Moçambique: Chido e conflito pós-eleitoral afetam Educação
3 de fevereiro de 2025"Já remetemos aos três distritos que tiveram mais danos, refiro-me a Mecúfi, Chiúre e Metuge, material de construção. Mil chapas de zinco, 300 e poucos barrotes de dois tamanhos, pregos para repor as salas de aulas. No distrito de Chiúre, já aconteceu, Mecúfi ainda estão a trabalhar e Metuge também prometem trabalhar", explicou à Lusa Ivaldo Quincaderte, diretor provincial de Educação em Cabo Delgado.
O ciclone Chido destruiu em dezembro cerca de 330 escolas e três serviços distritais de educação na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, segundo dados oficiais divulgados anteriormente pelo governo provincial, situação que afeta mais de 220 mil alunos.
Face a este cenário, segundo Ivaldo Quincaderte, está ainda prevista a construção de 105 espaços temporários nos distritos com mais pessoas afetadas pelo ciclone Chido, estando neste momento em processo de concurso para o efeito.
"Está em vista a construção de 105 espaços temporários de aprendizagem nestes três distritos mais assolados. Este processo, importa dizer, que ainda não se iniciou, está em processo realmente de concurso, mas está muito avançado e muito brevemente vai iniciar-se nos três distritos a construção de espaços de aprendizagem", afirmou.
Contudo, enquanto se aguarda pelos concursos para as empreitadas, já decorre a distribuição de lonas para a cobertura das salas, tendo em conta a presente época das chuvas, que decorre até abril.
"Enviámos lonas para alguns distritos, principalmente Chiúre, para poder cobrir as salas em que não for possível de momento criar espaço de aprendizagem", sublinhou.
Aulas ao relento em Nampula
Mais de 23.500 alunos da província de Nampula, a mais populosa de Moçambique, iniciam o ano letivo a estudar ao relento, depois da destruição e vandalização de 64 escolas nas manifestações pós-eleitorais.
De acordo com o porta-voz da direção provincial de Educação, Faruk Carim, a destruição afetou escolas primárias e secundárias em quase todos os 23 distritos da província, num total de 137 salas de aulas vandalizadas ou incendiadas nestes protestos, essencialmente em dezembro, após o anúncio dos resultados das eleições gerais de 09 de outubro.
O setor da Educação naquela província do norte de Moçambique, acrescentou Faruk Carim, em declarações à Lusa, perdeu ainda quatro serviços distritais, cinco blocos administrativos, 60 casas de professores, bem como 885 carteiras, numa província que sempre contou com turmas numerosas, com uma estimativa de 23.579 alunos a iniciarem o ano letivo de 2025 a estudar ao relento.
"Para as salas que não conseguirmos fechar [cobertura], as crianças vão estudar ao relento. É preciso tomar em consideração que quem foi destruir foi o povo, e agora temos como desafio repor. O setor tem como desafio fazer novas construções e não reabilitar aquilo que já foi destruído, ou seja, é importante traçarmos prioridades se vamos lutar para as novas construções ou ter de reabilitar aquilo nós tínhamos e foi destruído", apontou o porta-voz.
Mais de 23.000 alunos afetados
Faruk Carim acrescentou que, neste cenário, Nampula terá cerca de 3.000 turmas a estudar ao relento, contra as cerca de mil em 2024, situação agravada pela época chuvosa, que se prolonga até abril.
"Nós temos turmas numerosas e estamos a falar de 23 mil alunos que serão diretamente afetados e isso afeta igualmente o sistema na sua espinha dorsal fazendo com que o número de turma ao relento aumente (...). Em dias de chuva os alunos vão ficar sem aulas, é doloroso quando a gente percebe que são os próprios beneficiários que foram lá destruir", lamentou.
O diretor da Escola Secundária 22 de Agosto, em Nampula, Quina de Almeida, explicou à Lusa que o seu estabelecimento de ensino conta com 28 salas de aula, mas 17 foram vandalizadas nos protestos pós-eleitorais, o que poderá afetar 8.438 alunos da 7.ª à 12.ª classe.
No mesmo recinto, foi destruído o bloco administrativo, uma biblioteca recém-inaugurada, assim como o local onde funcionava o seu gabinete.
"A informação de que a escola estava a ser vandalizada recebi com muito desgosto. Nós tínhamos oito salas de aula novas, que não tinham nem sequer cinco meses, partiram e levaram todos os equipamentos, como cinco computadores, três máquinas industriais fotocopiadoras", lamentou, acrescentando: "Como puderam ver, estamos a funcionar debaixo de cajueiros".
Sem gabinete e blocos administrativos, as atividades de matrícula acontecem agora debaixo de um cajueiro e em dias de chuva tentam procurar conforto nas salas de aula onde nem carteiras existem, porque foram roubadas.
O mesmo cenário é visível na Escola Primária Completa de Mutotope e Secundária de Nampaco, ambas localizadas na periferia da cidade de Nampula, onde os manifestantes vandalizaram blocos administrativos, salas de aula, cantinas, bibliotecas e até a fonte de abastecimento de água.
Dos 23 distritos que viram as suas escolas destruídas, só em Lalaua foram afetadas 16, seguindo-se Ribàué e a cidade de Nampula com oito, Moma com sete, Liúpo com seis e Malema com cinco, numa altura em que o setor da Educação na província já tinha em construção cerca de 330 novas salas.
"Estamos agora a fazer um trabalho técnico, porque as destruições variam de distrito para distrito e sala a sala. Neste momento está uma equipa no terreno a fazer o levantamento de custos", disse ainda o porta-voz do setor na província de Nampula.
Carim alerta que o tempo para a requalificação das escolas destruídas é ainda indeterminado, dependendo da obtenção de recursos.