1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Um manual para controlar as mudanças climáticas

Ajit Niranjan
2 de novembro de 2021

Há caminhos claros para os políticos reunidos na COP26 cumprirem as suas promessas. Conheça as medidas para os setores de eletricidade, transporte, indústria e edifícios.

https://p.dw.com/p/42UR9
Ativistas do grupo "Extinction Rebellion" representam líderes do G7 em protesto em junho, no Reino Unido
Ativistas do grupo "Extinction Rebellion" representam líderes do G7 em protesto em junho, no Reino UnidoFoto: Peter Nicholls/REUTERS

Os líderes mundiais reunidos nesta semana na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) poderiam estabelecer políticas públicas que impediriam mudanças perigosas no clima e evitariam o colapso de ecossistemas. Mas, até agora, eles não o fizeram com a amplitude necessária.

A diferença entre o que os países estão fazendo para desacelerar o aquecimento global e o que eles precisariam fazer para atingir esse objetivo chegará a 28 gigatoneladas de CO2 por ano até 2030, segundo com um relatório da ONU publicado na terça-feira passada. Essa disparidade é suficiente para que o planeta esteja, no final deste século, 2,7 graus Celsius mais quente do que as temperaturas pré-industriais.

Isso quebraria a promessa feita em 2015 por líderes mundiais na conferência climática de Paris de limitar esse aquecimento a 1,5 graus Celsius, o que seria necessário para evitar eventos climáticos extremos sem precedentes como ondas de calor e ciclones. Em vez disso, eles estão queimando tanto carvão, petróleo e gás que o mundo provavelmente ultrapassará esse limite já na próxima década.

Para ter alguma chance de cumprir essa meta, temos "oito anos para fazer os planos, colocar as políticas em prática, implementá-las e, finalmente, entregar os cortes [nas emissões]", escreveu Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, autora do relatório.

Como podemos atingir a meta climática de 1,5 ºC?

O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) demonstrou que em 2030 as emissões anuais precisariam ser 45% menores do que as registradas em 2010. E, até 2050, elas teriam que atingir o "zero líquido", quando a atividade humana adiciona tanto CO2 à atmosfera quanto plantas e aparelhos o estão sugando.

Isso poderia ser feito junto com crescimento econômico e fornecimento estável e acessível de energia a todos, de acordo com um roteiro com 400 metas publicado pela Agência Internacional de Energia (AIE) em maio. Entretanto, alcançar o zero líquido em emissões até 2050 "exigirá nada menos do que a completa transformação do sistema energético global", segundo os autores.

Eis o roteiro:

Eletricidade

A base da transição é substituir os combustíveis fósseis pela energia renovável. A partir de hoje, isso significaria não aprovar a criação de novos campos de petróleo, campos de gás ou minas de carvão, de acordo com o relatório. Todas as usinas movidas a carvão ou derivados do petróleo cujas emissões não são capturadas diretamente seriam desligadas até 2040.

No lugar, a energia solar e eólica se tornariam as principais fontes de eletricidade até 2030, e juntas gerariam quase 70% da eletricidade até 2050. A geração em usinas nucleares dobraria até 2050 para responder por quase 10% da geração total de eletricidade.

Guindaste instala hélices de turbina eólica em campo agrícola
Energia eólica e solar precisam se tornar a principal fonte de eletricidade até 2030Foto: Ulrich Wirrwar/Siemens AG

Tal transformação significaria que os países ricos produziriam toda sua eletricidade a partir de fontes de baixo carbono até 2035, e as demais nações chegariam lá cinco anos depois.

Na Índia, o quarto maior mercado de eletricidade do mundo, isso levaria ao fim do poluente setor de carvão. Em toda a África subsaariana, onde a maioria das pessoas não tem acesso à eletricidade, isso significaria não investir em fontes de energia com base em combustíveis fósseis.

Mas construir a infraestrutura de energia renovável ajuda as comunidades rurais sem acesso às redes elétricas a se adaptar, disse Amos Wemanya, analista de energia do grupo de pesquisa Power Shift Africa, sediado no Quênia. As metas de desenvolvimento de reduzir as emissões e aumentar a resiliência a condições climáticas cada vez mais extremas "andam de mãos dadas", disse.

