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SaúdeRepública Democrática do Congo

Combater o Mpox nos campos de refugiados da RDC

Zanem Nety | Silja Fröhlich
29 de agosto de 2024

Surto de mpox está a alastrar-se pela África Subsaariana, sendo os campos de refugiados da República Democrática do Congo uma preocupação. ONG e Governo tentam conter a crise, numa altura em que se apela à ajuda mundial.

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Caso de mpox no Kivu do Norte, RDC
O vírus mpox está a propagar-se rapidamenteFoto: Ruth Alonga/DW

A luta contra o mpox faz-se a todo o vapor no Centro de Saúde de Munigi, no território de Nyiragongo, província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC). O trabalho do corpo clínico tem sido incansável: dentro de tendas, tentam tratar os casos confirmados e travar a propagação da doença.

Desde meados de junho, este centro já recebeu 281 casos suspeitos. Destes, a maioria - 75% - são crianças com menos de 10 anos de idade. No total, as autoridades registaram mais de 500 casos de mpox só no Kivu do Norte.

Nyota Aziza é um dos muitos pacientes que estão a receber tratamento em Munigi. "Tive febre e uma forte dor de cabeça", conta à DW. "Os meus familiares disseram-me que era mpox. Trouxeram-me para o hospital e tenho estado a ser tratada pelos médicos", conta.

Cerca de dez pacientes novos por dia

Os doentes são tratados no Hospital Geral de Nyiragongo, onde a organização Medair criou um espaço específico para proteger os mais vulneráveis. Tresor Basubi é enfermeira da Medair e explica que a situação é preocupante por causa do número elevado de novos casos.

Profissionais de saúde têm vindo a sensibilizar as comunidades para o vírus
Profissionais de saúde têm vindo a sensibilizar as comunidades sobre o vírusFoto: Ruth Alonga/DW

"Todos os dias, recebemos nove pacientes com os mesmos sintomas", conta Basubi, acrescentando que os pacientes são tratados de acordo com o protocolo nacional: "De momento, não existe um tratamento específico. O tratamento que damos é baseado nos sintomas que o paciente apresenta".

RDC duramente afetada

Em entrevista à DW, Ngashi Ngongo, chefe de gabinete do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) em Kinshasa, diz que as ONG e os governos africanos estão a mobilizar a sua população para combater o vírus. "Todos os países desenvolveram ou atualizaram os seus planos de resposta ao surto, o que é muito positivo", afirma.

Segundo ele, estão a ser realizadas reuniões entre as partes interessadas "coordenadas pelo próprio Governo. O CDC África já reuniu com o ministro das finanças e a primeira-ministra da RDC. "É uma grande mudança. Este Governo está realmente a acordar", diz Ngashi Ngongo.

A RDC é o país mais afetado pelo surto desta doença. Dados do CDC África mostram que foram registados no país pelo menos 17 342 casos suspeitos e 3 167 casos confirmados em laboratório. O vírus já provocou 582 mortos.

Kivu do Norte registou mais de 800 casos de mpox, com muitas crianças afetadas
Kivu do Norte registou mais de 800 casos de mpox, com muitas crianças afetadasFoto: Ruth Alonga/DW

Sobre as razões que levam à elevada taxa de infeção das crianças, Ngashi Ngongo explica: "Por um lado, temos a intensidade dos contactos. Por outro, a sua imunidade, uma vez que estão a crescer e o seu sistema imunitário ainda está a desenvolver-se".

Cerca de 40% das crianças da RDC sofrem de malnutrição crónica. Por isso, Ngongo admite estar estar extremamente preocupado com a abertura das escolas, o que poderá aumentar drasticamente a taxa de infeção.

Respeitar as regras de higiene

Confrontados com uma grave propagação nos campos de deslocados internos, os profissionais de saúde da RDC estão a sensibilizar os deslocados para os sintomas da doença, dando também informações sobre quais os locais para os quais se devem dirigir quando é registado um caso e como se devem proteger.

A principal mensagem que tentam passar é o respeito pelas regras de higiene. No leste da RDC, cerca de 750.000 pessoas vivem em campos de refugiados. Aqui, mais de 100 crianças foram infetadas pelo mpox.

