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PolíticaSíria

Síria: Rebeldes anunciam queda do "tirano" Bashar al-Assad

Lusa
8 de dezembro de 2024

Grupos rebeldes anunciaram, num discurso na televisão pública, a queda do 'tirano' Bashar al-Assad, apelando aos cidadãos e combatentes que preservem as propriedades do Estado. Oposição já trabalha na transição do poder.

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Rebeldes na Síria
Rebeldes declararam Damasco 'livre' de Bashar al-Assad, após 12 dias de ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo Hayat Tahrir al ShamFoto: Mahmoud Hasano/REUTERS

Nove pessoas apareceram na televisão pública síria, tendo um deles lido um comunicado de imprensa, atribuído à “célula de operações para a libertação de Damasco”, que anunciava “a libertação da cidade de Damasco, a queda do tirano Bashar al-Assad, a libertação de todos os prisioneiros injustamente (detidos) nas prisões do regime”.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) anunciou também este domingo (08.12) que o Presidente sírio, Bashar al-Assad, deixou o país, perante a ofensiva rebelde.

"Assad deixou a Síria [e saiu] pelo aeroporto de Damasco, antes da retirada dos membros das forças armadas e de segurança" do local, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) o diretor da organização não-governamental, Rami Abdel Rahmane, referindo-se ao Presidente da Síria, que dirige o país há 24 anos.

O grupo fundamentalista islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que lidera uma coligação rebelde na Síria, tinha anunciado ter começado a entrar em Damasco.

"As nossas forças começaram a entrar em Damasco", declarou o HTS numa mensagem na plataforma Telegram, após ter conquistado outras cidades no país.

Bashar al-Assad
O Presidente sírio, Bashar al-Assad, deixou o país perante a ofensiva rebelde, segundo o Observatório Sírio dos Direitos HumanosFoto: Delil Souleiman/AFP

"Há muito tempo que esperávamos por este dia"

Tiros de celebração e invocações religiosas ouviram-se nos altifalantes das mesquitas, na capital do país, após acordar na madrugada deste domingo sob o controlo dos rebeldes.

Segundo testemunhas contatadas pela AFP, várias dezenas de pessoas se reuniram na Praça Umayyad, no centro de Damasco, para celebrar a queda do clã Assad, no poder há mais de meio século, em um país dilacerado por uma mortífera guerra civil desde 2011.

“Há muito tempo que esperávamos por este dia”, disse Amer Batha, que falou à AFP por telefone a partir da Praça Umayyad, num país governado com mão de ferro por um governo que reprimiu toda a dissidência e sufocou as liberdades públicas.

“Não posso acreditar que estou a viver este momento”, disse este sírio, desfeito em lágrimas: ‘Este é o início de uma nova história para a Síria’.

Noutra praça pública no centro de Damasco, dezenas de residentes pisaram uma estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar, enquanto gritos de “Allah Akbar” (“Deus é Grande”) soavam para expressar a alegria da multidão, depois de a derrubarem e esmagarem, de acordo com as imagens da AFPTV.

“A Síria é nossa, não pertence à família Assad”, gritavam homens armados de grupos rebeldes em algumas ruas de Damasco, disparando para o ar em sinal de alegria.

Queda do regime na Síria
"Início de uma nova história": Queda do regime foi celebrado nas ruas de Damasco Foto: Louai Beshara/AFP

Transição de poder

O mais alto órgão político da oposição síria no exílio, a Coligação Nacional Síria (CNFROS), anunciou entretanto estar a trabalhar para concluir a transferência do poder no país para um órgão governamental de transição com pleno poder executivo".

“A Coligação Nacional confirma à comunidade internacional que continua a trabalhar para completar a transferência de poder para um órgão governamental de transição com plenos poderes executivos, para alcançar uma Síria livre, democrática e pluralista”, afirmou num comunicado.

O CNFROS declarou também o seu “interesse na segurança dos países vizinhos e na não interferência dos sírios nos países vizinhos”.

Na nota refere ainda que “espera estabelecer parcerias estratégicas com países da região e do mundo com o objetivo de reconstruir novamente a Síria, para todo o seu povo, independentemente da sua etnia, religião ou seita”.

Enfraquecimento do apoio da Rússia e Irão

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE) considerou que a queda de Bashar al-Assad na Síria é "positiva" e mostra a fraqueza do apoio russo e iraniano.

“O fim da ditadura de Assad é um desenvolvimento positivo e há muito esperado. Também mostra a fraqueza dos apoiantes de Assad, a Rússia e o Irão”, disse Kaja Kallas numa publicação na rede social X.

Kallas acrescentou que a prioridade da UE é “garantir a segurança” na região.

Comprometendo-se a trabalhar com “todos os parceiros construtivos” na Síria e, de forma mais ampla, na região, a responsável europeia alertou para o processo de reconstrução da Síria, temendo que seja longo e difícil.

“O processo de reconstrução da Síria será longo e complicado e todas as partes devem estar preparadas para se envolverem de forma construtiva”, escreveu.

Rússia, China e Irão manifestaram preocupação pelo fim do regime, enquanto a maioria dos países ocidentais e árabes se mostrou satisfeita por Damasco deixar de estar nas mãos do clã Assad.

No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.

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