: Na sua avaliação, o que estará na raiz deste problema?

AM: Desorganização e a corrupção aliada à falta de comprometimento e de entrega (de medicamentos) da parte do Governo que não se interessa pelas unidades sanitárias, porque eles vão ter tratamentos fora do país.

DW África: Que soluções a APSUSM espera que sejam implementadas no sentido de resolver essa situação?

AM: Um trabalho direto em que a associação possa apoiar o Governo. A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique quer saber onde e em que período é adquirido o medicamento, quem é o fornecedor e qual a modalidade do pagamento. Não podemos só olhar para o fornecedor ou para o Governo. Temos que saber. Será que o medicamento é fornecido a tempo e hora? Será que o nosso Governo paga o medicamento? Qual é a logística para que este medicamento possa chegar às localidades mais recôndidas do nosso país, onde há falta de transporte.

DW África: Qual solução poderia sugerir para superar esta situação?

AM: Se tiver medicamentos, por exemplo, nos armazéns centrais, as ambulâncias podem carregar os medicamentos para as unidades sanitárias. E caso não tenhamos esses medicamentos, que o Governo possa, o mais rapidamente possível, adquirir esses medicamentos.

Sede do Ministério da Saúde em Maputo
Sede do Ministério da Saúde em MaputoFoto: DW/J. Beck

DW África: Há relatos de perseguições a grevistas por parte do Ministério da Saúde com cortes salariais e transferências arbitrárias nas províncias de Gaza, Maputo, Inhambane, no Sul, e Nampula, no Norte. Esta informação procede?

AM: Essa informação procede. Cortes na província de Gaza, Maputo província e Inhambane. É uma forma de amedrontar para que as pessoas não possam cobrar os seus direitos. Mas nós, como profissionais de saúde, decidimos: Não vamos descansar antes que o Sistema Nacional de Saúde esteja organizado.

DW África: A Associação está a considerar convocar nova greve?

AM: Sim, estamos a considerar retomar a greve caso o Governo, dentro desta semana, não responda positivamente com a devolução de todos os salários. A greve é legal. Não sabemos porque é que o Governo está a cortar o salário das pessoas e com que base, mas estamos a ter estes cortes.

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