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Trump esnoba Cúpula das Américas

Clare Richardson md
12 de abril de 2018

Presidente será primeiro líder dos EUA a faltar ao evento, o que deixa claro que região não é prioridade para ele. Mas latino-americanos parecem pouco se importar com a ausência.

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Trump diante de protótipo do muro que pretende construir na fronteira com o México
Trump diante de protótipo do muro que pretende construir: histórico de desavenças com latinosFoto: Getty Images/AFP/M. Ngan

O presidente Donald Trump se orgulha de fazer as coisas a sua maneira, e agora ele pode acrescentar mais uma proeza ao seu currículo: esnobar formalmente os vizinhos continentais dos Estados Unidos. Sua decisão de última hora de não ir à Cúpula das Américas, em Lima, marca a primeira vez que um presidente dos EUA deixa de ir ao encontro de lideranças das Américas do Sul, Central e do Norte.

A planejada visita de Trump seria sua primeira à América Latina e ofereceria a chance de encontros pessoais com seus líderes, para ajudar a aliviar as tensões em torno de problemas como comércio e imigração. Ao enviar o vice-presidente Mike Pence em seu lugar, Trump indica que a região não é uma prioridade para os Estados Unidos. "O cancelamento tardio de Trump envia a mensagem de que ele considera a América Latina o quintal que precisa de pouca manutenção", compara Laura Carlsen, diretora do Programa das Américas do think tank Center for International Policy (CIP).

A razão oficial para o cancelamento foi a necessidade de coordenar a resposta dos EUA à situação na Síria. Outros apontaram a fúria do presidente com a batida feita pelo FBI no escritório de seu advogado pessoal em Nova York e a investigação do procurador especial Robert Mueller sobre o envolvimento do Kremlin em sua campanha. Seja qual for a desculpa, Carlsen não ficou surpreso com a decisão. "Ele não tinha nada para ganhar", avalia.

Figura impopular

Os líderes latino-americanos não demonstraram especial decepção com a mudança de planos de Trump. Ele é uma figura extremamente impopular na região, e, sem dúvida, muitos não estavam ansiosos para conhecê-lo – certamente não gostariam de ser vistos por seus eleitores como simpáticos à agenda do americano.

A empresa de pesquisa Gallup descobriu que o índice de aprovação de Trump na América Latina era de 16% em 2017. Em contraste, o presidente Barack Obama obtinha mais de 50% de popularidade em quase todos os países da América Latina durante seu primeiro ano no governo.

O relacionamento tenso de Trump com a América Latina resulta de uma longa lista de atritos. Ele acusou o México de enviar traficantes, estupradores e criminosos para os Estados Unidos. Sua administração cancelou a proteção para imigrantes da Nicarágua, El Salvador e Honduras que vivem nos EUA há anos. Sem conseguir fundos suficientes do Congresso para cumprir sua promessa de campanha de construir um muro na fronteira mexicana – ou fazer com que o México pague por ela – ele anunciou, apenas poucos dias antes da cúpula, que enviaria milhares de integrantes da Guarda Nacional para militarizar a área.

Venezuela será tema

Funcionários do governo dos EUA têm afirmado que um dos principais objetivos dos Estados Unidos na cúpula é promover o país como um parceiro comercial de primeira linha, dando uma resposta às incursões da China na região. "Eles estão muito claramente focados num cenário de 'ou eles ou nós' em termos da presença do governo dos EUA e do governo chinês na região", avalia Carlsen. É uma meta excessivamente otimista, que exigiria o fim de laços comerciais fortes. "As chances de que qualquer país ou empresa privada diga que vai romper os laços com os chineses e se unir aos EUA são mínimas."

As negociações trilaterais do Nafta poderiam ter sido um ponto alto da cúpula. Após usar o acordo como instrumento de barganha para que o México fortifique sua fronteira, Trump poderia ter realizado uma reunião trilateral em Lima, com o México e o Canadá, para mostrar apoio a uma renegociação bem-sucedida do acordo.

Autoridades dos EUA também pretendem usar a cúpula para aumentar a pressão sobre a Venezuela e seu presidente, Nicolás Maduro, enquanto o país enfrenta uma grande crise humanitária, que inclui escassez de alimentos e suprimentos médicos. Maduro também cancelou sua participação.

No mês passado, os EUA anunciaram o fornecimento de 2,5 milhões de dólares de ajuda humanitária à Colômbia para ajudar mais de meio milhão de venezuelanos que fugiram para o país. No entanto, a cúpula poderia servir de cenário para pressionar por mais ação. "Considerando a escala [da crise], alguns milhões de dólares são apenas uma gota no balde para o que é realmente necessário", diz Jason Marczak, diretor do Adrienne Arsht Latin America Center, do think tank Atlantic Council. "Se espera que na cúpula haja um foco real não apenas na assistência financeira, mas também em ajudar os países a lidar com o afluência de pessoas que os alcançam."

Sem papel de liderança

Se o atual diretor da CIA, Mike Pompeo, for confirmado como o novo secretário de Estado dos EUA, é provável que o Departamento de Estado assuma um protagonismo maior do que sob seu antecessor, Rex Tillerson. "Como o presidente confia [em Pompeo], espero que o Departamento de Estado exerça um papel de maior liderança nas questões latino-americanas do que até agora", diz Marczak.

Pompeo vai se unir a Pence na representação dos EUA na Cúpula das Américas, que começa nesta sexta-feira (13/04). No entanto, tanto Trump quanto os líderes latino-americanos parecem pouco se importar com a oportunidade perdida de um encontro pessoal. "Os Estados Unidos não estão em posição de oferecer liderança para um continente em crise, e as nações da região estão pouco dispostas a procurar respostas de Washington", afirma Carlsen.

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