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Frente única de Venâncio Mondlane é desespero ou estratégia?

9 de agosto de 2024

Apelo do candidato presidencial Venâncio Mondlane para a criação de uma frente única da oposição para expulsar a FRELIMO do poder em Moçambique é "extemporâneo" legalmente, dizem entendidos em legislação eleitoral.

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Venâncio Mondlane
Foto: Roberto Paquete/DW

Depois de a Coligação Aliança Democrática (CAD) ser retirada da corrida eleitoral, Venâncio Mondlane defende agora uma frente única composta por todos os partidos da oposição para "derrubar o regime" e "salvar Moçambique".

Entre os analistas há o entendimento de que o convite revela que se trata de desespero ou estratégia de sobrevivência política numa altura em que a estrela da política local está sozinha e mais fragilizada, com o afastamento da coligação que o apoia.

Uma configuração que talvez possa ser viabilizada com os olhos postos nas eleições de 2029, porque para as de 9 de outubro de 2024 já não é possível, pelo menos em termos formais, diz o especialista em legislação eleitoral Guilherme Mbilana.

"Na verdade, já não vai a tempo, uma vez que, para esse apoio gozar de oficialidade, é necessário que tenha sido na fase de inscrição de partidos políticos e na fase de apresentação das listas de candidatura", explica.

A Venâncio Mondlane resta apenas lutar pela Presidência do país, já que as possibilidades de assentos no Parlamento e nas assembleias provinciais e para o cargo de governador provincial foram cortadas pelo Conselho Constitucional ao chumbar a CAD.

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"Venâncio Mondlane perdeu tudo"

Sozinho, estará agora o "galático" fragilizado? O analista Hilário Chacate entende que sim: "Venâncio Mondlane perdeu tudo. E está claro que, em termos de eleições presidenciais, em que ele vai participar, ele não tem chances de ganhar, por diversas razões. Venâncio Mondlane ainda é um fenómeno urbano."

Mbilana, que considera que a Mondlane foi renegada a participação política de forma injusta, com a exclusão da CAD da corrida pelo Conselho Constitucional, também acha que, politicamente, o candidato, a esta altura do campeonato, está sem pernas para andar. 

"O que pode fazer é durante a campanha, enquanto candidato, poder sim, puxar pelas demarches, mas não em termos de organização como ele pretendia", afirma o especialista.

Protesto da CAD em Quelimane
Protesto em Quelimane da CAD, que foi retirada da corrida eleitoralFoto: Marcelino Mueia/DW

Luta pela sobrevivência política

Surpreendente foi o convite de Mondlane à oposição, considerando que parte dela mostra-se empenhada em afundá-lo, mesmo que isso signifique minar a democracia moçambicana. Falamos da RENAMO e do MDM, que na CNE têm votado contra tudo o que beneficiaria o candidato.

O apelo de Venâncio aos seus inimigos é uma ação desesperada? Segundo Chacate, "isto é um ato de sobrevivência política de curto prazo, porque a longo prazo Venâncio Mondlane poderá continuar a ser um ator relevante na política moçambicana. Já provou que tem muito apoio e que é um animal político, com muitos erros e muitas falhas."

Mondlane, em nome das suas apirações políticas, abandonou o Parlamento, onde representava a RENAMO, e todas as benesses de que gozam os representantes do povo. Além da projeção político-partidária, agora comprometida, o analista político Hilário Chacate levanta questões financeiras que estariam a deixar o ex-deputado aflito.

"Venâncio Mondlane precisa de se manter como pessoa, como político, e manter o seu sustento. E ele consegue esse sustento nos últimos anos pela via política. E neste momento, em que todas as possibilidades lhe foram tiradas, está numa situação extremamente complicada", conclui.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África