Transporte

Mesmo que alguns países tenham conseguido reduzir suas emissões totais, principalmente queimando menos carvão, a poluição emitida pelo setor de transporte continua aumentando.

Reverter essa tendência exigiria parar de vender carros novos com motores a combustão interna até 2035, de acordo com a AIE. Caminhões pesados utilizariam biocombustíveis no curto prazo, e após 2030 seriam movidos a eletricidade ou hidrogênio. Em meados do século, a maioria dos veículos seria movida a eletricidade ou a células de combustível.

Carros da marca Audi enfileirados
A partir de 2035, nenhuma venda de carro novo com motor a combustãoFoto: Mike Blake/Reuters

Embora ainda não existam alternativas ambientalmente corretas para voar longas distâncias, investimentos em ferrovias e maiores tributos sobre vôos comerciais poderiam reduzir a demanda pela aviação. Em 2050, os aviões usariam biocombustíveis de baixo carbono e combustíveis sintéticos para voar longas distâncias sem poluir a atmosfera.

Os navios, um dos únicos meios de transporte que o relatório não espera descarbonizar até meados do século, poderiam queimar menos combustível se fossem construídos e operados de forma mais eficiente. E o uso de amônia como combustível seria uma alternativa para as viagens transoceânicas.

Edifícios

A demanda por espaço habitável deverá crescer 75% até 2050 e, conforme o planeta se aquece, o uso de ar-condicionado, que consome muita energia, também aumentará. Mas as emissões provocadas pelo uso de edifícios podem diminuir 95% no mesmo período.

Isto seria impulsionado pela eletrificação e ganhos de eficiência que utilizam tecnologias já existentes no mercado: bombas de calor, aparelhos mais eficientes e edifícios projetados e construídos com materiais que regulam melhor a temperatura interna.

Diversos edifícios em Dubai
Novas tecnologias reduziriam uso de eletricidade para controlar temperatura em edifícios Foto: picture-alliance/J. Schwenkenbecher

Atualmente, 1,5 milhões de bombas de calor são instaladas todo mês. Segundo o roteiro da AIE, seria necessário aumentar esse ritmo para 5 milhões até 2030, e 10 milhões até 2050.

Até lá, bombas de calor supririam mais da metade da demanda global por aquecimento, e o aquecimento por combustíveis fósseis teria que ser gradualmente eliminado. A partir de 2025, nenhum sistema de aquecimento de água a combustível fóssil seria mais vendido.

Indústria

Centenas de plantas industriais usariam hidrogênio para fabricar produtos como o aço, ou usariam tecnologia para capturar o carbono emitido por qualquer combustível fóssil que ainda usem. Essas mudanças levariam ao corte de metade das emissões na indústria pesada até 2050.

Os altos-fornos e fornos de cimento têm vida útil média entre 30 e 40 anos. Isso significa que os investimentos atuais já precisam ser ambientalmente responsáveis para evitar a necessidade de demolir essa infraestrutura antes do fim de sua vida útil.

Forno de siderúrgica
Hidrogênio é principal aposta para reduzir emissões na indústria pesadaFoto: Rupert Oberhäuser/picture alliance

Diferentes formas para reduzir as emissões

Embora o relatório da AIE forneça um "roteiro detalhado e útil... ele não é a única maneira de fazer isso", disse Joeri Rogelj, um pesquisador do Centre for Environmental Policy do Imperial College London, no Reino Unido.

Qualquer plano para descarbonizar a economia requer mudanças fundamentais como o rápido aumento no uso de energia renovável, a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, o fim do desmatamento e a redução das emissões provocadas pela produção de alimentos. Mas os cientistas têm opiniões diferentes sobre energia nuclear, mudanças comportamentais e tecnologias para sugar o carbono da atmosfera.

Quanto mais cedo as emissões começarem a cair, mais fácil será manter as temperaturas sob controle. Atingir a meta de 1,5 ºC não é fácil, disse Amos Wemanya, mas ainda é possível. "Isso requer decisões concretas e ousadas".