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Opinião: Uma ameaça real para Hillary

Ines Pohl
Ines Pohl
18 de janeiro de 2016

Bernie Sanders surge como sério concorrente para a ex-secretária de Estado na disputa democrata. O diferencial é que o público está acreditando no que ele diz, opina Ines Pohl, correspondente da DW em Washington.

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Ines Pohl é correspondente da DW em Washington

A equipe de Hillary está nervosa. De repente, o impensável se tornou uma possibilidade: Bernie Sanders – um homem em idade avançada, um autointitulado democrata socialista – pode vencer as duas primeiras primárias do Partido Democratam, em Iowa e New Hampshire, que tradicionalmente sempre tiveram importância simbólica.

Isso pode ter consequências traumáticas para a equipe de Hillary – da mesma forma que oito anos atrás, quando Barack Obama era seu rival. Mais uma vez, um forasteiro entrou repentinamente em cena, e o império de Hillary mostra sinais de desequilíbrio.

Bernie Sanders não dispõe da fortuna necessária para financiar o que é – mais uma vez – a eleição presidencial mais cara de todos os tempos. No entanto, ele é capaz de levantar os milhões de dólares de fundos necessários por meio de pequenas doações de centenas de milhares de americanos.

Os doadores são pessoas como esse candidato de 74 anos de idade. Porque ele diz o que pensa. Porque ele é um homem honesto que não está permanente mergulhado em contradições. E porque as pessoas acreditam que ele luta por uma causa e não por ele mesmo. Basicamente, os americanos não acreditam na Casa Branca. As raízes disso estão na história da fundação dos Estados Unidos, que é, afinal de contas, a história de libertação do jugo de um governo arbitrário.

Independente de sua filiação política, as pessoas estão cansadas do espetáculo, nos últimos anos, do bloqueio mútuo [de democratas e republicanos] entre Câmara e Senado.

Os eleitores estão fartos do establishment político complacente. Esse também é um dos motivos do sucesso do pré-candidato republicano Donald Trump, que se apresenta como um enfant terrible e, como tal, quebra todas as regras, não somente aquelas de boas maneiras e decência. As pessoas gostam disso, porque isso lhes dá o sentimento de que ali está alguém que se levanta e luta contra o poder governamental.

Em contrapartida, Sanders é justamente a representação política desse governo forte. Ele defende a elevação de impostos e mais influência nas áreas de educação e saúde. Mas talvez tal nível ainda seja demasiadamente abstrato para essa emotiva fase inicial do ano eleitoral.

O pré-candidato de 74 anos é mais bem-sucedido entre os da chamada "geração do milênio" – jovens entre 18 e 24 anos. Nessa faixa etária, ele está à frente de Hillary, com índice de aprovação de 65%. Ela possui apenas 27%. Bernie Sanders consegue até mesmo agradar a eleitores que geralmente não apoiam os democratas.

Como convém à sua idade, os jovens americanos tendem a assumir posições contrárias. E esse homem idoso e branco é uma contratendência num partido onde a norma é ser mulher ou negro ou jovem. Isso também pode ter importância.

Sanders e Trump: ambos rompem tabus, de formas bem diferentes. Trump – racista e sexista; Sanders – de confiança e combativo.

Ao contrário de Hillary Clinton, que está há décadas na política, esses dois homens não carregam consigo nenhum escândalo passado que a oposição poderia usar em sua vantagem. Surpreendentemente, muitos americanos veem as transgressões de Donald Trump como um assunto meramente particular.

Há oito anos havia um forasteiro na corrida eleitoral. Alguém que, somente levando em conta as leis de probabilidade, nunca poderia ter vencido.

Sanders poderá realmente seguir os rastros de Obama?

Nas próximas eleições primárias em Iowa e New Hampshire, é bem provável que o faça. E então as coisas vão realmente começar.

Ines Pohl
Ines Pohl Chefe da sucursal da DW em Washington.@inespohl