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PGR quer "maior celeridade" na extradição de Manuel Chang

Lusa | DW (Deutsche Welle)
17 de maio de 2023

A procuradora-geral de Moçambique, Beatriz Buchili, disse hoje, na Praia, que a extradição da África do Sul do ex-ministro das Finanças Manuel Chang deve acontecer com a "maior celeridade", para o interesse do país.

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Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet

"Claro que esperamos [receber] é nosso cidadão, temos interesses processuais e é por isso mesmo também que nós estamos a pedir a extradição do cidadão Manuel Chang para o nosso país, para o interesse dos processos moçambicanos", respondeu a procuradora-geral da República (PGR), na cidade da Praia, onde se encontra de visita oficial, a convite do seu homólogo cabo-verdiano, José Luís Landim. 

Em 20 de dezembro, os advogados sul-africanos da PGR de Moçambique avançaram à Lusa a intenção de solicitar a reconsideração do seu pedido de recurso contra a extradição de Manuel Chang para os EUA no âmbito das dívidas ocultas.

Beatriz Buchili, Procuradora-Geral da República de Moçambique
Beatriz Buchili, Procuradora-Geral da República de MoçambiqueFoto: Roberto Paquete/DW

Em causa está o pedido de interposição de recurso de Maputo que foi rejeitado pelo Supremo Tribunal de Recurso (SCA) da África do Sul, "por não haver razoável perspetiva de êxito no recurso e não existir outra razão imperiosa para o julgamento do recurso" no âmbito do processo das dívidas ocultas, em Moçambique, segundo a ordem judicial.

"E para isso estamos na expetativa que se decida na maior celeridade, para o bem do processo e mesmo para proteção dos direitos do próprio cidadão", completou Beatriz Buchili.

Novo requerimento judicial

Na altura, o advogado sul-africano Busani Mabunda disse que estavam a "aguardar instruções do cliente [PGR Moçambique], mas o caminho a seguir é submeter um pedido ao presidente do Supremo Tribunal de Recurso para reconsiderar esta decisão".

"Se não merecer aprovação, vamos levar o caso ao Tribunal Constitucional [da África do Sul]", adiantou o advogado. E sublinhou que, em junho, o Tribunal Constitucional, a mais alta instância da Justiça na África do Sul, "disse que não era do interesse da justiça ouvirem o caso naquela fase", o que significa que "o que estavam a dizer era esgotem todos os vossos recursos, ou caminhos, antes de voltarem a nós", sublinhou.

Decisão sobre extradição de Chang "não surpreendeu"

Nesse sentido, Busani Mabunda explicou que o novo requerimento judicial será submetido no início do próximo mês de janeiro ao vice-presidente do Supremo Tribunal de Recurso da África do Sul, Xola Petse, que preside atualmente interinamente àquela instância judicial.

O advogado sul-africano da PGR de Moçambique avançou ainda que o Governo sul-africano se "comprometeu" perante o Supremo Tribunal de Recurso, durante o recente processo de requerimento judicial, a "não extraditar" o ex-ministro das Finanças de Moçambique Manuel Chang enquanto decorrer o processo legal na África do Sul, de contestação da sua extradição para os Estados Unidos da América, como foi ordenada em novembro do ano passado pelo tribunal provincial de Gauteng. 

"O Ministério da Justiça [da África do Sul] assumiu o compromisso de que não irá extraditar o Sr. Chang para os EUA até que todos os processos legais no país tenham sido esgotados", referiu o advogado Busani Mabunda à Lusa.

Nos últimos quatro anos, o ex-governante moçambicano, que é tido como a "chave" no escândalo das chamadas dívidas ocultas, enfrentou na África do Sul, sem julgamento, dois pedidos concorrenciais dos Estados Unidos e de Moçambique para a sua extradição do país.

Detido desde 2018 na África do Sul

Aos 63 anos, Manuel Chang foi detido em 29 de dezembro de 2018 no Aeroporto Internacional O. R. Tambo, em Joanesburgo, a caminho do Dubai, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA em 27 de dezembro, pelo seu presumível envolvimento no chamado processo das dívidas ocultas no vizinho país lusófono.

Chang foi ministro das Finanças de Moçambique durante a governação de Armando Guebuza, entre 2005 e 2010, e terá avalizado dívidas de 2,7 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros) secretamente contraídas a favor da Ematum, da Proindicus e da MAM, empresas públicas referidas na acusação norte-americana, alegadamente criadas para o efeito nos setores da segurança marítima e pescas, entre 2013 e 2014.

No passado dia 7 de dezembro, 11 dos 19 arguidos no processo das dívidas ocultas foram condenados a penas de prisão entre 10 e 12 anos e três deles foram ainda condenados a pagar uma indemnização ao Estado equivalente a 2,6 mil milhões de euros.

Beatriz Buchili também prometeu hoje partilhar os documentos ainda a tempo de evitar a anulação do caso das dívidas ocultas em curso no Tribunal Comercial de Londres. "Eu não sei se está em risco, porque neste momento estamos numa tramitação do processo numa fase interlocutória de divulgação de documentos e nós estamos a trabalhar nesse sentido", afirmou.

Em março, um juiz britânico admitiu anular o caso das dívidas ocultas em curso no Tribunal Comercial de Londres devido ao incumprimento de Moçambique na partilha de documentos relevantes na preparação para o julgamento em outubro.