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Uma vida de justiça contra os nazistas

(sm)20 de setembro de 2005

A Europa lamenta morte de Simon Wiesenthal, o "caçador de nazistas" que contribuiu para a prisão de mais de mil criminosos, como Eichmann e Stangl. Sua missão é levada em frente pela associação que leva seu nome.

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'Justiça, não vingança'Foto: AP
Nürnberger Prozess
Julgamento de Nurembergue, 1946Foto: dpa

Faleceu em Viena, aos 96 anos, o "caçador de nazistas" Simon Wiesenthal. O célebre criminalista, arquiteto de profissão, se consagrou como incansável ativista na perseguição a criminosos nazistas, mesmo depois que os Aliados se deram por satisfeitos com a punição de alguns cabeças do Holocausto no período imediatamente subseqüente ao fim da guerra.

Nascido várias vezes – Wiesenthal era, acima de tudo, um sobrevivente. Nascido na Galícia, entre a Áustria e a Hungria, no antigo Império Austro-Húngaro, Wiesenthal, órfão de um soldado do exército austríaco morto na Primeira Guerra, foi preso em 1941 durante a ocupação da Polônia pelos nazistas. Após ter passado por 12 campos de concentração, ele foi libertado por soldados norte-americanos de Mauthausen, de onde o prisioneiro de 1,80 metro de altura saiu com 45 quilos. Segundo ele conta em suas memórias, sua força para sobreviver veio da decisão de cobrar a punição dos responsáveis pelo Holocausto. Esta tarefa, cumprida durante toda a sua vida, tornou-o alvo de diversos atentados e ameaças de morte.

Perseguição de boca em boca – A missão de Wiesenthal começou com uma lista de 91 nomes de criminosos de que ele próprio tinha conhecimento. E continuou com a busca de mais informações sobre as atrocidades nazistas entre os sobreviventes de campos de concentração espalhados por acampamentos na Áustria, Alemanha e Itália logo após a guerra. Wiesenthal foi o primeiro a aplicar sistematicamente o método da História Oral na historiografia da Shoah, além de ter fundado um centro judaico de documentação histórica.

Justiça, não vingança – "Se um criminoso nazista não conseguir dormir mais de duas semanas em uma única cama, de medo de mim, essa é uma parte da pena que lhe cabe", dizia Wiesenthal. Mas a sua máxima era "Justiça e não Vingança", título de suas memórias, publicadas em 1988. Wiesenthal afirmava ter contribuído para a investigação de seis mil casos e para a punição de 1100 criminosos nazistas.

Algozes na América do Sul - Os casos mais espetaculares de localização de criminosos nazistas através de pistas de Wiesenthal ocorreram na América do Sul. Adolf Eichmann, organizador do genocídio contra os judeus e responsável pela deportação de mais de três milhões de vítimas para campos de extermínio, fugiu da prisão norte-americana em 1946 e desapareceu na Argentina, até agentes secretos israelenses o seqüestrarem e submetê-lo a julgamento em Tel Aviv, onde foi condenado à morte e executado. Klaus Barbie, o "carniceiro de Lyon", chefe da Gestapo local, foi localizado na Bolívia, levado para a França em 1983 e condenado a prisão perpétua, onde morreu em 1991.

Mengele Porträt
Foto do procurado médico nazista Josef Mengele feita em 1938Foto: dpa

Encontrados no Brasil – Franz Stangl, comandante do campo de extermínio de Treblinka, que conseguira fugir da prisão austríaca em 1948, escapando pela Itália até a Síria, foi localizado por Wiesenthal em São Paulo, de onde foi deportado para a Alemanha em 1967. Stangl, culpado pelo extermínio em massa de pelo menos 400 mil pessoas, morreu cumprindo a pena de prisão perpétua. Um dos maiores alvos de Wiesenthal foi Josef Mengele, médico do campo de extermínio de Auschwitz e culpado por atrozes práticas de experimentos médicos com prisioneiros. O "anjo da morte" desapareceu depois da guerra e conseguiu fugir para a Argentina via Itália. Mengele foi localizado depois de morto no Brasil, após exumação do corpo. Wiesenthal considerava "o pior fracasso da sua vida" não ter conseguido prender Mengele em vida.

Vaticano entre os culpados – Mas os casos espetaculares do "caçador de nazistas" não são tudo. As pesquisas dos trajetos de fuga dos criminosos nazistas levaram Wiesenthal a descobrir a ligação da organização nazista Odessa com o Vaticano. Suas reiteradas acusações de anti-semitismo e suas denúncias contra a participação de ex-nazistas nos governos em Viena colaboraram para um processo de reflexão sobre a conivência dos austríacos com o Holocausto.

Última chance de justiça – Wiesenthal sobreviveu aos principais criminosos nazistas. Vítimas e criminosos de uma mesma geração estão para desaparecer. Mas isso não significa que a busca dos últimos culpados nazistas tenha se encerrado. No ano passado, o Centro Simon Wiesenthal, fundado em 1977 em Los Angeles e representado em diversas cidades do mundo, lançou a campanha Operação Última Chance, uma nova busca de criminosos nazistas.

Paul Spiegel
Paul SpiegelFoto: dpa
Contribuição sobre-humana –
Políticos europeus e representantes de instituições judaicas lamentaram a morte de Simon Wiesenthal. O presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Paul Spiegel, referiu-se a uma grande perda e lembrou que as gerações posteriores ao nazismo devem seu conhecimento dos culpados à atuação de Wiesenthal. O ex-premiê alemão, Helmut Kohl, ao qual Wiesenthal sugeriu que o prêmio oferecido para quem localizasse Mengele fosse dividido entre suas vítimas sobreviventes, declarou que ele "prestou uma contribuição sobre-humana em mais de cinco décadas". O encarregado de assuntos de Política Externa da União Européia, Javier Solana, lembrou que Wiesenthal era "uma pessoa especial e um grande europeu".