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PolíticaAfeganistão

Talibã ocupa segunda maior cidade do Afeganistão

13 de agosto de 2021

Avançando a ritmo acelerado sobre o território do país, insurgentes tomam Kandahar e já controlam mais de um terço das capitais regionais afegãs. EUA enviam 3 mil soldados para retirar seus cidadãos de embaixada.

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Combatentes talibãs sobre veículo da polícia em Kandahar
Combatentes talibãs sobre veículo da polícia em KandaharFoto: AFP via Getty Images

O Talibã assumiu o controle de Kandahar, a segunda maior cidade do Afeganistão, disseram nesta sexta-feira (13/08) um porta-voz do grupo fundamentalista islâmico e autoridades do governo local.

Um integrante do governo local confirmou à agência de notícias Reuters que os militantes haviam tomado a cidade após "fortes confrontos na noite passada".

Desde que a retirada das tropas dos EUA e da Otan do Afeganistão começou em maio, o país está mergulhado em turbulência, com os fundamentalistas obtendo rápidos ganhos territoriais.

Um porta-voz do Talibã afirmou nesta sexta-feira que "Kandahar foi completamente conquistada" pelos militantes do grupo.

Segundo a agência de notícias AFP, moradores de Kandahar afirmaram que as forças do governo afegão aparentemente se retiraram para uma instalação militar nos arredores ao sul da cidade.

Avanços rápidos

A vitória do Talibã ocorre após uma série de avanços territoriais na quinta-feira. Desde seis de agosto, elas assumiram o controle sobre 14 das 34 capitais provinciais do Afeganistão, segundo levantamento da Reuters.

Os insurgentes agora controlam a terceira maior cidade, Herat, e Ghazni, estrategicamente importante capital provincial a apenas 150 quilômetros de Cabul, dando aos militantes uma rota para a capital do país a partir de seus redutos no sul.

Oficiais de defesa dos EUA alertaram recentemente que os talibãs poderiam isolar Cabul em um mês e possivelmente invadi-la em 90 dias.

Também foi amplamente divulgada a notícia de que o Talibã capturou Lashkar Gah, capital da província de Helmand, no sul – maior província do Afeganistão.

A conquista da capital de Helmand ressoou de forma particular no Reino Unido. A província sediou a base central das operações britânicas no Afeganistão de 2006 e 2014, e é onde ocorreu a grande maioria das 457 mortes de militares do Reino Unido durante a ocupação do país asiático. 

As tropas britânicas haviam sido enviadas à província para oferecer estabilidade e segurança para projetos de reconstrução, mas rapidamente se viram envolvidas em operações de combate. Os militares que patrulhavam o local foram alvos de constantes emboscadas dos insurgentes, que aproveitavam seu melhor conhecimento do local. 

EUA e Reino Unido enviam tropas

Horas antes de o Talibã reivindicar o controle de Kandahar, os EUA anunciaram planos de enviar 3 mil soldados temporariamente para ajudar na retirada do pessoal da sua embaixada.

Outros mil soldados americanos serão enviados ao Catar para apoio técnico e logístico, e entre 3,5 mil e 4 mil serão posicionados no Kuwait para serem enviados, se necessário.

"Temos avaliado a situação da segurança todos os dias para determinar a melhor forma de manter seguros os que servem na embaixada", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price. Ele acrescentou que a representação não será fechada, mas terá sua ocupação reduzida a um núcleo restrito.

O Reino Unido também está enviando cerca de 600 soldados para o Afeganistão para ajudar na retirada de cidadãos britânicos no país, segundo o secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace.

A agência de notícias Associated Press citou uma fonte não identificada dizendo que o Canadá também enviaria forças especiais para retirar os funcionários de sua embaixada em Cabul.

Imagens de televisão mostraram diversas famílias acampando em um parque de Cabul, com praticamente nenhuma estrutura, para escapar da violência em outras regiões do país.

A Organização das Nações Unidas afirmou que uma ofensiva do Talibã sobre Cabul teria "um impacto catastrófico nos civis", mas que havia pouca esperança em uma negociação para colocar um fim nos combates e que os insurgentes estavam a caminho de uma vitória militar. 

EUA reiteram apoio à diplomacia

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que ele e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, asseguraram na quinta-feira ao presidente afegão, Ashraf Ghani, que Washington está empenhado em apoiar uma solução diplomática para o conflito "e para nossa duradoura parceria com o povo afegão".

Na quinta-feira, as negociações entre atores internacionais e representantes do Talibã e do governo afegão foram encerradas no Catar após três dias de reuniões sem avanços significativos.

Vários países, incluindo EUA, Paquistão, União Europeia e China, assinaram uma declaração conjunta dizendo que não reconheceriam nenhum governo no Afeganistão "imposto pelo uso de força militar".

No final do dia, Blinken discutiu planos para conter a violência no Afeganistão com seus colegas de Canadá e Alemanha, bem como com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA.

A velocidade da ofensiva provocou críticas à decisão do presidente americano Joe Biden de retirar as suas tropas do país, 20 anos após elas terem derrubado o Talibã do poder como resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro. 

Biden disse que não se arrepende da sua decisão, citando que seu país gastou mais de 1 trilhão de dólares durante a sua mais longa guerra e viu milhares de seus militares morrerem no conflito. 

O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, afirmou que a estratégia de saída do país estava fazendo os Estados Unidos lembrar da "humilhante queda de Saigon em 1975", e pediu que o presidente ofereça mais apoio às forças afegãs. 

md/lf (AFP, Reuters, AP)