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Bolsonaro recebeu via Pix mais de R$ 17 milhões em 2023

28 de julho de 2023

Relatório do Coaf aponta que transações são atípicas, mas que valor provavelmente tem relação com campanha de arrecadação promovida por aliados do ex-presidente. Bolsonaro ainda não detalhou quanto ganhou com "vaquinha".

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Jair Bolsonaro
Alguns doadores propagandearam suas transações nas redes sociais, entre eles Fabrício Queiroz, o "ex-faz-tudo" do clã BolsonaroFoto: Eraldo Peres/AP/picture alliance

O ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões por meio de transações de Pix entre 1º de janeiro e 4 de julho de 2023, apontou um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro ligado ao Ministério da Fazenda. Segundo o Coaf, foram 769.717 operações de Pix efetuadas em seis meses que acabaram beneficiando o ex-presidente.

O documento do Coaf avalia que os valores são "atípicos" e se referem "provavelmente" à campanha de arrecadação promovida por aliados do ex-presidente, cujos valores seriam supostamente usados para quitar multas processuais acumuladas por Bolsonaro.

No início do ano, a chave Pix de Bolsonaro foi divulgada nas redes sociais por ex-ministros da sua administração e alguns parlamentares do PL, como os deputados Mário Frias e Nikolas Ferreira. A campanha foi lançada após a Justiça determinar um bloqueio de R$ 87 mil nas contas do ex-mandatário pelo não pagamento de multas aplicadas contra ele em São Paulo durante a pandemia, em 2021, por promover aglomerações e não usar máscara.

Segundo o relatório, as maiores transações vieram de um grupo de 18 pessoas, formado por advogados, empresários, militares, agricultores, pecuaristas e estudantes, que pagaram entre R$ 5 mil e R$ 20 mil cada ao ex-presidente.

Alguns doadores propagandearam suas transações nas redes sociais, entre eles Fabrício Queiroz, o "ex-faz-tudo" do clã Bolsonaro, e suspeito de ser o operador de um esquema de desvio de salários de funcionários-fantasmas do senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do ex-presidente. Em junho deste ano, Queiroz, que em sua própria conta movimentou milhões de reais antes de Bolsonaro chegar ao Planalto, divulgou um comprovante de Pix no valor de R$ 10 para o ex-presidente.

O documento se tornou público após ser enviado à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do 8 de Janeiro.

Bolsonaro ainda não prestou contas dos valores da "vaquinha" para seus apoiadores. Em 26 de junho, ele se limitou a dizer que já havia conseguido valores suficientes para pagar suas condenações e multas processuais. "A massa contribuiu com valores entre R$ 2 e R$ 22. Foi voluntário", disse Bolsonaro na ocasião, prometendo detalhar os valores "mais para frente".

Os R$ 17,2 milhões via Pix correspondem a grande parte do valor que circulou nas contas de Bolsonaro em 2023. No total, o ex-presidente movimentou R$ 18,5 milhões. Entre as transações que não parecem ter relação com a campanha de arrrecadação, está uma transferência de R$ 3,6 mil para Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí, que em 2018 foi apontada como funcionária-fantasma do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, e que acabou exonerada após o caso vir a público.

Bolsonaro ainda não comentou a divulgação do relatório do Coaf. O ex-ministro e atual advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, se limitou apenas a reclamar do "vazamento" do documento. "São inadmissíveis os vazamentos de quebras de sigilos financeiros de investigados no inquérito de 8/1 e ou de qualquer outra investigação sigilosa. Faz-se necessário identificar quem está entrando na tal sala cofre para que as medidas judiciais sejam tomadas. Quem vazou será criminalizado", escreveu em suas redes sociais.

Mauro Cid movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses

Outro relatório do Coaf apontou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, movimentou R$ 3,2 milhões entre junho de 2022 e janeiro de 2023. O órgão considerou volume "incompatível com o patrimônio (...) e capacidade financeira" do militar, segundo o órgão do governo responsável pelo combate à lavagem de dinheiro.

Contas controladas pelo outrora braço direito de Bolsonaro teriam registrado entrada de R$ 1,8 milhão e saída de outros R$ 1,4 milhão, aponta o Coaf em relatório enviado à CPMI do 8 de Janeiro.

Dentre os valores, R$ 367 mil foram encaminhados em 12 de janeiro deste ano a contas nos Estados Unidos – mesmo período em que ele e Bolsonaro se encontravam no país. O ex-presidente havia deixado o Brasil no apagar das luzes do seu mandato, retornando somente três meses depois. Militar da ativa, Cid tem salário bruto de R$ 26,2 mil.

jps/ek (ots)