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UE se divide sobre nova rodada de sanções à Rússia

22 de março de 2022

Reunião de ministros em Bruxelas dá luz verde a ajuda financeira de 1 bilhão de euros à Ucrânia para a compra de armamento. Supostos crimes de guerra e dependência do bloco de combustível russo também foram debatidos.

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Pessoas vestem roupas pesadas contra o frio e carregam sacolas. Ao lado delas, há uma fila de carros também em fuga. Ao fundo, prédios destruídos por bombardeios.
UE e EUA acreditam que ações russas em muitas cidades da Ucrânia caracterizam-se como crimes de guerraFoto: Str/AA/picture alliance

Em meio a acusações de "massivos crimes de guerra" que estariam sendo cometidos pela Rússia em solo ucraniano, a União Europeia segue dividida quanto a possíveis novas sanções a serem impostas a Moscou.

Nesta segunda-feira (21/03), representantes de países do bloco discutiram medidas em Bruxelas e também deram luz verde para dobrar para 1 bilhão de euros o valor de um pacote de ajuda financeira à Ucrânia para a compra de armamentos. 

Uma decisão concreta em relação a uma nova rodada de sanções, no entanto, não ocorreu, uma vez que há divergências entre as nações europeias, representadas nesta segunda por seus ministros do Exterior e da Defesa.

"Hoje não foi um dia para tomar decisões nesta área, portanto, nenhuma decisão foi tomada. O que precisamos é garantir uma resposta eficaz que não leve a um custo incalculável para países-membros", disse o chefe de política externa da UE, Josep Borrell.

Alguns países, como os bálticos e a Irlanda, pressionam por sanções contra as exportações de petróleo da Rússia. Já a Alemanha e outras nações que dependem de combustíveis fósseis russos, têm se mostrado relutantes em relação a sanções contra esse setor.

O debate na UE sobre novas sanções à Rússia ocorre em meio a contínuos bombardeios russos e à situação particularmente grave em Mariupol, no sudeste da Ucrânia. Sitiada por forças russas, a cidade portuária vive uma crise humanitária, com falta de mantimentos, água, energia e aquecimento.

"O que está acontecendo neste momento em Mariupol é um enorme crime de guerra, onde se destrói tudo e se bombardeia tudo, matando todos", disse Borrell, que também acusou a Rússia de pressionar o máximo de ucranianos possível a fugir do país. 

"Estou convencido de que Putin está usando os refugiados como instrumento, como arma, enviando o máximo que pode [para países europeus]", disse Borrell. "Eles [os russos] não destruíram a infraestrutura de transportes, eles só destruíram as cidades para aterrorizar os civis e fazer com que eles fujam."

A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, destacou o aumento dos ataques russos a locais que abrigam civis, como hospitais e teatros. "Os tribunais terão de decidir, mas para mim [essas ações] são claramente crimes de guerra", disse Baerbock.

Até o momento, a ONU estima que mais de 3 milhões milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia, e 13 milhões precisam de ajuda humanitária no país. A maioria, mais de 2 milhões, fugiu em direção à Polônia.

O ministro do Exterior da Irlanda concede entrevista a jornalistas. Ele está ao fundo da foto, com dois jornalistas desfocados, de costas. Ele usa óculos e veste terno e gravata azul-marinho, com camisa branca.
Ministro do Exterior da Irlanda, Simon Coveney, diz que o país pode deixar a neutralidade militarFoto: Getty Images/AFP/J. Thys

Irlanda pode deixar neutralidade militar para trás

O ministro do Exterior da Irlanda, Simon Coveney, comentou que a energia é o setor "mais óbvio para concentrar forças para que as sanções realmente façam efeito". Ele reconheceu que colocar esse tipo de sanção em prática "não é tão simples pelo fato de que vários países da UE têm uma dependência significativa do petróleo e do gás da Rússia".

Coveney afirmou, no entanto, que o encontro de ministros europeus nesta segunda-feira pode ter pavimentado o caminho para que líderes da UE decidam sobre esse tema em uma cúpula marcada para ocorrer ainda nesta semana.

O ministro irlandês também comentou a possibilidade de o seu país se envolver em uma ação militar com outros membros da UE, quebrando, assim, a tradicional neutralidade da Irlanda.

"Quanto a uma força de reação rápida, sim, eu acho que há uma boa chance de estarmos envolvidos nisso", afirmou Coveney, ao ser questionado sobre as forças de resposta imediata da União Europeia, devido às novas estratégias de defesa do bloco desde a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro.

A foto mostra um casal carregando sacolas, em fuga, com um tanque de guerra aof undo.
Mariupol, no sudeste da Ucrânia, vive uma catástrofe humanitária, com falta de mantimentos, água e energiaFoto: Str/AA/picture alliance

Para o Pentágono, há "provas claras" de crimes de guerra

Em conversa por telefone nesta segunda, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e líderes da Alemanha, França, Itália e Reino Unido discutiram uma resposta coordenada do Ocidente à invasão da Ucrânia pela Rússia.

A reunião ocorreu poucos dias antes de uma viagem de Biden à Europa, onde ele se reunirá com aliados da Otan, além de líderes do G7 e da União Europeia.

Nesta segunda, o Pentágono acusou a Rússia de cometer crimes de guerra na Ucrânia e disse que ajudará a reunir provas desses crimes.

"Vemos provas claras de que as forças russas estão cometendo crimes de guerra, e estamos ajudando na coleta de provas disso. Há processos de investigação que devem continuar, e vamos deixar isso seguir em frente", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, durante uma entrevista coletiva de imprensa.

Oleksandra Matviichuk, advogada ucraniana de direitos humanos e chefe do Centro de Liberdades Civis, disse à Deutsche Welle que a organização tem documentado um grande número de violações por parte das tropas russas.

"O Tribunal Penal Internacional terá muito trabalho aqui", disse ela, referindo-se à investigação sobre supostos crimes de guerra na Ucrânia.

Algumas das violações registradas pelo Centro de Liberdades Civis incluem "bombardeio deliberado" de alvos civis, ataques a corredores humanitários, "ataques deliberados" a pessoal médico, o uso de munições de fragmentação e "transferência forçada da população de partes ocupadas para a Rússia", acrescentou Matviichuk.

gb (AFP, Reuters, AP, DW)