Faye: "O povo senegalês escolheu romper com o passado"
26 de março de 2024Mesmo sem resultados finais oficias, Diomaye Faye discursou nesta segunda-feira (25.03) como o novo Presidente do Senegal, dizendo que "o povo senegalês escolheu romper com o passado, para dar corpo às imensas esperanças suscitadas pela nossa visão da sociedade".
"Comprometo-me a governar com humildade e transparência e a lutar contra a corrupção a todos os níveis. Comprometo-me a dedicar-me plenamente à reconstrução das nossas instituições e ao reforço das bases do nosso modo de vida em comum", prometeu o Presidente eleito do Senegal.
Com mais de 90% dos votos contabilizados, Faye, o candidato antissistema, soma cerca de 54% da preferência dos 7 milhões de senegaleses chamados a votar no passado domingo, deixando para trás o maior rival nesta corrida presidencial, Adamou Ba, que recolheu 36%.
Adversários políticos reconheceram a vitória de Faye
Apesar da resistência nas primeiras horas pós-votação, Amadou Ba, reconheceu a vitória do opositor.
Logo na manhã pós-eleitoral, o Presidente cessante Macky Sall congratulou Diomaye Faye pela vitória, escrevendo nas redes sociais que "esta é uma vitória da democracia senegalesa".
Aquele que será o novo Presidente do Senegal devolveu o aparente elogio ao Presidente cessante, pela realização transparente das eleições presidenciais.
"Saúdo a atitude do Presidente Macky Sall, cuja vigilância e empenho permitiram garantir uma eleição livre, democrática e transparente, assegurando um resultado reconhecido por todos os protagonistas. Ao mesmo tempo que lamento a dor e o sofrimento dos últimos anos, as vidas que foram destruídas e as que se perderam, gostaria de reconhecer e saudar o apego do nosso povo à democracia, à justiça e à igualdade", afirmou.
A sociedade civil também começa a pronunciar-se sobre esta eleição. Ababacar Fall, diretor da ONG GRADEC e observador eleitoral, afirma que estes resultados traduzem o desejo profundo do povo senegalês por uma mudança.
"À luz de tudo isto, das injustiças, das detenções, dos acontecimentos, das manifestações que foram brutalmente reprimidas com a sua quota-parte de mortos. Há uma bipolarização que começou, digamos, a tomar forma há muito tempo e um desejo do povo senegalês, um desejo profundo de avançar para a mudança. Foi a isso que assistimos. Foi por isso que senti, desde o início, que deveríamos esperar, digamos, uma eleição presidencial referendária", avalia o observador da sociedade civil.
Quem é Bassirou Diomaye Faye?
De inspetor fiscal, passando por recluso, a Presidente do Senegal. Este foi o percurso de Bassirou Diomaye Faye. Nascido na década de 80, em Ndiaganiao, no centro-oeste do Senegal. Antes de entrar para a política, trabalhou como inspetor fiscal no departamento de impostos e propriedades do Governo, onde foram fundamentais para a formação de um sindicato e onde conheceu Ousmane Sonko, o rosto da oposição senegalesa.
Entretanto, volvidos alguns anos, Faye foi detido em abril de 2023, sob a acusação de difundir notícias falsas, desacato ao tribunal e difamação de um organismo constituído, por causa de uma publicação nas redes sociais. Três meses depois, foi a vez de Sonko ser detido por um crime sexual, mas também por incitamento à insurreição, associação criminosa no âmbito de um projeto terrorista e atentado à segurança do Estado.
Faye e Sonko foram libertados no dia 14 de março, dias antes da votação, após a aprovação de uma lei de amnistia este mês.
Bassirou Diomaye Faye apresentou-se como uma figura antissistema, tendo sido a figura escolhida pelo Patriotas Africanos do Senegal para o Trabalho, a Ética e a Fraternidade, para representar a oposição, perante a impossibilidade de Sonko concorrer.
Quis a ironia do destino que Faye, no dia em que celebrou 44 anos de vida, fosse pré-anunciado como o novo Presidente do Senegal. Ao discursar esta segunda-feira ao país, fez questão de lembrar o nome de Sonko e não esqueceu o fardo social, causado pela crise política nos últimos meses:
"Esta eleição teve lugar num contexto marcado por uma crise pré-eleitoral que custou vidas, deixou muitos feridos e viu muitos patriotas serem presos. Pretendemos virar esta página, reconciliar os corações, reconciliar o povo senegalês, e começar a trabalhar sem descanso para marcar e realizar as esperanças suscitadas pela minha eleição e pelo projeto que levo por diante. Reservo uma menção especial para um homem. Acho que não preciso de o mencionar. É o Presidente Ousmane Sonko."
Cenário internacional
Diomaye Faye aproveitou também para se dirigir à CEDEAO e à comunidade internacional, afirmando que o Senegal será um "amigo e aliado seguro e fiável" para os países dispostos a estabelecer uma "cooperação virtuosa, respeitosa e mutuamente produtiva".
Já chegaram várias reações um pouco de todo o mundo. Da lusofonia, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, felicitou Faye pela vitória, desejando votos de sucesso para o seu mandato. Da Europa, chegou a felicitação do Presidente de França, Emmanuel Macron, que através das redes sociais manifestou estar ansioso por trabalhar com o novo Presidente do Senegal. Já os Estados Unidos da América reagiram a esta eleição como uma vitória da democria no país africano.
Aconteça o que acontecer, fez-se história nestas presidenciais do Senegal. Bassirou Diomaye Faye tornar-se-á no mais jovem Presidente do Senegal, o quinto da história deste país da África Ocidental com 18 milhões de habitantes. E a confirmar-se os resultados provisórios, será a primeira vez, em 12 eleições presidenciais por sufrágio universal, que um candidato da oposição vence à primeira volta no Senegal.