1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaFrança

Vitória histórica da extrema-direita nas eleições francesas

DW (Deutsche Welle) | Ella Joyner | AFP | Lusa
1 de julho de 2024

O partido de extrema-direita de Marine Le Pen obteve uma vitória inédita na primeira volta das eleições em França, com 33,15% dos votos, enquanto o bloco do Presidente do país, Emmanuel Macron, ficou em terceiro lugar.

https://p.dw.com/p/4hiV4
Marine Le Pen, membro do partido de extrema-direita francês União Nacional (RN) e candidata às eleições legislativas em Sarthe
Marine Le Pen, membro do partido de extrema-direita francês União Nacional e candidata às eleições legislativas em SartheFoto: Yves Herman/REUTERS

A União Nacional (Rassemblement National, RN na sigla em francês) de Marine Le Pen foi a formação mais votada na primeira volta das eleições legislativas francesas realizadas este domingo (30.06), com 33,15% dos votos, de acordo com os resultados provisórios hoje divulgados pelo Ministério do Interior.

A coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) obteve 27,99 % dos votos e tornou-se assim a segunda maior força política, à frente da maioria cessante do Presidente Emmanuel Macron, que é o grande derrotado das eleições, com 20,04%.

Nesta primeira volta, com uma taxa de participação elevada de 66,71%, já foram eleitos 37 deputados do RN, 32 do NFP, dois do bloco de Macron e três do partido de centro-direita Os Republicanos (LR) e dos seus aliados.

A grande maioria dos assentos parlamentares será conhecida na segunda volta, marcada para 7 de julho.

Milhares de apoiantes de esquerda manifestaram-se ontem em Paris contra a extrema-direita e pediram ao Presidente francês que clarifique a sua posição e apele sem ambiguidades a uma "frente republicana". A manifestação decorreu na Praça da República e foi convocada pela NPF.

Protestos em Paris contra o partido de extrema-direita francês União Nacional (RN) depois de conhecidos os resultados parciais da primeira volta das eleições legislativas antecipadas deste domingo
Protestos em Paris contra o partido de extrema-direita francês União Nacional (RN) depois de conhecidos os resultados parciais da primeira volta das eleições legislativas antecipadas deste domingoFoto: Fabrizio Bensch/REUTERS

Apelos aos eleitores

Sob o signo da vitória, no domingo à noite, o jovem presidente da União Nacional, Jordan Bardella, aproveitou o seu primeiro discurso após a saída das urnas para se apresentar como um estadista sério.

"No próximo domingo, se os franceses nos derem a maioria absoluta para reerguer o país, tenciono ser o primeiro-ministro de todos os franceses, ouvindo cada um deles, respeitando a oposição e tendo em conta a unidade nacional", disse o jovem de 28 anos em Paris.

A extrema-direita parece estar mais perto do poder do que em qualquer outro momento desde a ocupação nazi de França durante a II Guerra Mundial, com Bardella a tentar ser primeiro-ministro numa estranha "coabitação" com o Presidente Macron, até ao fim do seu mandato em 2027.

Emmanuel Macron e muitos líderes da esquerda e do centro já pediram união para evitar que o partido de Marie Le Pen conquiste a maioria absoluta na Assembleia Nacional.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, no discurso televisivo à nação em que anunciou a convocação de eleições antecipadas a 30 de junho
O Presidente francês, Emmanuel Macron, no discurso televisivo à nação em que anunciou a convocação de eleições antecipadas a 30 de junhoFoto: Ludovic MARIN/AFP

Grande afluência às urnas, grande volatilidade

Com o sistema de votação em duas fases em França, nada é ainda certo. Nos 577 círculos eleitorais franceses, todos os candidatos que obtiveram mais de 12,5% dos votos passarão à segunda volta definitiva, exceto se um candidato obtiver mais de 50% dos votos. Nesse caso, o candidato ganha o lugar e não há segunda volta.

Desta vez, a elevada taxa de participação (quase 70%, um máximo de quatro décadas) significa que a próxima ronda de votações parece ser mais volátil do que o habitual, porque muitos lugares parecem destinados a disputas a três, conhecidas como "triangulares".

"Chegou o momento de uma aliança ampla, claramente democrática e republicana para a segunda volta", apelou Macron no domingo.

Melenchon e os seus colegas políticos assumiram compromissos semelhantes para se juntarem contra a extrema-direita, mas resta saber se todos vão cumprir as promessas.

Para a analista Sophie Pornschlegel, muito depende do bloco de esquerda NPF e do tradicional partido de direita Os Republicanos. A posição do partido republicano, no que diz respeito à RN, é menos clara.

O chefe do partido, Eric Ciotti, tem vindo a pressionar o seu outrora poderoso partido, que ficou em último lugar com 10% dos votos no domingo, a juntar-se à União Nacional. Bardella também se dirigiu aos republicanos no seu discurso.

Ao mesmo tempo, alguns eleitores centristas terão dificuldade em votar numa coligação liderada pelo populista de esquerda Melenchon, nos lugares em que o partido de Macron se retira por ter ficado em terceiro lugar, salienta Pornschlegel.

À lupa: O que faz o Parlamento Europeu?

Parlamento "quase ingovernável"

Com tantas negociações políticas previstas, a composição efectiva da futura Assembleia Nacional é muito difícil de prever neste momento, diz ainda a analista Sophie Pornschlegel. "Depende muito se haverá algum tipo de coligação contra a extrema-direita ou se esta se vai desintegrar", conclui.

"Com estes números, a extrema-direita terá dificuldade em obter uma maioria no próximo domingo", escreveu na rede social X Mujtaba Rahman, analista do Eurasia Group. "Mas a nova Assembleia [Nacional] de França será provavelmente um lugar barulhento e quase ingovernável", diz.

Pornschlegel acredita que "Macron ainda tem muito poder, constitucionalmente, para tomar as decisões sobre quem será o próximo primeiro-ministro."

Aconteça o que acontecer, a França está provavelmente a caminhar para um impasse político de uma forma ou de outra. A situaição pode piorar de tal forma que Emmanuel Macron poderá mesmo convocar eleições presidenciais antecipadas, argumenta a analista. "É impossível governar no tipo de cenários que estamos a ver", conclui Pornschlegel.