Um em cada cinco bebês na Alemanha tem mãe estrangeira
4 de outubro de 2016Mahmoud nasceu no setor de obstetrícia do Charité, em Berlim, um dos maiores hospitais universitários da Europa. "Tudo correu bem", diz o pai, enquanto segura o menino, algumas horas após seu nascimento. "Nós estamos felizes. Nós conhecemos pessoas muito boas aqui." A mãe de Mahmoud ainda se recupera da cesariana. A família chegou à Alemanha vinda da Síria há um ano e, pelo menos no médio prazo, Mahmoud vai viver em Berlim.
Segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), uma em cada cinco crianças nascidas no país em 2015 era filha de mãe estrangeira. Dez nacionalidades respondem por mais da metade dos 148 mil bebês filhos de mães estrangeiras, sendo que 21.555 têm mães com nacionalidade turca e 10.831, polonesa.
De acordo com o Destatis, o número de bebês nascidos de mulheres romenas aumentou 47% (para 8.154, em comparação com 5.551 em 2014) e 34% no caso de mães búlgaras (4.202 em 2015, 3.135 em 2014). Uma alta elevada foi verificada entre as sírias. Em 2015, 4.800 mulheres dessa nacionalidade deram à luz na Alemanha, em comparação com apenas 2.300 em 2014.
Em todo o ano de 2015 nasceram 738 mil crianças na Alemanha, das quais 590 mil tinham uma mãe alemã e 148 mil, uma estrangeira. Com isso, o percentual das estrangeiras subiu para 20%. Entre 1996 e 2014, ele havia se mantido estável, entre 17% e 18%.
Línguas estrangeiras são desafio
"O hospital trata a todos igualmente", ressalta Wolfgang Henrich, diretor do departamento de obstetrícia do Charité. Entretanto, a nacionalidade dos pacientes pode criar alguns desafios. "A maioria dos problemas que enfrentamos diz respeito à barreira do idioma. Temos que contratar intérpretes ou encontrar alguém no hospital que possa fazer esse trabalho. Além disso, tentamos empregar enfermeiros que falem línguas estrangeiras", explica.
Com mais de 5 mil nascimentos por ano, o Charité contratou pelo menos um médico sírio para cada um de seus quatro endereços em Berlim. "Os custos de intérpretes subiram para várias centenas de milhares de euros neste ano, por causa de mulheres estrangeiras que simplesmente apareceram", diz Henrich.
"Claro que temos visto um aumento no número de mulheres refugiadas grávidas", diz Henrich. "Eu não estou falando só de sírias, mas também de iraquianas, iranianas, afegãs ou de países africanos. Em tais casos, precisamos logo de intérpretes. O financiamento destes serviços é um problema não resolvido."
Do ponto de vista burocrático, é mais fácil para cidadãos da UE entrarem no sistema de saúde alemão do que para pessoas que vêm de fora do bloco. A romena Adriana vive desde 2012 em Leipzig, onde seu marido recebeu uma oferta de emprego como cozinheiro num restaurante. O casal tem um filho de 2 anos. "Eu estava muito nervosa quando meu marido me levou para o hospital, mas tudo correu muito bem", lembra. "Havia uma mulher, acho que era uma médica, que ajudou na tradução, mas eu também falei um pouco de alemão. É uma coisa boa que ambos tenhamos seguro de saúde."
Refugiados têm atendimento garantido
O médico Volker Müller, de Kassel, afirma que os hospitais são confrontados com dilemas financeiros ao tratarem refugiados e imigrantes de fora da UE. Além de pagar por serviços de intérprete, há também os obstáculos burocráticos relacionados à questão da cobertura dos custos de tratamento.
O seguro de saúde é obrigatório na Alemanha para todos os estrangeiros. A UE lançou um cartão europeu de seguro de saúde válido para o tratamento de problemas agudos durante estadas curtas em outros Estados-membros. Para uma estada de longo prazo na Alemanha, os cidadãos da UE devem se inscrever num seguro de saúde alemão, público ou privado.
Para refugiados, emergências médicas e nascimentos, como o caso de Mahmoud no Charité, são cobertas pelas autoridades locais durante os primeiros 15 meses na Alemanha. Se o pedido de refúgio ainda estiver sendo analisado após 15 meses, os requerentes têm direito ao mesmo sistema de saúde público dos cidadãos alemães. "Seja qual for o caso, os pacientes com emergências médicas – e nascimentos são considerados emergências – nunca são rejeitados", diz Müller.