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PolíticaFrança

"Macron fez bem em convocar eleições antecipadas"

10 de junho de 2024

A DW falou com um imigrante guineense em França após a reviravolta política no país devido à vitória da extrema-direita nas eleições europeias. O que causou a queda de Macron? Eleições antecipadas são um erro?

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Líder da extrema-direita, Marine Le Pen, e o Presidente francês, Emmanuel Macron
Líder da extrema-direita, Marine Le Pen, e o Presidente francês, Emmanuel MacronFoto: LUDOVIC MARIN/AFP/Getty Images

A França já está em campanha eleitoral rumo a eleições legislativas antecipadas. O partido Renaissance do Presidente Emmanuel Macron perdeu as eleições para o Parlamento Europeu. A extrema-direita ficou em primeiro lugar com o dobro dos votos da votação anterior (31,36% contra 14,6%). Como consequência, Macron decidiu dissolver o Parlamento e convocar as legislativas antecipadas.

A primeira volta realizar-se-á a 30 de junho, a segunda a 7 de julho. França poderá ter um novo Governo já antes dos Jogos Olímpicos de Paris, que começam a 26 de julho. A extrema-direita francesa está agora numa posição forte. Com estas eleições, mergulha na incerteza um pilar da União Europeia.

O guineense Flávio Baticã Ferreira, que vive há mais de 32 anos em França, onde se formou em Relações Internacionais, diz à DW que o resultado das eleições europeias é uma espécie de "cartão vermelho" que os franceses deram a Macron.

DW África: Os resultados das eleições europeias em França são um voto de protesto contra a imigração ou contra as políticas de Emmanuel Macron?

Flávio Baticã Ferreira (FBF): Eu acho que o povo votou muito mais para sancionar Emmanuel Macron. É preciso lembrar que Macron enfrentou na segunda volta [das eleições presidenciais, de 2022] Marine Le Pen, e o povo francês se juntou a ele para poder evitar a chegada ao poder do partido de extrema-direita de Marine Le Pen.

Mas a política de Macron tornou-se cada vez mais frágil a nível interno. Por outro lado, a França [perdeu influência] em África, dando espaço à Rússia, e isso acabou por afundar ainda mais o Presidente Macron.

DW África: E como é que está a situação dos imigrantes em França?

FBF: É verdade que existiu sempre racismo em França, existe também na Guiné-Bissau. Qualquer povo, quando tem problemas, sente que é por causa dos imigrantes, que lhes estariam a tirar o trabalho, embora não seja bem assim.

Agora, Marine Le Pen tem evitado comentários extremistas como o pai fazia; ela acabou por perceber que, continuando nessa linha, nunca chegaria à Presidência da República, e tentou moderar a sua comunicação.

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DW África: Acha que a extrema-direita vai ganhar estas eleições legislativas antecipadas e assumir a governação em França?

FBF: Tudo indica que sim, porque vemos a extrema-direita progredir a cada dia que passa.

Penso que, enquanto democrata, Emmanuel Macron fez bem [em convocar eleições antecipadas], porque ele perdeu terreno. Quando é assim, é melhor devolver a palavra ao povo.

Em França, o sistema é diferente da Guiné-Bissau: O Presidente da República é o chefe do Governo, e uma vez que o Governo é sancionado, devolve automaticamente a palavra ao povo para ver se ainda merece a sua confiança.

DW África: Esse crescimento da extrema-direita, de que fala, traduz-se no dia a dia? A comunidade imigrante sente-se mais ameaçada em França?

FBF: Não, no dia a dia não se vê. Mas é preciso ter cautela porque, com [a ascensão de] Marine Le Pen, nunca se sabe. Há tempos, [o ex-Presidente] Nicolas Sarkozy também teve esse tipo de política extremista contra os imigrantes, mas quando chegou ao poder, foi ele quem mais admitiu cartas de residente aos emigrantes. Oxalá que isso também aconteça com Marine Le Pen.

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Braima Darame Jornalista da DW África