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Um quarto da população mundial aceita homem bater em mulher

12 de junho de 2023

Pesquisa divulgada pela ONU mostra que metade da população mundial acredita que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres. Entre os brasileiros, quase 85% têm algum preconceito contra o sexo feminino.

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Foto mostra mulher com as mãos em frente ao rosto, se defendendo da agressão de um homem
Dados dizem respeito a 80 países, que representam 85% da população mundialFoto: Thomas Trautschel/photothek/IMAGO

O preconceito contra as mulheres continua profundamente enraizado em grande parte do mundo e praticamente não diminuiu na última década, mostra um estudo divulgado nesta segunda-feira (12/06) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Quase nove em cada dez pessoas têm algum tipo de preconceito contra as mulheres e uma em cada quatro pessoas aceita o fato de um homem bater em uma mulher, de acordo com o relatório.

Metade da população mundial acredita que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres e 40% que são melhores líderes do setor empresarial. Apenas 27% acreditam que é essencial para a democracia que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, 46% acham que os homens têm mais direito a um emprego e 28% consideram que a universidade é mais importante para homens do que para mulheres.

Mesmo em lugares onde os níveis de educação são mais elevados, as mulheres continuam ganhando, em média, 39% menos do que os homens.

Os dados compilados dizem respeito a 80 países, que representam 85% da população mundial, e foram coletados entre 2017 e 2022.

Quase 85% dos brasileiros têm preconceito

Segundo o levantamento, 84,5% dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra as mulheres. Em média, mais de 75% dos entrevistados têm preconceitos em questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos. 

Por outro lado, pouco mais de 9% avaliam que o estudo universitário é importante apenas para os homens. Sobre a participação feminina na política, a pesquisa aponta que mais de 39% dos entrevistados acreditam que mulheres não desempenham este papel tão bem quanto os homens.

Além disso, 31% dos brasileiros acham que homens têm mais direito a vagas de trabalho ou são melhores em cargos executivos.

Sinais de estagnação

Em nível mundial, de acordo com o PNUD, o levantamento sugere que o progresso nos últimos anos foi baixo, apesar de movimentos importantes pelos direitos das mulheres, como o MeToo.

Em média, a parcela de mulheres como chefes de estado ou chefes de governo tem se mantido em torno de 10% desde 1995, e no mercado de trabalho as mulheres ocupam menos de um terço dos cargos gerenciais.

Se comparados com os dados recolhidos entre 2010 e 2014 em 38 países, verifica-se, em geral, uma estagnação.

Por exemplo, a porcentagem de pessoas com algum preconceito contra as mulheres melhorou ligeiramente, de 86,9% para os 84,6%.

Contudo, existem exceções: em alguns países, o número de pessoas que não tem qualquer preconceito em relação ao gênero aumentou significativamente.

É o caso da Alemanha, onde o número de inquiridos com pelo menos um preconceito caiu de 56% para 37% na última década, do Japão, onde caiu de 72% para 59%, e no Uruguai, onde baixou de 77% para 61%.

Em outros casos, porém, houve retrocessos: na Rússia o número de pessoas com ao menos um preconceito contra as mulheres subiu de 87% para 91%, na Coreia do Sul de 85% para 90% e no Chile de 74% para 80%.

Exemplos positivos

Os autores do relatório afirmam que a permanência destes preconceitos explica o recente avanço dos movimentos contra a igualdade de gênero e, em alguns países, o aumento das violações dos direitos humanos.

O PNUD sublinhou ainda que, sem avanços nos direitos das mulheres, é impossível progredir em questões de desenvolvimento, numa altura em que muitos indicadores neste âmbito estão a cair.

"As normas sociais que afetam os direitos das mulheres são também prejudiciais para a sociedade em geral, travando a expansão do desenvolvimento humano", disse, em comunicado, o diretor do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição. 

Para o PNUD, os governos têm um papel fundamental na mudança das normas sociais. Exemplo disso é a alteração na regulamentação da licença parental em muitos lugares, que ajudou a modificar a percepção que existe sobre as responsabilidades de cuidar da família. Outro exemplo foram reformas laborais, que alteraram as crenças sobre as mulheres e o trabalho.

"Um ponto importante para começar é reconhecer o valor econômico do trabalho de cuidado não remunerado. Isso pode ser uma forma muito eficaz de desafiar as normas de gênero em torno da forma como o trabalho de cuidado é visto. Em países com os maiores níveis de preconceito de gênero contra as mulheres, estima-se que as mulheres despendem acima de seis vezes mais tempo do que os homens em trabalho de cuidado não remunerado", afirma a diretora da Equipe de Gênero do PNUD global, Raquel Lagunas.

le (Lusa, EFE, AFP, ots)