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SPD adota modelo de liderança com paridade de gênero

25 de junho de 2019

Partido mais antigo da Alemanha decide seguir liderança dupla, com um homem e uma mulher no comando. Com baixos índices de popularidade, sociais-democratas procuram novas ideias para restaurar base partidária.

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Deutschland Berlin SPD Pressekonferenz mit Manuela Schwesig, Thorsten Schaefer-Guembel und Malu Dreyer
Liderança interina do SPD: Manuela Schwesig, Thorsten Schaefer-Guembel e Malu DreyerFoto: Reuters/A. Hilse

O Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha anunciou na segunda-feira (24/06) que decidiu adotar um modelo de "liderança dupla", com um homem e uma mulher no comando da legenda.

A decisão vem num momento em que a sigla está lutando para manter sua relevância entre os eleitores do país, depois de quase seis anos como parceiro da coalizão de governo da chanceler federal, Angela Merkel.

Ao longo desses anos, o SPD viu encolher seu índice de aprovação de 25,7% (nas eleições gerais de 2013) para 15,8% (na eleição para o Parlamento Europeu deste ano).

Algumas pesquisas de opinião apontam que o partido – que já teve a preferência de 40% dos eleitores alemães – definhou atualmente para 12%, empatado com a populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e muito atrás de um ressurgente Partido Verde (20%).

Um cálice envenenado?

A renúncia da presidente Andrea Nahles no início de junho, depois do fracasso social-democrata nas eleições europeias, deixou um vácuo de poder no SPD, algo que poucos nomes importantes dentro da legenda parecem dispostos a preencher.

A decisão de Nahles ocorreu aparentemente sob uma nuvem de recriminação interna. Até agora, o ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, o ministro do Trabalho, Hubertus Heil, e o governador da Baixa Saxônia, Stephan Weil, recusaram-se a beber do cálice envenenado.

O abalado partido deverá eleger um novo líder em outubro, embora uma nova rodada de votação tenha de acontecer caso o resultado não seja conclusivo.

Atualmente, o SPD se encontra sob a liderança interina de três políticos importantes: Malu Dreyer, governadora do estado da Renânia-Palatinado, Manuela Schwesig, governadora do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, e Thorsten Schäfer-Gümbel, chefe do SPD em Hessen. Trata-se de líderes respeitados, embora todos tenham até agora se recusado a concorrer à presidência partidária.

Líderes "exaustos"

A questão mais urgente para o SPD parece não ser como, mas quem. Um dos membros mais proeminentes do partido, Martin Dulig, secretário de Economia no estado da Saxônia, onde o SPD está atualmente em quinto lugar, admitiu na segunda-feira ao jornal Welt que os atuais líderes nacionais pareciam um pouco "exaustos".

Segundo Gero Neugebauer, cientista político da Universidade Livre de Berlim, isso se deve em parte ao fato de os líderes nacionais do partido estarem muito associados ao governo de Angela Merkel.

Muitos analistas políticos culpam o declínio do SPD ao efeito sufocante do governo de Merkel, que adotou muitas das políticas dos sociais-democratas, com vários eleitores achando seu partido de centro-direita, a União Democrata Cristã (CDU), quase indistinguível de seu parceiro de coalizão, o SPD.

"Trabalha-se no pressuposto de que é preciso escolher alguém que não possa estar ligado aos antigos problemas do SPD", disse Neugebauer à DW. Mas a alternativa é nomear alguém da administração local – um prefeito bem-sucedido, por exemplo.

Para Matthias Micus, especialista em SPD no Instituto de Pesquisa da Democracia em Göttingen, isso significaria escolher um líder com pouca experiência. "As habilidades de um prefeito bem-sucedido não são as de um líder partidário", apontou.

Mais mulheres

O impulso inicial para o novo modelo de dupla liderança veio da organização de mulheres do SPD, o Grupo de Trabalho das Mulheres Social-Democratas (ASF). Neugebauer disse não ter se impressionado com a proposta, argumentando que "os defensores dessa ideia são fascinados pelo sucesso dos verdes" – um partido que por muito tempo teve um liderança dupla, um homem e uma mulher.

Mas a nova chefia do SPD deve mostrar aos eleitores mais do que a dança das cadeiras ou um discurso vão sobre a igualdade de gênero, advertiu o especialista. "Acho que a maioria do eleitorado sabe que a troca de pessoal não faz diferença para o SPD se essas pessoas não estiverem associadas a uma orientação política clara."

Matthias Micus, por outro lado, disse achar que uma dupla liderança faz muito sentido para os sociais-democratas. "O SPD é um partido enormemente heterogêneo no que tange a seus eleitores", disse o especialista à DW. "Essa integração não pode ser alcançada por uma pessoa sozinha."

Voto aberto a não membros

Atualmente, Thomas Oppermann, vice-presidente do Bundestag (câmara baixa do Parlamento), sugeriu uma medida ainda mais drástica para tornar seu partido novamente relevante: permitir que não membros do SPD participem da votação para liderança do partido e/ou escolha do candidato a chanceler federal.

Seu plano permitiria que qualquer pessoa disposta a gastar 5 euros (por volta de 22 reais) para custear as despesas poderia participar da escolha da liderança partidária. A ideia seria escolher líderes que "tivessem um apelo não apenas para os membros do partido, mas também para a população".

Em entrevista ao grupo de mídia Funke, Oppermann admitiu que esse seria um "passo corajoso". "Sem a coragem e a disposição de assumir riscos, sem tentar novos caminhos, o SPD não sairá de seu porão. Mas se mostrarmos nossa abertura e oferecermos participação real, vamos fazer do SPD mais uma vez um projeto social."

Como advertiu Micus, essa ideia foi tentada em outros países por outros partidos de centro-esquerda ou socialistas, mas teve pouco efeito quando a escolha não estava vinculada ao programa político. Esse pode ser o maior problema do SPD – independentemente de quem o lidera.