Zimbabueanos vão às urnas para decidir futuro do país
15 de março de 2013O referendo para votar uma nova Constituição no Zimbabué marcado para este sábado (16.03) poderá ser um dos últimos grandes testes de força para o presidente do país, Robert Mugabe, o controverso político que governa o território desde a independência, há 33 anos.
Agora, o sistema político está perante uma reforma fundamental. A nova Constituição deverá limitar o poder dos governantes e abrir caminho para eleições livres e justas na metade deste ano. A pergunta que não quer calar é se tudo isso é um passo para a democracia ou um compromisso para manter as aparências.
Cofres vazios, presidente rico
Robert Mugabe gosta de saborear o poder. Quando completou 89 anos, no início de março, o presidente do Zimbabué organizou uma extravagante festa onde não faltou um bolo de 89 quilos e carne de 89 vacas.
Mugabe vive rodeado de luxo, mas o país está mergulhado numa crise económica. A pobreza é grande e os cofres do Estado estão vazios. Nem o referendo deste sábado (16.03) conseguiu ser financiado pelo país rico em diamantes, de acordo com o próprio governo. A ajuda deverá vir de doadores internacionais.
Perante apoiantes do seu partido, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (sigla: ZANU-PF), o presidente Mugabe fez campanha pela nova Constituição: "Deixem-me dizer algo sobre o projecto de Constituição: não existe nada de errado! Os pormenores podem sempre ser melhorados mais tarde. Vamos votar e depois tratar das eleições. E vamos ganhar as eleições."
Também o parceiro de coligação de Mugabe, o primeiro-ministro Morgan Tsvangirai, e o seu partido, o MDC, apoiam o projeto de Constituição.
Depois das últimas eleições, em 2008, os partidários dos dois políticos envolveram-se em conflitos sangrentos. Após pressões externas, Mugabe e Tsvangirai finalmente concordaram com a formação de uma coligação. Desde então, a reforma constitucional tornou-se uma das principais exigências da comunidade internacional.
O que muda com uma nova Constituição?
As principais alterações dizem respeito aos poderes do Presidente. A sua influência sobre os serviços secretos e os militares deverá ser limitada e a imunidade deverá ser retirada.
A nova Constituição também prevê reduzir a dois o número de mandatos presidenciais, num máximo de dez anos. Há alguns anos, o período de mandato nem sequer teria sido levado em consideração. Desta forma, Mugabe poderia continuar a governar até ter 99 anos.
Boicote à eleição
O ativista dos direitos humanos Lovemore Madhuku e presidente da Assembleia Nacional Constituinte (NCA), um influente grupo cívico, luta há mais de 15 anos por uma nova Constituição e contra a omnipotência do Presidente.
"Não é nenhum segredo que Mugabe tem falhado na liderança do nosso país, porque ele nunca teve de responder pelo que quer que fosse. Teve sempre todos os poderes à sua disposição", explica Lovemore Madhuku. Algo que também não irá mudar com a nova Constituição, critica o ativista. Por isso, ele apela a todos os grupos que lutam pelos direitos civis para que boicotem a votação.
O governo de Harare não permite a presença de observadores eleitorais ocidentais no referendo. Em fevereiro deste ano, a União Europeia diminuiu o número de sanções contra o Zimbabué e anunciou que as iria suspender caso seja realizado um referendo credível e eleições justas.
Entretanto, a União Europeia continua a manter as restrições de viagens e as contas de alguns empresários e funcionários do governo bloqueadas, incluindo o presidente Mugabe.
Opinião dos observadores
Observadores esperam que os zimbabueanos digam “sim” à nova Constituição. Para o especialista em África Christian von Soest o que não está tão claro é o futuro político de Robert Mugabe: "Ouve-se que em determinadas circunstâncias ele estaria disposto a renunciar. Por exemplo, para não manchar a sua reputação como chefe de Estado, ou garantir a participação da ZANU-PF num novo governo. A questão é: até que ponto ele irá criar condições para sair de forma digna?", pergunta von Soest.
Em meados de 2013, deverão ser realizadas as eleições parlamentares e presidenciais no Zimbabué. Com o referendo sobre a nova Constituição, o país dá um passo importante para o futuro. Com ou sem Mugabe.
Autoras: Julia Hahn / Madalena Sampaio
Edição: Bettina Riffel / Renate Krieger