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Zeitgeist: A insatisfação com Merkel dentro da CDU

28 de setembro de 2017

Chanceler venceu a eleição, mas seu partido obteve segundo pior resultado do pós-Guerra. Críticas ainda não são abertas e amplas, mas insatisfação com a política dela entre os conservadores é mais forte do que nunca.

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Angela Merkel
Merkel irritou correligionários ao afirmar que não via nada que pudesse ter sido feito de forma diferente na campanhaFoto: Reuter/K. Pfaffenbach

Foi o que se chama de vitória com gosto de derrota: a chanceler federal Angela Merkel conseguiu conduzir a sua aliança de partidos – a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) – à vitória na eleição legislativa alemã, mas o resultado ficou bem aquém do que os conservadores estão acostumados a alcançar: meros 33%.

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Diante das câmeras, a CDU festejou, mas internamente não havia como esconder a insatisfação. E quando Merkel, no dia seguinte, se dirigiu aos jornalistas para dizer que não via nada que pudesse ter feito de forma diferente durante a campanha, a paciência de muitos conservadores se esgotou de vez.

"Temos de ser o partido que é conhecido por ser uma garantia de manutenção das regras, seja na imigração ilegal, seja na estabilidade do euro", afirmou um correligionário. Outros defenderam a adoção de posições claras, sobretudo na política de refugiados e na segurança interna. E um pequeno grupo da ala mais à direita foi além e pediu a renúncia de Merkel da chefia da CDU.

Ao menos por enquanto, porém, a tendência dominante dentro do partido é evitar as críticas abertas. A explicação é simples: em três semanas haverá eleições estaduais na Baixa Saxônia, e a CDU tem boas chances de chegar ao governo. Passar uma imagem de unidade ajuda.

Mas a verdade é que os ânimos fervem dentro do partido conservador. O passado mostra que a CDU costuma tolerar muita coisa de seus chanceleres enquanto eles ganharem eleições. Mas quando se trata do poder em Berlim, o partido sabe ser impiedoso – vide o caso Helmut Kohl.

Agora a insatisfação se volta contra Merkel. Há tempos que ela já vinha sendo vista com desconfiança por muitos conservadores, que a veem como uma social-democrata disfarçada. Uma série de decisões polêmicas para os padrões conservadores, culminando no ingresso de centenas de milhares de refugiados no fim de 2015, fizeram crescer a má-vontade com a chanceler. Mas ela vencia eleições, então tudo se tolerava, ainda que com desconfiança.

Agora essa postura mudou. Isso se tornou evidente durante a primeira reunião da nova bancada conservadora, esta semana em Berlim. Um deputado que disse ter esperado mais clareza de Merkel em alguns temas, como o ingresso de famílias de refugiados, foi aplaudido.

Depois veio a reeleição de Volker Kauder, um aliado de Merkel, para a liderança da bancada da CDU/CSU. Ele venceu, mas com 50 votos contrários numa bancada de 246 deputados (queda significativa frente aos 309 da atual legislatura, e isso que o Bundestag passou de 630 para 709). Há quatro anos, Kauder fora eleito com 90% dos votos.

E há ainda a CSU, o partido conservador da Baviera. O clima é de nervosismo e insatisfação em Munique depois do resultado de 38% na eleição, o pior do pós-Guerra. A liderança da CSU teme agora perder a maioria absoluta nas eleição estadual de setembro do ano que vem e quer de todas as maneiras estancar a sangria. A principal culpada: Angela Merkel, que ignorou os apelos do partido por um teto para o ingresso de refugiados.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.