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ConflitosMyanmar

Myanmar tem dia mais mortal desde o golpe

Reuters | AFP
27 de março de 2021

Dezenas de pessoas foram mortas numa nova repressão aos manifestantes em Myanmar este sábado. O líder da junta militar prometeu novas eleições.

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Myanmar Mandalay | Proteste gegen Militärregierung
Foto: REUTERS

As forças de segurança de Myanmar mataram quase 90 manifestantes pró-democracia, este sábado (27.03), segundo relatos de um grupo de monitorização.

Foi o dia mais sangrento desde que os militares tomaram o poder. O grupo de monitorização local Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos disse que, "ao início da noite" de sábado, o número de mortos em todo o país era de 89 pessoas.

Anteriormente, o portal de notícias Myanmar Now tinha noticiado dez mortes na segunda maior cidade do país, Mandalay, nove na região vizinha de Sagaing e 16 na capital comercial Yangon.

ONU: Violência chocante

A ONU disse hoje estar "chocada" com as dezenas de mortes, incluindo crianças, na repressão aos manifestantes pró-democracia, que protestam hoje em várias cidades de Myanmar.

"Ainda não fomos capazes de confirmar esta informação de maneira independente, mas recebemos vários relatórios credíveis de muitas partes do país - pelo menos 40 locais diferentes -- que relatam que unidades policiais e militares responderam a manifestações pacíficas com força letal", disse à AFP um porta-voz da Alta Comissariada das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.

Segundo a Alta Comissária, "até agora, o número de mortos aumentou para 83-91 pessoas mortas e há centenas de feridos. Há quatro relatos de crianças que foram mortas, incluindo pelo menos um bebé".

Ativistas pró-democracia convocaram uma nova ronda de manifestações no "Dia do Exército".

Ravina Shamdasani
Ravina ShamdasaniFoto: picture-alliance/Fatih Erel/Anadolu Agency

Um gigantesco desfile militar é organizado todos os anos neste dia em frente ao chefe do exército, agora chefe da junta governante, o general Min Aung Hlaing.

A violência teve início quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes.

Essa "violência torna o golpe ainda mais ilegítimo e agrava a culpabilidade de seus líderes", escreveu no Twitter a porta-voz da ONU Ravina Shamdasani.

Também a Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) na Birmânia, a União Europeia e a Grã-Bretanha já tinham condenado hoje a Junta Militar por "matar civis desarmados".

Um ativista em Mandalay disse à DW que os soldados estavam a entrar nos bairros vestidos como civis "com armas e armamento escondidos".

"Eles não estão apenas a reprimir os manifestantes", disse o homem que não quis ser identificado. "Eles estão agora a entrar no bairro e a disparar e a bater e a pilhar tudo o que está à sua vista".

"Todos os cantos das ruas estão a ser incendiados", descreveu.

Dia mortal

A nova repressão aconteceu quando os militares de Myanmar realizaram o desfile anual do "Dia do Exército", aproveitando a ocasião para condenar a oposição e prometer eleições.

"O Exército procura dar as mãos a toda a nação para salvaguardar a democracia", disse o general Min Aung Hlaing num discurso transmitido na televisão estatal após o desfile na capital, Naypyitaw.

O desfile foi uma demonstração de força, com veículos militares, poder de fogo e soldados a marchar em formação.

O vice-ministro da Defesa russo Alexander Fomin também participou no evento. Na sexta-feira (26.03), Fomin encontrou-se com líderes superiores dos militaes e ofereceu o seu apoio.

General adverte manifestantes

Este sábado, o genereal Min Aung Hlaing reiterou uma promessa de realizar eleições, sem definir uma data.

Ele afirmou ainda que as autoridades queriam proteger as pessoas e restaurar a paz, ao mesmo tempo que advertiu contra novos protestos.

"Atos violentos que afetam a estabilidade e a segurança a fim de fazer exigências são inadequados", disse num discurso televisivo, na sexta-feira à noite.

"Deveriam aprender com a tragédia de horríveis mortes anteriores que podem estar em perigo de levar um tiro na cabeça e nas costas" ameaçou.

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