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EsporteGlobal

Velocista transgênero deve chamar atenção nas Paralimpíadas

30 de agosto de 2024

Especulações e desinformação assolaram os Jogos Olímpicos de Paris sobre questões de gênero. Nos Paralímpicos, uma atleta transgênero italiana competirá no atletismo. Mas ela não será a primeira.

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Valentina Petrillo corre na pista de corrida
Valentina Petrillo durante competição paralimpica na Itália em 2024Foto: Tommaso Berardi/IPA Sport/picture alliance

"Costumo dizer que, se eu consegui, outros também conseguem. Espero ser a primeira de muitas, um ponto de referência, uma inspiração. Minha história pode ajudar muitas pessoas, sejam elas deficientes visuais, transgêneros ou não", disse Valentina Petrillo à agência de notícias AFP, à medida que cresce o interesse em sua participação nos Jogos Paralímpicos, que começou nesta quarta-feira (28/08).

Petrillo competirá no evento T12 para atletas com deficiência visual. Ela se assumiu publicamente como transgênero em 2017, depois de por pouco não ter participado como homem da equipe paralímpica de Atlanta de 1996. Somente em 2023, ela foi reconhecida como mulher pelas autoridades italianas.

A atleta de 50 anos ganhou duas medalhas de bronze nas provas de 200 metros e 400 metros no Campeonato Mundial de Atletismo de 2023.

Embora tenha dito que espera ser "a primeira de muitas" atletas transgênero competindo nos jogos, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) afirma que ela não será a primeira paralímpica transgênero, como foi amplamente divulgado. Um porta-voz da organização disse à DW que a lançadora de disco holandesa Ingrid van Kranen foi a primeira, nos Jogos do Rio em 2016.

Lançadora de disco holandês é a primeira paralímpico trans

Van Kranen ficou em nono lugar na final do lançamento de disco e causou pouca repercussão internacional. Nos oito anos que se seguiram, as questões transgênero tornaram-se um ponto de discussão muito mais proeminente, sendo muitas vezes uma questão controversa nas guerras culturais. O esporte geralmente está na vanguarda disso.

As linhas de batalha são bem traçadas, mas cada caso tem suas próprias nuances. Para a para-atleta alemã Katrin Müller-Rottgardt, que correrá na mesma categoria que Petrillo, o palco esportivo apresenta dificuldades que a vida normal não apresenta.

"Todos devem viver sua vida cotidiana da maneira que se sentem confortáveis. Mas acho isso difícil em esportes competitivos", disse ela ao tabloide alemão Bild. "Ela [Petrillo] viveu e treinou como homem por muito tempo, então é possível que os requisitos físicos sejam diferentes dos de alguém que nasceu mulher. Isso pode lhe dar uma vantagem", acrescentou a atleta alemã.

A gama de pontos de vista científicos e institucionais é bastante bem estabelecida, mas não há nada como um consenso. Diferentes esportes e diferentes órgãos dirigentes têm adotado linhas totalmente diversas, mesmo quando se trata dos mesmos atletas.

 Katrin Müller-Rottgard levanta os braços com uma bandeira alemã sobre os ombros
Katrin Müller-Rottgard está preocupada com a possibilidade de sua oponente ter uma suposta vantagem esportivaFoto: Jens Büttner/dpa/picture alliance

Caso Imane Khelif

Isso ficou claro no caso da boxeadora vencedora da medalha de ouro olímpica, Imane Khelif. Depois que sua oponente italiana abandonou a luta de abertura, o gênero de Khelif se tornou um dos tópicos mais importantes dos jogos. Ela foi incorretamente rotulada como transgênero pelos meios de comunicação e por importantes figuras públicas. Lin Yu-ting, de Taiwan, enfrentou desafios semelhantes.

A dupla foi inicialmente banida do campeonato de 2023, administrado pela Associação Internacional de Boxe. Posteriormente, a organização foi destituída de seu status de órgão regulador global do esporte, o que permitiu que as boxeadoras lutassem em Paris.

As inconsistências aparentes entre esportes e eventos faz com que Petrillo não possa competir no atletismo feminino nos Jogos Olímpicos, mas possa nos Jogos Paralímpicos. A World Athletics, órgão regulador global do atletismo de pista e campo, proibiu os atletas transgêneros de competir em 2023. Mas a World Para Athletics diz que qualquer pessoa que seja legalmente reconhecida como mulher é elegível para competir na categoria para a qual sua deficiência a qualifica. O IPC disse à DW que, pelo menos por enquanto, deixa essas decisões a cargo das federações individuais.

"O IPC, em seu papel de organizador de eventos importantes, não tem nenhuma regra relevante sobre a participação de atletas transgêneros e intersexuais, pois isso é responsabilidade de cada federação internacional", disse o porta-voz.

No centro da tempestade

Não há dúvida de que Petrillo está seguindo as regras atuais. Mas é improvável que isso a impeça de estar no centro de uma tempestade, como Khelif esteve antes dela. "Sei que haverá pessoas que não entenderão por que estou fazendo isso, mas estou aqui, lutei durante anos para chegar aonde estou e não tenho medo. Isso é quem eu sou", disse a atleta.

Imane Khelif beija medalha de ouro
Boxeadora argelina Imane Khelif foi erroneamente rotulada como transgênero por figuras públicas como Trump e MuskFoto: MOHD RASFAN/AFP/Getty Images

Mas o abuso enfrentado pelos atletas nesses casos é sério. Depois de voltar para casa na Argélia, Khelif anunciou que havia entrado com uma ação judicial, supostamente contra a plataforma de rede social X, por suposto cyberbullying.

O advogado de Khelif, Nabil Boudi, disse à revista especializada em entretenimento Variety que a queixa menciona o proprietário da X, Elon Musk, e a autora de Harry Potter, JK Rowling. Boudi acrescentou que ele também estaria considerando qualquer papel desempenhado pelo ex-presidente dos EUA e atual candidato republicano, Donald Trump.

"Trump tuitou, portanto, quer ele seja ou não citado em nosso processo, ele será inevitavelmente analisado como parte da acusação", disse o advogado.

Embora os Jogos Paralímpicos não tenham o mesmo perfil global que os Olímpicos, os olhos do mundo provavelmente estarão voltados para Petrillo quando ela entrar na pista.