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África tem 9 das 10 crises mais negligenciadas do mundo

3 de junho de 2024

Conflito em Burkina Fasso encabeça ranking de crises que recebem pouca atenção da mídia e da comunidade internacional. Honduras é o único país não africano entre os dez mais negligenciados.

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Mulheres de Burkina Faso choram em campo de refugiados
Violência no Burkina Faso já deixou mais de 8.000 mortos e forçou o deslocamento de milhares de pessoasFoto: Michael Kappeler/picture alliance/dpa

Pelo segundo ano consecutivo, o Burkina Fasso encabeça a relação de nações em crise negligenciadas elaborada pelo Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC). O relatório anual da organização humanitária, divulgado nesta segunda-feira (03/06), afirma que há atualmente cerca de 2 milhões de pessoas desalojadas no país da África Ocidental, sendo que a maioria delas não tem acesso a ajuda.

O Burkina Fasso, atualmente governado por uma junta militar, enfrenta há anos uma insurgência de grupos jihadistas. A violência no país já deixou mais de 8.000 mortos e forçou pessoas a deixarem seus locais de residência mas de 700.000 vezes no ano passado, o que representa um salto de pouco mais de 60% em relação a 2022.

O ranking de 2023 do NRC foi elaborado através da análise de três critérios em 39 países em crise: déficit de financiamentos, falta de atenção da mídia e iniciativas diplomáticas internacionais fracassadas.

Honduras é o único país entre os dez mais negligenciados em todo o mundo que não é da África Ocidental ou Central. O país na América Central vive uma grave crise de violência perpetrada por gangues rivais e pelo crime organizado.

Os dez primeiros da lista são Burkina Fasso, Camarões, República Democrática do Congo (RDC), Mali, Níger, Honduras, Sudão do Sul, República Centro-Africana, Chade e Sudão.

Segundo o NRC, o Camarões possui quase 1,1 milhão de pessoas deslocadas e meio milhão de refugiados que vivem no país. O terceiro colocado, a RDC, soma mais de 25 milhões de pessoas que enfrentam diferentes situações de emergência.

"Novo normal"

"O negligenciamento completo das pessoas deslocadas se tornou o novo normal" observou o secretário-geral do NRC, Jan Egeland.

"O mundo não está chocado, tampouco se vê impelido a agir em relação às histórias de desespero e estatísticas recordistas", acrescentou. "Precisamos de um reboot global da solidariedade e uma retomada do foco para onde é mais necessário."

Segundo o NRC, as avaliações anuais apontam para uma queda do apoio internacional e da cobertura de mídia. Isso ocorre, em parte, devido à falta de liberdade de imprensa em muitos dos países relacionados. Além disso, a redução do financiamento humanitário atualmente em curso atingiu o ponto mais alto.

Em 2023, o déficit entre os apelos humanitários e as doações financeiras chegou a somar 32 bilhões de dólares (R$ 167 bilhões), afirmou o NRC, o que corresponde a cerca de 10 bilhões de dólares a mais do que em 2022. Esse total significa ainda que 57% das necessidades humanitárias nas nações negligenciadas não foram atendidas. A falta de recursos levou ao aumento da fome em todos os países relacionados.

"Precisamos urgentemente de investimentos para as crises mais negligenciadas do mundo. Esses investimentos devem ser feitos tanto na forma de iniciativas diplomáticas, de modo a trazer os diferentes lados dos conflitos às mesas de negociação, quanto através de financiamentos proporcionais às necessidades por parte dos países doadores", concluiu Egeland.

rc (AFP, dpa)