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Moçambique: Falta gesso nos hospitais de Manica

Bernardo Jequete (Manica)
5 de julho de 2024

Hospital Provincial de Chimoio e outras unidades hospitalares na província de Manica, centro de Moçambique, enfrentam a falta de gesso há mais de três meses. Utentes queixam-se do preço do produto nas farmácias privadas.

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Hospital Provincial de Chimoio
Hospital Provincial de ChimoioFoto: Bernardo Jequete/DW

A falta de gesso medicinal nos hospitais da província de Manica, centro de Moçambique, tem estado a criar embaraços enormes no atendimento de pacientes que, vezes sem conta, são obrigados a pedir dinheiro emprestado para custear a compra do gesso.

É o caso de António José Pinto. Depois do acidente de viação que sofreu no distrito de Gondola não teve outra saída. 

"Tive de comprar gesso porque aqui no hospital não tem. Comprei cada rolo a 500 meticais (cerca de 7 euros) e gastei três mil meticais (cerca de 43 euros). E não tinha dinheiro. Tive de procurar alguém para me emprestar para conseguir comprar o gesso",  lamentou o paciente.

Aos mais desfavorecidos não resta outra alternativa se não ficar com a lesão desprotegida, apenas com ligadura, uma prática não recomendada pelos médicos.

Aos mais desfavorecidos, em muitos casos, não resta outra alternativa se não ficar com a lesão desprotegida, apenas com ligadura
Aos mais desfavorecidos, em muitos casos, não resta outra alternativa se não ficar com a lesão desprotegida, apenas com ligaduraFoto: Bernardo Jequete/DW

Utentes apelam por solução

Por isso, apelam aos responsáveis do setor que resolvam a situação que tende a agravar-se um pouco por todo o país. 

"Estamos a pedir para, pelo menos, nos apoiarem nessa parte do gesso, porque um acidente é algo imprevisível e pode acontecer de repente numa altura em que a pessoa não tem dinheiro para comprar gesso", apelou António José Pinto.

A crescente procura do produto tem gerado escassez nas farmácias privadas locais, informou em Chimoio a farmacêutica Oldevina Sitoe.

"A procura é maior considerando que é um material usado em unidades hospitalares e nós não temos. Em média passam por aqui mais de 20 pacientes à procura da ligadura gessada", explicou a farmacêutica. 

Rachid Cate é outro paciente que também foi forçado a comprar a ligadura gessada. Disse ter encontrado o gesso através de contactos feitos pelos técnicos de saúde do Hospital Provincial de Chimoio.

"O primeiro gesso paguei 4200 meticais (cerca de 60 euros), e este que eu tenho agora custou-me 3200 (cerca de 46 euros). Eles dizem que não há mas sempre aparece alguém com contactos, fazem ligações e, após o pagamento, trazem o gesso", contou o paciente.

Hospital Provincial de Chimoio, em Manica
Chefe dos serviços de urgência e reanimação no Hospital Provincial de Chimoio assume que o hospital tem de recorrer a alternativas não convencionaisFoto: Bernardo Jequete/DW

Hospital recorre a alternativas não convencionais

O chefe dos serviços de urgência e reanimação no Hospital Provincial de Chimoio, Mbyamba Tshipuka, reconhece a situação e assume que o hospital usa alternativas não convencionais.

"Estamos a enfrentar essas dificuldades porque o nosso stock acabou. Mas estamos a tentar gerir com algumas medidas alternativas para conseguir responder às dificuldades que os pacientes estão a enfrentar. Usamos algumas caixas e ligaduras e depois de sete dias reavaliamos o paciente", disse.

Tshipuka refuta a tese de que o hospital pede aos pacientes para adquirir o produto fora do hospital garantindo que, em casos de maior gravidade, mandam o paciente para unidades hospitalares melhor apetrechadas.

"Se é um paciente que não está a conseguir imobilizar o membro por causa da falta de gesso, nós recorremos às unidades sanitárias que tem essas condições, como o Hospital Central da Beira,  e aí recebe o tratamento adequado", sublinha.

Sobre uma nova remessa de gesso, não há sequer previsões de chegada.