Índia proíbe documentário sobre estupro
4 de março de 2015O governo indiano anunciou nesta quarta-feira (04/03) ter proibido a exibição do documentário India's Daughter (Filha da Índia), que aborda a violência contra a mulher no país. O filme gerou controvérsia por conter uma entrevista com um dos homens que cometeu um estupro coletivo em 2012, em que ele culpa a vítima.
Mukesh Singh, um dos cinco condenados por estuprar uma estudante num ônibus em movimento, declarou à cineasta britânica Leslee Udwin, sem nenhum sinal de remorso, que a jovem de 23 anos era a culpada pelo incidente. A jovem morreu 13 dias depois do ataque.
O estuprador, sentenciado à morte, disse que "mulheres que saem à noite são culpadas" e que "uma garota é muito mais responsável por um estupro do que um garoto".
O estupro coletivo ocorrido há pouco mais de dois anos provocou protestos em todo país e forçou a Índia a endurecer as leis contra o estupro, mas ativistas dizem que pouco mudou para as vítimas.
O ministro do Interior indiano, Rajnath Singh, disse ao Parlamento nesta quarta-feira que os comentários de Mukesh Singh eram "altamente depreciativos e uma afronta à dignidade das mulheres". "O governo condena o documentário e não deixará que nenhuma organização use um incidente desse tipo para fins comerciais."
Rajan Bhagat, porta-voz da polícia de Nova Déli, disse que as autoridades pediram a proibição da exibição, pois o filme tem "conteúdo condenável" e poderia causar desordem pública.
O filme de Udwin deveria ser transmitido pelo canal de TV indiano NDTV para marcar o Dia Internacional da Mulher, no próximo domingo. Em entrevista á agência de notícias AFP, Udwin disse que a "Índia é um país que valoriza os seus direitos e um dos mais importantes deles é a liberdade de expressão". "Tenho certeza que a NDTV vai lutar contra essa censura arbitrária."
A premiada cineasta britânica disse que recebeu permissão das autoridades prisionais e do ministério do Interior para filmar no interior da penitenciária de Tihar, em Nova Déli. No entanto, o ministro do Interior afirma que ela violou os termos do que fora acordado.
CA/afp/rtr