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Como as crianças brincam pelo mundo

Nicolas Fischer
4 de julho de 2023

O fotógrafo italiano Gabriele Galimberti fotografou crianças e seus brinquedos favoritos ao redor do globo. O que será que une esses personagens?

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Foto da série “Toy Stories”, do fotógrafo italiano Gabriele Galimberti, vencedor do World Press Photo Award | Menino sentado em encosto de um sofá repleto de armas de brinquedo. No centro do móvel, um capacete policial.
Pavel, de Kiev, quer ser policial quando crescerFoto: Gabriele Galimberti

Pavel, de Kiev (cinco anos na época da foto), não tem dúvidas: ele quer ser policial quando crescer. O menino simplesmente ama suas armas e brinca com elas o dia todo. Seu irmão mais novo, por exemplo, vive sendo preso, algemado e interrogado - sob acusações de roubo de carrinhos de brinquedo. O capacete de policial britânico visto na foto é um presente que a melhor amiga de sua mãe lhe trouxe de Londres. "É o melhor presente que já ganhei", conta Pavel, com orgulho.

O fotógrafo italiano Gabriele Galimberti
O fotógrafo italiano Gabriele GalimbertiFoto: Gabriele Galimberti

Os brinquedos são os "bens mais valiosos" das crianças em todo o mundo - "do Texas à Índia, do Malawi à China, da Islândia ao Marrocos e às Ilhas Fiji", diz o fotodocumentarista italiano Gabriele Galimberti. Seu objetivo era capturar a "alegria espontânea e natural que une as crianças, apesar de suas diferentes origens". E isso independentemente de uma criança ter muitos, poucos ou talvez nenhum brinquedo que possa chamar de seu. "O orgulho que uma criança tem de seus brinquedos é comovente, divertido e instigante", diz Galimberti.

"Toy Stories" surgiu por acaso

Em entrevista à DW, o fotógrafo conta que a inspiração para o ensaio Toy Stories surgiu meio que por acaso entre 2010 e 2011, quando, ao longo de dois anos, ele viajou por 58 países no contexto de um projeto para o jornal italiano La Repubblica sobre o serviço de hospitalidade oferecido pela plataforma Couchsurfing. "Eu basicamente viajava, dormia na casa dos outros e compartilhava histórias de todo o mundo."

Algumas semanas antes, um amigo lhe havia pedido para fotografar sua filha Alessia, com quatro anos na época. Quando o fotógrafo chegou, Alessia estava no estábulo do avô separando seus brinquedos. Galimberti decidiu ajudar a menina e a aconselhou a organizar tudo de acordo com a forma e a cor. Foi assim que — sem saber no momento — surgiu a primeira foto de Toy Stories.

Galimberti gostou do resultado e resolveu fazer mais fotos como essa ao longo de sua viagem de dois anos pelo mundo. Dito e feito. E até hoje, o longo ensaio ainda não teve fim. "É um projeto em andamento", diz Galimberti, cujo livro Toy Stories, publicado em novembro de 2014, será agora seguido por Toy Stories 2, com publicação prevista para o ano que vem — dez anos depois.

Diferenças entre ricos e pobres

Ele mesmo criou suas próprias regras para o ensaio, como só fotografar crianças com idades entre três e seis anos."Calculei que essa é a faixa etária em que só nos preocupamos com brincar. Ainda não há o problema da aprendizagem, digamos assim", conta Galimberti à DW.

Com crianças de famílias mais ricas, às vezes demorava um pouco mais até conquistar a confiança delas, para que ele também pudesse brincar e elas ficassem afinal felizes em serem fotografadas. Às vezes, essas crianças são "um pouco mais possessivas com o que têm", diz o fotógrafo. Por outro lado, em regiões mais pobres, como nos países africanos, ele costumava entrar na brincadeira rapidinho. Segundo Galimberti, foi "um pouco mais fácil tirar fotos em lugares onde há menos", embora ressalte que não pretende generalizar essa observação.

Semelhante a outros ensaios fotográficos de sua autoria, como Ameriguns, Home pharma, In her kitchen, Galimberti posiciona os objetos (armas, remédios, utensílios de cozinha e brinquedos, no caso de Toy Stories) com muita precisão ao redor de seus protagonistas. E isso apesar de ser sabido de todos — para o desespero de mães e pais pelo mundo — que quartos de crianças são uma bagunça.

Uma "marca registrada"

"Talvez porque eu goste de ordem", explicou o fotógrafo em entrevista à DW. "É a minha marca registrada. Nós vemos pessoas, é claro, mas também vemos números. Mais ou menos como um infográfico. É a minha maneira de fotografar pessoas, objetos e posses."

Em 99% do tempo, as crianças se divertiram muito organizando seus brinquedos, diz o fotógrafo. Se isso não fosse verdade, ou se as crianças tivessem realmente chorado, ele conta que teria se afastado imediatamente. Quando muito, às vezes, era necessária a mediação dos pais.

Foto da série “Toy Stories”, do fotógrafo italiano Gabriele Galimberti, vencedor do World Press Photo Award | Menino sentado em cabeceira de cama com joysticks de videogames dispostos sobre ela.
Videogames também figuram entre os brinquedos favoritos de alguns, como Louis, de Buena Vista, na ColômbiaFoto: Gabriele Galimberti

Ele enfatiza ainda que o tipo de retrato que escolheu reflete seu jeito de contar histórias. "Gosto de interagir com as pessoas. Não sou muito bom em fotografar paisagens ou coisas. Mas as pessoas que fotografei são sempre pessoas com quem tenho alguma ligação pois passo tempo com elas."

A fotografia é "uma das linguagens mais vivas e faladas do planeta pois todos a entendem", defende Galimberti. Para ele, a fotografia pode ajudar a encurtar distâncias e contribuir para uma melhor compreensão intercultural.

Nascido em 1977, o fotógrafo documentarista italiano Gabriele Galimberti trabalha para revistas e jornais internacionais como National Geographic, Sunday Times, Stern, Geo, Le Monde, La Repubblica e Marie Claire. Suas imagens foram exibidas em exposições ao redor do mundo. Em 2021, ele ganhou o World Press Photo Award por sua série de retratos The Ameriguns.