Novo líder da FLEC pronto para dialogar com Governo do MPLA
13 de julho de 2016"Falar pouco e trabalhar muito" parece ser o lema do novo líder da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), Emmanuel Nzita, filho de Nzita Tiago, que assumiu a presidência do movimento depois do falecimento do pai, a 3 de junho.
Em entrevista à DW África, Emmanuel Nzita afirma que o cessar-fogo de três meses, anunciado após a morte de Nzita Tiago, "não foi respeitado" e pede a Luanda "um ato de boa vontade" para negociar um acordo de paz.
Sublinha, porém, que "é o povo de Cabinda que deve determinar o que quer."
DW África: Com a nova liderança, a independência total de Cabinda mantém-se como principal objetivo da FLEC/FAC?
Emmanuel Nzita (EN): Esse é o objetivo principal da FLEC/FAC.
DW África: E vai insistir na mensagem "Cabinda não é Angola" e na luta armada? Ou haverá mudanças e mais flexibilidade com esta nova liderança?
EN: A FLEC/FAC está pronta para o diálogo, mas esse diálogo deve ser franco. Devemos falar com Angola. Espero que [a posição do] Governo do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] mude, porque, quando propusemos o diálogo, não quis falar connosco. Mas, desta vez, vamos falar com Angola, o que quer dizer que [vamos falar] com a sociedade civil angolana, com o partido político angolano que pode aceitar o diálogo e falar sobre a autodeterminação desse povo [de Cabinda].
DW África: Então, uma das condições seria envolver também a sociedade civil nessas conversações e não apenas o Governo de Angola?
EN: Sim, vamos falar com Angola - com a sociedade civil angolana, com os partidos políticos angolanos. Quando digo falar com o Governo de Angola, quero dizer falar com o Governo do MPLA que, há muitos anos, não quer [dialogar]. Prometeu-nos sempre falar connosco sobre a paz, mas não dá qualquer passo nesse sentido.
DW África: Também por causa das divisões e das dissidências no seio da FLEC, o Governo angolano tem usado o argumento de que não existe um "interlocutor válido" para negociar a questão de Cabinda. Está na altura de mudar de estratégia?
EN: O Governo do MPLA não tem qualquer lição a dar aos [representantes] de Cabinda. Quando houve negociações para a independência de Angola, o Governo português negociou com os três partidos angolanos [movimentos de libertação de Angola; para além do MPLA, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA)]. Não dizia que ele devia falar com um só. Os de Cabinda são unidos no pensamento.
DW África: Quais seriam as condições da FLEC para negociar um tratado de paz com Luanda?
EN: Não há nenhuma condição. A única questão é a autodeterminação do povo de Cabinda. É o povo de Cabinda que deve determinar o que quer.
DW África: Pouco depois da morte do seu pai, Nzita Tiago, no início de junho, a FLEC/FAC decretou um cessar-fogo unilateral de três meses. Esta trégua tem sido respeitada pelo exército angolano?
EN: A trégua não foi respeitada. O exército angolano está a fazer muitas operações no terreno. Vamos ver a questão. Depois de tomar posse, vamos falar pouco e trabalhar muito. Os resultados no terreno vão permitir dizer o que se passa ali.
DW África: No entanto, no mês passado, as Forças Armadas Angolanas negaram os ataques da FLEC em Cabinda e a morte de soldados angolanos…
EN: Quando o Governo angolano negou esta questão, mostrámos outra vez a identidade do capitão que morreu ali na frente. Depois disso, o Chefe de Estado Maior General [das Forças Armadas Angolanas], o senhor Sachipengo Nunda, não desmentiu a situação.
DW África: Qual é atualmente a capacidade militar da FLEC? Quantos membros armados tem em Cabinda e fora do território?
EN: A capacidade armada da FLEC é a capacidade do povo de Cabinda. O povo que vive dentro e fora das fronteiras é essencial.
DW África: E caso as negociações com Angola avancem, este cessar-fogo de três meses poderá ser prolongado?
EN: O Governo do MPLA deveria fazer um ato de boa vontade para negociar connosco. [O futuro mostrará] quem tem boa vontade de trabalhar no sentido da paz e não quer continuar a guerra.
DW África: Num dos seus primeiros comunicados como presidente da FLEC/FAC, apelou à reunificação das diferentes alas do movimento e anunciou uma reestruturação na direção. É preciso "arrumar a casa" antes de retomar o diálogo com Angola?
EN: A mensagem que o falecido presidente [da FLEC/FAC] deixou é para a unificação de todo o esforço cabindense. Mas, como se sabe, no quadro da democracia, há gente que concorda e discorda. Mas o grande passo é unir todo o esforço cabindense, junto ao esforço do povo, para trabalhar no sentido da libertação do país.
DW África: A FLEC pediu recentemente aos portugueses nascidos em Cabinda que integrem o movimento e participem na luta pela independência. Este apelo é realista?
EN: Este apelo é realista e não é novo. Antes, e quando a FLEC foi criada, houve brancos portugueses e congoleses, de Brazzaville, de Kinshasa, naturais de Cabinda que militaram e continuam a militar. Mas, oficialmente, eu digo que Cabinda é multirracial porque há branco cabindense, há preto cabindense e são todos bem-vindos para se unirem na luta para libertar o país.