Os mercenários que defendem a RDC dos rebeldes do M23
15 de dezembro de 2024Romuald é coronel. Serviu no exército francês durante 36 anos. O para-quedista foi destacado para o Mali, Senegal, Togo, Afeganistão e Kosovo. Agora está a combater no leste da República Democrática do Congo (RDC), onde é responsável por uma missão delicada em Goma, a capital da província de Kivu do Norte, rica em minerais.
"Definimo-nos como camaradas da RDC e estamos a lutar por uma causa legítima, justa e nobre", comenta Romuald à DW.
Romuald dirige uma equipa de 20 membros da empresa búlgara de segurança privada Agemira, responsável por aconselhar o exército congolês sobre a forma de combater a milícia M23 e de pôr ordem nas suas fileiras.
Para além da Agemira, o Governo do Presidente Félix Tshisekedi também contratou a empresa militar romena RALF, que tem cerca de 800 combatentes que formam um cordão de segurança à volta de Goma e da cidade de Sake.
De acordo com o coronel reformado, o salário dos mercenários varia entre 4.700 e 5.600 euros por mês, consoante a sua patente.
Onesphore Sematumba, analista congolês do International Crisis Group em Nairobi, considera que a desigualdade de tratamento entre soldados locais e estrangeiros é "um pouco racista".
"Os oficiais estrangeiros ficam em hotéis ou moradias e deslocam-se em veículos militares novos, enquanto os soldados congoleses têm de andar a pé. Este tipo de coisas desperta ciúmes", frisa.
Sematumba dá mérito aos mercenários por terem defendido Goma e Sake até agora. Mas ele observou que eles não podem parar o avanço do M23 na província rural.
Romuald nega que ele e os seus "camaradas sejam mercenários e que estejam na RDC pelo dinheiro".
As práticas comerciais de muitas empresas de segurança privada não são transparentes.
A Human Rights Watch acusa a Africa Corps (antigo Grupo Wagner), da Rússia, e a Academi (antiga Blackwater), dos EUA, de crimes violentos.
Ainda não há provas de que a Agemira ou a RALF estejam a cometer crimes ou a fazer negócios com matérias-primas, diz o analista Sematumba, para quem: "o contexto é diferente do da Wagner".
"Os mercenários no Congo não estão na linha da frente ou nas regiões mineiras. Não têm oportunidade de equiparar os rebeldes a civis e de os matar", concluiu.