Eslovênia, o novo revés da ultradireita na Europa
25 de abril de 2022O amplo descontentamento com o governo de ultradireita do primeiro-ministro da Eslovênia, Janez Jansa, levou a população a escolher um novato sem experiência política para governar o país.
Há menos de três meses, Robert Golob, um ex-diretor de uma empresa de energia, sequer tinha um partido para concorrer. Mas, após sua recém-criada legenda vencer as eleições parlamentares deste domingo (24/04), ele se tornou o mais novo revés para os populistas de ultradireita no continente europeu.
Com quase a totalidade dos votos apurados, o partido ambientalista Movimento da Liberdade (GS) de Golob liderava com 34,3%, bem à frente do Partido Democrata (SDS) de Jansa, que recebeu 23,5%. A insatisfação com a repressão às liberdades civis impostas pelo governo projetou o carismático engenheiro elétrico de 55 anos ao cargo mais alto do país alpino, de dois milhões de habitantes.
"Nosso objetivo foi atingido. Uma vitória que nos permitirá levar o país de volta à liberdade", disse Golob, ao saudar seus eleitores em uma transmissão ao vivo de sua casa, depois de testar positivo para covid-19.
Reconhecido pelo cabelo na altura dos ombros, um estilo que preserva desde sua juventude, Golob viajou o país de ônibus durante a campanha, enquanto sua equipe postava mensagens e anúncios no Facebook e Instagram. Ele se recusa a usar o Twitter. O motivo, segundo diz, é "para evitar a tentação dos dedos rápidos".
Golob prometeu restaurar a "normalidade", depois de afirmar que as eleições seriam um "referendo sobre a democracia".
Durante o último dos três mandatos de Jansa à frente do governo, dezenas de milhares de pessoas participavam regularmente de protestos, acusando o primeiro-ministro de usar a pandemia para atacar a liberdade de imprensa e o Judiciário, e para sabotar o Estado de direito.
Aliado do primeiro-ministro nacionalista da Hungria, Viktor Orban, e admirador do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, Jansa agiu diversas vezes em oposição à União Europeia em questões envolvendo a liberdade de imprensa, entre outras. Ele aceitou a derrota e declarou que seu partido fará uma "oposição de apoio ao Estado".
"Capaz de aprender"
Golob disse à imprensa que quer um país novamente "voltado para o Ocidente". Ele é um ex-secretário estadual de Energia que também trabalhou no Instituto de Tecnologia da Georgia, nos Estados Unidos. O pai de três filhos fundou sua própria indústria de energia em 2002. Mais tarde, após uma série de fusões, ele acabaria se tornando o diretor da GEN-I, empresa que promove a energia solar.
Mas, no ano passado, ele não pôde ser renomeando para o cargo depois de o governo aumentar sua participação na GNE-I e se tornar o acionista majoritário.
Depois de estar ausente da política por oito anos, Golob acabou se tornando uma figura central do Partido Verde até se tornar presidente da sigla e mudar seu nome para Movimento da Liberdade.
Analistas destacam a inexperiência de Golob, mas ressaltam que ele poderá se unir a políticos mais experientes, como os Social-Democratas (SD). "É como uma empresa que cresce abruptamente", afirma o analista político MIha Kovac. "Não tem infraestrutura, conhecimento ou pessoas que saibam como trabalhar nos órgãos parlamentares."
Vlado Miheljak, professor da Universidade de Liubliana, avalia que Golo é capar de aprender e de "fazer 'slalom' entre os egos e paixões mesquinhas".
rc (AFP, DPA)