Combates na RDC continuam após fracasso da cimeira de Luanda
16 de dezembro de 2024Os combates no leste da República Democrática do Congo (RDC)entre rebeldes do movimento M23, apoiados pelo Ruanda, e o exército congolês, recomeçaram esta segunda-feira (16.12), no dia seguinte à fracassada cimeira entre os Presidentes dos dois países em Luanda.
De acordo com fontes militares e locais, o exército congolês perdeu o controlo de Matembe, uma cidade na província de Kivu do Norte, na rota que conduz ao importante cruzamento comercial de Butembo.
No domingo, violentos confrontos tinham já colocado as Forças Armadas Congolesas (FARDC) contra o M23 em Matembe, que se situa a cerca de 150 km a norte da capital provincial de Goma.
Sem acordo, sem cimeira
Os confrontos recomeçaram esta manhã "nas colinas entre Matembe e a cidade vizinha de Vutsorovya", segundo John Mahangaiko, porta-voz de uma das milícias pró-Kinshasa presentes na região, entrevistado pela agência noticiosa francesa AFP.
Uma fonte militar congolesa confirmou que as FARDC tiveram de "retirar".
No domingo, o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, e o Presidente ruandês, Paul Kagame, deviam encontrar-se numa cimeira organizada em Luanda pelo Chefe de Estado angolano, João Lourenço, o mediador designado pela União Africana (UA) para o conflito entre Kigali e Kinshasa.
Estava prevista a apresentação de um acordo "para o restabelecimento da paz e da estabilidade no Leste da RDC", mas as duas partes não conseguiram chegar a acordo sobre todos os termos, o que levou ao cancelamento de última hora da cimeira de chefes de Estado.
Região em conflito há três décadas
O leste da RDC, rico em minerais, é palco de violência há 30 anos. Desde novembro de 2021, o M23 ("Movimento 23 de março"), um grupo armado apoiado por Kigali e pelo seu exército, apoderou-se de vastas extensões de território no leste da RDC.
A capital da província de Kivu do Norte, Goma, com mais de um milhão de habitantes e quase um milhão de deslocados de guerra amontoados em campos, está rodeada de rebeldes e unidades do exército ruandês.
No final de outubro, a RDC e o Ruanda aprovaram um documento que estabelece, no papel, os termos da partida dos soldados ruandeses e a neutralização pelo exército congolês das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR).
Este grupo armado, formado por antigos altos responsáveis hutus do genocídio dos tutsis no Ruanda em 1994, depois refugiados na RDC, e que combate o M23 tal como uma nebulosa de milícias pró-Kinshasa no leste, constitui, aos olhos de Kigali, uma ameaça permanente.
O papel de Luanda
Angola tem acolhido desde 2020 várias cimeiras para alcançar a paz na região, no quadro dos esforços regionais promovidos pelas organizações em que está inserida, como a Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e a União Africana (UA), e pretende dar um novo fôlego às rondas negociais para pôr fim às tensões entre os dois países.
O Presidente angolano, João Lourenço, na qualidade de mediador indicado pela UA, tem tentado alcançar um cessar-fogo, apelando ao diálogo entre as partes envolvidas e promovendo iniciativas para estabilizar a região dos Grandes Lagos, entre as quais o Processo de Luanda.
Embora as autoridades ruandesas neguem a alegada colaboração de Kigali com o M23, num relatório divulgado em julho, investigadores do Conselho de Segurança das Nações Unidas declararam haver 3.000 a 4.000 soldados ruandeses a combater ao lado dos rebeldes do M23 contra o exército congolês no leste da RDC.
Por sua vez, o Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de cooperar com os rebeldes das FDLR, fundadas em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e por outros ruandeses (hutus) exilados na RDC para recuperar o poder político no seu país, colaboração também confirmada pela ONU.
Desde 1998, o leste da RDC está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de paz da ONU no país.