1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Temperatura média global fecha 12 meses seguidos de recordes

Louise Osborne
5 de junho de 2024

Maio foi, mais uma vez, de temperatura média recorde para o mês, como também os 11 meses anteriores. Aquecimento global está tornando mais intensos e frequentes eventos extremos, como enchentes e secas.

https://p.dw.com/p/4ggHt
Pessoas caminham em rua inundada do bairro da Cavalhada, em Porto Alegre
No Rio Grande do Sul, chuvas causaram graves inundações em Porto Alegre e em outras cidadesFoto: Diego Vara/REUTERS

Ao longo dos últimos 12 meses, a temperatura global média bateu recordes mês após mês, numa série consecutiva "chocante", como diz o diretor do Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas do programa Copernicus (C3S), Carlo Buontempo.

Maio foi o 12º mês consecutivo em que a temperatura média global atingiu um valor recorde para o respectivo mês. Em maio a temperatura média atingiu 1,52°C acima dos níveis pré-industriais, de acordo com os dados do C3S divulgados nesta quarta-feira (05/06). É o 11º mês acima de 1,5°C. 

"Embora essa sequência de meses recordes vá em algum momento ser interrompida, a influência das alterações climáticas se mantém e não há sinais de uma alteração nessa tendência", afirma Buontempo.

Após a divulgação dos dados, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a proibição da publicidade do petróleo, gás e carvão- as principais causas do aquecimento global. "Na questão do clima, não somos os dinossauros. Somos o meteorito. Não estamos apenas em perigo. Somos o perigo”, disse Guterres.

Em 2015, os países do mundo concordaram em limitar o aquecimento global a bem menos do que 2°C acima dos níveis pré-industriais, até mesmo tentando limitá-lo a 1,5°C, no âmbito do Acordo de Paris.

Nos últimos 12 meses, as temperaturas médias globais ficaram 1,63°C acima dos níveis medidos entre 1850 e 1900, antes da industrialização. No entanto, isso não significa que o limite de 1,5°C já tenha sido quebrado, pois o cálculo final das temperaturas médias considera décadas e não anos isolados. Até o momento, estima-se que o aumento da temperatura média global esteja entre 1,2°C e 1,3°C.

O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, com as temperaturas elevadas pelas alterações climáticas (que por sua vez são impulsionadas pela queima humana de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás), mas também influenciadas pelo fenômeno natural El Niño, que naturalmente aumenta as temperaturas.

Ainda assim, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma agência da ONU, afirmou num relatório, também divulgado nesta quarta-feira, que ao menos um entre os próximos cinco anos, de 2024 a 2028, deverá bater o recorde de 2023.

"Durante o ano passado, a cada troca de mês elevava-se o calor. O nosso planeta está tentando nos dizer algo, mas parece que não estamos ouvindo", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres. "Chegou a hora de nos mobilizarmos, de agirmos e de apresentarmos resultados."

Seca na Índia, enchente no Rio Grande do Sul

O aquecimento global está levando a eventos meteorológicos cada vez mais extremos, como ondas de calor mais longas e mais quentes, com secas e incêndios florestais, ou chuvas mais intensas, seguidas de enchentes.

Na Índia, as últimas semanas foram marcadas por ondas de calor implacáveis, com temperaturas que chegaram a cerca de 50°C em algumas regiões, matando ao menos 50 pessoas.

No Rio Grande do Sul, chuvas causaram graves inundações, que desalojaram mais de meio milhão de pessoas. Cientistas que estudam as ligações entre o clima extremo e as mudanças climáticas estimaram que as chuvas tiveram uma probabilidade duas vezes maior de ocorrerem e de terem sido até 6% mais intensas como resultado do aquecimento global.

Os mais vulneráveis são os mais afetados

O aquecimento global está tendo um impacto especial no setor de trabalho informal. Os trabalhadores da linha de frente da agricultura e da construção civil, por exemplo, não têm ar-condicionado e não conseguem evitar o calor extremo, observa a pesquisadora climática indiana Avantika Goswami.

Homem tenta se refrescar com água em Amritsar, na Índia
Na Índia, as últimas semanas foram marcadas por ondas de calor implacáveis, com temperaturas que chegaram a cerca de 50°CFoto: Matrix Images/picture alliance

"Eles estão absolutamente expostos", disse ela à DW. "O estresse por calor não é apenas um enorme desafio de produtividade em termos de força de trabalho e impactos econômicos, mas também uma enorme crise de saúde pública."

Mas são os mais vulneráveis – idosos, pessoas com deficiências e crianças – que correm mais riscos de sofrer as consequências das mudanças climáticas.

Estima-se que cerca de 1,2 bilhão de crianças estejam vivendo em áreas altamente sensíveis às mudanças climáticas, mas são os menores de 5 anos que correm mais risco, disse a diretora de saúde e nutrição da ONG Save the Children, Revati Phalkey.

"As crianças nascidas agora estarão expostas a eventos climáticos extremos mais frequentes, mais intensos e mais severos", disse Phalkey à DW. "Crianças muito pequenas têm capacidade limitada de regular a temperatura do corpo, e é por isso que elas sofrem com mais frequência de estresse por calor, porque elas não conseguem lidar com isso tão bem quanto os adultos."

Ações climáticas internacionais

Mais de 6 mil negociadores estão participando esta semana de negociações sobre o clima em Bonn, na Alemanha, para estabelecer as bases para uma nova meta financeira que deverá ser decidida na cúpula COP29, em Baku, no Azerbaijão, no fim de 2024.

Os países em desenvolvimento, que são os que menos contribuíram para as mudanças climáticas, enfrentam desproporcionalmente mais impactos. Os governos dessas nações estão pedindo mais dinheiro para que possam reduzir suas emissões de dióxido de carbono, mas também para ajudar as comunidades a lidar com eventos climáticos extremos.

Falando na conferência, Goswami, que mora em Nova Déli e vivenciou as altas temperaturas na Índia, disse que há pouca compreensão nos países industrializados sobre a escala dos impactos que muitas pessoas estão sofrendo.

"Há uma inércia coletiva que nasce dessa incapacidade de entender que há uma ligação muito direta entre as ações passadas e presentes e o sofrimento pelo qual se passa hoje", acrescentou.

Além de defender um aumento no financiamento, Goswami diz que é preciso haver uma eliminação completa dos combustíveis fósseis, com espaço para que os países em desenvolvimento façam a transição gradualmente. 

Embora isso não impeça o aumento das temperaturas no curto prazo devido às concentrações de dióxido de carbono já existentes na atmosfera, no longo prazo só o fim da queima de combustíveis fósseis poderá evitar os piores impactos das mudanças climáticas.