Guiné-Bissau: Mesquita no parque Mbatonha causa contestação
5 de janeiro de 2023As declarações do Presidente da Guiné-Bissau deixam a sociedade civil e ativistas ambientais indignados. No seu balanço de 2022, Umaro Sissoco Embaló comentou a polémica que aquece o debate no seio dos guineenses: a construção de escola e mesquita no parque Mbatonha, um lugar de repouso, alimentação e reprodução de cerca de 125 espécies de aves, segundo o Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IABP).
"A questão de Mbatonha penso que não é uma questão de desígnio nacional como as pessoas querem politizá-la. Fui abordado por muita gente, mas o que eu disse é que está em curso uma investigação do Ministério Público e Polícia Judiciária sobre o financiamento feito pela União Europeia", disse o chefe de Estado.
A transformação do parque Mbatonha tem sido criticada por ambientalistas, que consideram a iniciativa das autoridades "crime ambiental e descaso social".
Mas Sissoco Embaló respondeu da seguinte forma: "O interesse nacional se sobrepõe ao interesse ambiental. Lembro-me que quando éramos crianças ainda fiz aulas de ginástica atrás da Sé Catedral onde estão aquelas obras. Jogávamos lá, era um espaço de lazer de crianças, mas fez-se lá uma construção. Onde está o problema?", questionou.
Umaro Sissoco Embaló anunciou assim a construção de uma mesquita, escola e centro de saúde no atual parque, em Bissau, e pediu responsabilidade no tratamento de questões ligadas à religião.
Indignação social
As declarações do Presidente provocaram uma onda de contestação nas redes sociais.
O ativista Sumaila Jaló é uma das vozes contestatárias:
“Ninguém está contra a construção de mesquita. Eu sou muçulmano praticamente. A Sé Catedral de Bissau foi construída no tempo colonial e não está construída em zona húmida. A sociedade não está a reclamar a construção de mesquita, não. Porquê construir mesquita no parque Mbatonha? A questão essencial, que o Presidente denunciou, é que na origem do projeto está a instrumentalização religiosa. É isso que o Presidente quer fazer”, comentou.
Em protesto contra a decisão do Presidente guineense, as organizações da sociedade civil agendaram para esta quinta-feira (05.01), uma vigília, diante da sede de maior central sindical do país, a União Nacional Dos Trabalhadores Da Guiné (UNTG). O lema é "não matem Mbatonha. É o nosso pulmão". Mas Sissoco já disse que não vai permitir qualquer aproveitamento político com base no parque Mbatonha.
O chefe de Estado avisou que "haverá consequências para quem lá for fazer manifestação".