Turismo grego luta contra preconceitos de alemães
30 de julho de 2015"Do que, afinal, devemos ter medo?", pergunta a grega Froso Hatsiliadu, de 50 anos, enquanto serve um café. "Temos sol, mar e boa comida. E vamos conseguir sobreviver." A varanda da pequena pensão dela oferece uma bela vista para o mar.
Hatsiliadu vive num vilarejo idílico no norte da Grécia e quase não sente os efeitos da crise. "Quem trabalha no setor de turismo e administra bem o dinheiro quase não sente a crise", afirma. Além da própria pensão, ela trabalha como recepcionista num hotel cinco estrelas, onde está há mais de 20 anos.
O marido dela tem um pequeno restaurante, e o casal ainda cria galinhas e cultiva uma horta.
Somente num ponto a crise se tornou visível para Hatsiliadu: ano após ano, o número de turistas alemães diminuiu. No lugar deles vieram russos, búlgaros, ingleses e, nos últimos tempos, turcos. Somente uns poucos alemães, fãs ardorosos da Grécia, que praticamente já são da família, mantiveram a fidelidade à pensão dela.
Hoje estamos chateados com o que os alemães escrevem sobre nós, comenta Hatsiliadu, que fala um alemão perfeito. Ela morou na Alemanha com os pais até os 8 anos e é apaixonada pela cultura alemã. "De onde vem esses preconceitos? De que somos preguiçosos, não pagamos nossas contas e nosso país é inseguro?", questiona.
"Se eu não tiver nada para comer, sei que posso contar com a ajuda dos meus vizinhos. Os alemães podem dizer o mesmo?"
Hatsiliadu leu nos jornais que os alemães estão com medo de viajar para a Grécia por temerem ataques xenófobos. A notícia a tira do sério. "Por favor, diga a eles que aqui nenhum alemão foi esfaqueado."
Realidade diferente da esperada
O turista alemão Peter Walter está sentado num café. Ele viajou pela primeira vez para a Grécia e só por causa da mulher, que é apaixonada pelas praias gregas. "Cheguei com a firme convicção de que nada mais funciona, que está tudo um caos e as pessoas estão passando fome", comenta.
Walter diz que, entre os seus colegas de trabalho, predomina uma imagem extremamente negativa da Grécia. "Eles pensam que aqui ninguém trabalha nem paga impostos e todos estendem a mão para pedir ainda mais dinheiro para os alemães."
Na Grécia, ele foi confrontado com uma realidade bem diferente. Ele conta que quase ninguém faz a pausa do almoço. "Quase não há filas na frente dos bancos, ninguém reclama das altas dívidas que eles agora têm de pagar", comenta Walter, que se confessa um pouco envergonhado pelos seus preconceitos anteriores. "O único que está em crise aqui sou eu, porque eu não consigo entender por que conhecemos tão pouco essas pessoas e por que confiamos tanto na imagem construída pela mídia."
Outro turista alemão, Harry Herrmann, de 55 anos, diz que não se espanta nem um pouco com situações assim. Esta é a quarta vez que ele passa férias na Grécia. A primeira foi em 2007. Já naquela época seus parentes mais conservadores o alertaram para os "riscos". Herrmann foi mesmo assim.
A experiência dele foi a mesma: a imagem difundida na Alemanha sobre a Grécia e os gregos não tem nada que ver com a realidade. "Desta vez me disseram que as refeições estavam controladas e que o ódio aos estrangeiros, a Merkel e ao Schäuble seria descarregados em mim."
Ele não suporta mais comentários assim, diz Herrmann. Justamente por ouvir coisas assim é que ele decidiu passar suas férias na Grécia mais uma vez. "Afinal, eu sei que nenhum desses preconceitos é verdade."
Ofensas à dona da pensão
A grega Irini Pandeludi, de 65 anos, fica irritada quando se lembra de um casal de aposentados alemães que se hospedou com ela no mês passado. Ela conta que eles ficaram no melhor quarto da pensão, com varanda de frente para o mar, ar condicionado, televisão, internet e o melhor café da manhã da região. Tudo por uma diária de 70 euros.
Ainda assim, o casal se comportou de uma maneira desrespeitosa e até ofensiva, diz a dona da pensão, que há 30 anos trabalha no setor de turismo. "Viemos para ver com os próprios olhos como os gregos são preguiçosos", disse o homem, na cara de Pandeludi.
"Então você pode começar comigo", devolveu a grega. "Temos mais ou menos a mesma idade. Se você conseguir trabalhar o verão inteiro das 6h às 23h, com temperaturas de 30 a 40 graus, sem um dia livre, então poderá se hospedar de graça no próximo verão."
Morar de graça, respondeu o alemão, eles já deveriam: "Depois de todo o dinheiro que vocês já receberam, isso aqui praticamente já nos pertence."
Apesar de todos os preconceitos e do medo infundado de alguns alemães, a associação do setor turístico da Alemanha divulgou nesta semana que a Grécia continua sendo um destino favorito para os alemães e que não houve queda nas reservas em relação a 2014, que já havia sido um ano excepcional.