Esquerda no Peru
6 de junho de 2011Anúncio
Resultados preliminares das eleições presidenciais peruanas apontam a vitória do militar aposentado Ollanta Humala. Faltando apurar apenas cerca de 10% das urnas, o candidato do Partido Nacionalista Peruano aparece com uma vantagem de 1,8% – algo em torno de 240 mil votos – sobre a candidata Keiko Fujimori, filha do ex-presidente peruano Alberto Fujimori.
Ao declarar-se vencedor das eleições no país, ainda no domingo (05/06), Humala, de 48 anos, fez um discurso para acalmar os ânimos do mercado financeiro, que está preocupado com a chegada ao poder de um político de esquerda com raízes anticapitalistas e próximo do polêmico presidente venezuelano, Hugo Chávez.
"Esta noite renovo meu compromisso com o povo peruano de crescimento econômico com inclusão social", discursou Humala numa praça da capital Lima para milhares de seguidores, que agitavam bandeiras e comemoravam antecipadamente a vitória. "Vamos promover mais investimentos, vamos conduzir uma economia de mercado que é a consolidação, o fortalecimento do mercado interno", continuou.
Mesmo diante das promessas de Humala de que vai direcionar esforços para garantir o crescimento econômico do Peru, a confirmação de sua vitória deve trazer turbulências ao mercado financeiro, avaliam observadores. Há dúvidas entre os investidores sobre a veracidade do tom moderado usado pelo candidato durante a campanha para conquistar a simpatia do setor financeiro, que apoiou Keiko Fujimori para o cargo máximo do país.
Como Lula em 2002
A situação se assemelha em parte à vivida no Brasil em 2002, logo após a vitória do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais. Ainda que tenha se apresentando como um socialista menos radical que em 1989, quando disputou a presidência pela primeira vez, Lula levou algum tempo até conquistar a confiança do mercado – extremamente receoso diante dos rumos que o novo chefe do governo brasileiro daria à política econômica.
Autoridades governamentais instam Humala a enviar sinais de que irá nomear pessoas moderadas para os cargos mais importantes na área econômica, a fim de acalmar o setor financeiro. A moeda peruana vem se desvalorizando desde que Humala venceu o primeiro turno, em 10 de abril. Desde então, a Bolsa de Valores de Lima registrou perdas de 14 bilhões de dólares.
Em discurso semelhante ao do ex-presidente brasileiro há nove anos, o futuro chefe do governo do Peru garantiu que vai manter as principais linhas da política econômica do país. "Agora a campanha eleitoral acabou e no dia 28 de julho será o presidente de todos os peruanos que vai assumir a responsabilidade, dando continuidade ao trabalho de consolidar nosso crescimento econômico", afirmou o peruano, que em 2006 perdeu para o atual presidente Alan García.
Na época, sua derrota foi atribuída em grande parte a suas propostas esquerdistas radicais. Nesta campanha, porém, Humala suavizou o discurso e procurou manter-se mais atrelado à imagem de Lula do que a de seu mentor, Hugo Chávez.
Dura campanha
Como não terá maioria no Congresso, o novo presidente será obrigado a negociar com os partidos de oposição. Seus aliados deverão formar o maior bloco único parlamentar. Mas eles terão problemas em dar continuidade a eventuais propostas mais radicais para alteração da Constituição ou para voltar atrás no modelo econômico baseado na iniciativa privada.
"Sabemos que governar não é um assunto de uma só pessoa. Vamos convocar os melhores quadros técnicos independentes e intelectuais para poder fazer um governo de coalizão, de base ampla, onde ninguém se sinta excluído e onde todos possam estar representados", afirmou o novo presidente a suas bases políticas.
Humala receberá um país que é um grande exportador de minérios e registra um crescimento econômico entre os mais altos do mundo – ainda que ainda tenha um terço da população na pobreza. O novo presidente mantém boas relações com os Estados Unidos e deve tentar estreitar laços com o governo brasileiro. Ele quer fazer do Peru um ponto estratégico no Oceano Pacífico para o comércio entre o Brasil e a China.
MS/rts/dpa
Revisão: Carlos Albuquerque
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