Moçambique "pode aprender" com as eleições no Senegal

A plataforma de monitorização eleitoral DECIDE de Moçambique foi convidada para observar as presidenciais de domingo (24.03) no Senegal. O balanço desta primeira observação internacional é positivo e há várias lições a tirar, tanto para Moçambique como para outros países africanos, diz em entrevista à DW Wilker Dias, que acaba de chegar de Dakar.

O analista e observador eleitoral destaca a "atuação exemplar" da polícia, a contagem de votos que decorreu sem cortes de energia e sem a proibição de marchas da oposição. Resumindo: Afinal, é possível", sublinha Wilker Dias, que gostava também que Moçambique adotasse o modelo de divulgação de resultados em tempo real.

DW África: Acabado de chegar do Senegal, o que traz na bagagem?

Wilker Dias (WD): Nós recebemos um convite para participar, e foi uma grande surpresa. Esta primeira experiência foi muito boa para perceber um pouco como é que outras plataformas da sociedade civil, noutros países, têm trabalhado.

DW África: Que lições tira especificamente para Moçambique, que também se prepara para ir às urnas em outubro? Lembro-me que escreveu, no Twitter, que, na hora de contar os votos, não houve cortes de energia, não houve proibição das marchas da oposição... Portanto, é possível ter este tipo de eleições?

WD: Sim, é possível termos esse tipo de eleições em África. A [grande] participação da população foi um fator preponderante, que os partidos políticos souberam explorar muito bem, principalmente os partidos da oposição. Apelou-se muito às mulheres senegalesas que participassem no pleito eleitoral, e elas responderam a esse apelo. A oposição e outros setores focaram também os jovens…

Além disso, a atuação da polícia foi exemplar. Em Dakar, a cidade onde eu estive, havia um aparato policial diferente daquele a que assistimos em Moçambique em época de eleições, quando há um aumento considerável dos polícias nas estradas. A questão da eletricidade [também foi diferente], e a contagem dos votos e a fixação dos resultados nos editais foram feitas de forma um pouco diferente de Moçambique.

DW África: Este modelo de contagem dos votos seria um modelo ideal para as eleições em Moçambique?

WD: Acredito que sim. E nós temos condições para tal, sem sombra de dúvidas. No caso concreto do Senegal, há essa demonstração de que com aquela flexibilidade, com a fixação dos editais a tempo e horas, é possível termos os resultados em tempo real. Se houver um barramento da fixação dos editais por parte dos presidentes de mesa ou de outros elementos, isso [prejudica] a divulgação dos resultados em tempo real.

É possível termos um sistema semelhante ao do Senegal, e, em menos de 12 horas, ficarmos a saber quem venceu as eleições. 

DW África: Esta foi a primeira vez que um candidato da oposição venceu à primeira volta. Este resultado no Senegal gera esperança noutros países africanos?

WD: [Sim,] mas tudo depende de fatores que outros países africanos ainda não observaram. Por exemplo, os partidos da oposição ainda não conseguiram perceber que a solução pode estar mesmo no seio da juventude. Ainda há uma falta de confiança de que a juventude deve ter uma palavra a dizer.

No caso concreto de Moçambique, acredito que um candidato jovem pode trazer uma mudança significativa. Hoje em dia, os jovens anseiam por integrar um movimento de desenvolvimento, querem fazer parte de um crescimento histórico, dentro desse espírito de mudança. Mas não é isso que acontece, eles são marginalizados.

Esse foi um aspeto que pesou muito no Senegal; parecia haver uma espécie de luta geracional.