"Sensibilizámos as pessoas para o mpox, explicando-lhes como se podem prevenir e porque é uma doença muito perigosa”, disse à DW Furaha Bineyo, uma pessoa deslocada. "É uma doença que se transmite por contacto corporal, por isso é preciso ter muito cuidado com as regras de higiene, devemos lavar as mãos com regularidade".

Mpox: Moçambique prepara vacina em caso de urgência

Segundo Pierre Olivier Ngadjole, conselheiro de saúde da Medair na RDC, há esperança de acabar com a doença, uma vez que a taxa de recuperação, diz, é bastante elevada. Para ele, "a boa notícia é que, com a comunicação que temos feito nos campos, as pessoas estão a chegar cedo e temos uma taxa de cura estimada em mais de 90%, sem mortes até à data".

Fronteiras sem controlo

Nos últimos dias, anunciou o Ministério da Saúde do Congo-Brazaville, o país registou 21 casos de mpox. Desde o início do ano, foram registados 158 casos suspeitos. Outros países da região, como o Burundi, confirmaram 171 casos, o Quénia dois e o vizinho Uganda registou quatro casos no total. Também o Gabão já registou o seu primeiro caso.

Os camionistas continuam a atravessar a fronteira entre a RDC e o Ruanda sem qualquer controlo sanitário, o que, alerta o médico Hemedi Tresor, aumenta o risco de propagação do vírus.

"Não há instalações sanitárias nos nossos aeroportos, nas nossas fronteiras. E todos nós sabemos que é a partir das nossas fronteiras que vamos atingir a velocidade de cruzeiro na contaminação", disse Tresor à DW.

Vacinas contra mpox
CDC África apela à ajuda internacional para o envio de vacinasFoto: Dado Ruvic/REUTERS

Os camionistas de países como a Tanzânia, o Quénia e o Uganda dizem também não terem sido informados da presença de mpox na RDC.

"Ninguém me informou até agora, venho do Uganda e ninguém me disse para tomar precauções. Foi tudo normal", conta à DW Aman Lukondo, um motorista ugandês.

No entanto, Samuel Roger Kamba, ministro da Saúde Pública do Congo, diz não haver motivo para preocupações: "Não há razão para começarmos a fazer perguntas sobre aviões ou qualquer outra coisa, porque no ano passado houve um alerta da OMS a nível internacional e não houve proibição de voos."

Vacinas para a Nigéria

As primeiras 10.000 vacinas contra o mpox devem chegar esta semana a África. Fabricadas pela empresa dinamarquesa de biotecnologia Bavarian Nordic, foram doadas pelos Estados Unidos. No entanto, não se destinam à RDC, mas sim à Nigéria. A entrega é o resultado de vários anos de conversações entre os dois governos, de acordo com uma fonte envolvida no processo.

Este ano, a Nigéria registou 786 casos suspeitos e nenhuma morte. A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) doou 50.000 doses para a RDC, mas a data de chegada ainda não é conhecida.

Investigadores e vários responsáveis pela saúde pública criticaram a lentidão da chegada das vacinas. Só em agosto é que a Organização Mundial de Saúde (OMS) iniciou oficialmente o processo necessário para dar aos países pobres acesso fácil a grandes quantidades de vacinas através de agências internacionais. Isto obrigou os governos africanos e o CDC África a pedir doações de vacinas aos países ricos.

Vacinas contra mpox
Primeiras 10 mil vacinas contra o mpox devem chegar esta semana a ÁfricaFoto: REUTERS

"A RDC solicitou três milhões de doses de vacinas", disse Ngashi Ngongo. "Os 12 países [afetados] não têm vacinas. Precisamos de parceiros internacionais que venham em socorro destes países. Uma dose única custa 200 euros aos países europeus. A maioria dos países africanos terá dificuldade em pagar as vacinas. A RDC não consegue mobilizar esse dinheiro. São cerca de 300 milhões de dólares para três milhões de pessoas. Agora, a RDC negociou com a Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (HERA) da Comissão Europeia a compra das vacinas por cerca de 140 euros a dose".

Para o chefe de gabinete do CDC África em Kinshasa, a chave está na solidariedade internacional. Uma lição aprendida com a pandemia da Covid-19, no entanto, esta ajuda do exterior pode desaparecer rapidamente se os doadores acharem que devem ficar com as vacinas para proteger os seus próprios países.

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