Soldados alemães no exterior são tema polêmico, mas não mobilizam campanha
18 de setembro de 2013O partido A Esquerda é o único na Alemanha que defende a retirada total de soldados alemães de missões no exterior, inclusive do Afeganistão. "Meus estrategistas de campanha eleitoral me dizem que não se ganha votos com política externa, mas não acredito totalmente nisso", afirma o deputado Jan van Aken.
No momento, 41 mil soldados das Forças Armadas alemãs estão estacionados no norte do Afeganistão. Ao contrário de A Esquerda, os outros partidos do país não acreditam que esta seja uma missão fracassada, lembrando a reconstrução do país e o treinamento dos afegãos, que a partir de 2014 irão cuidar da própria segurança. Mesmo assim, a difícil missão foi considerada um marco no que diz respeito à avaliação de missões das Forças Armadas no exterior.
Processo doloroso de aprendizado
A constatação de que tanto o governo quanto o Parlamento subestimaram os desafios da missão é consenso entre os partidos. "Não posso imaginar que iríamos mais uma vez tentar estabilizar um país inteiro usando tropas de 50 nações e pessoas mais de 80 nações em missões civis", avalia o social-democrata Hans-Peter Bartels. "É possível que a diversidade de ajuda externa na reconstrução dificulte a formação da identidade de um país", arrisca o deputado em entrevista à DW.
Se, por um lado, as ambições iniciais eram muito altas, os equipamentos militares foram insuficientes. No início da missão, em 2002, a Alemanha enviou algumas centenas de soldados, que patrulhavam Cabul a pé. A missão era, naquele momento, considerada de curto prazo, a fim de estabilizar a capital afegã. Mas acabou ficando claro que essa avaliação da comunidade internacional era errônea: os talibãs continuaram aterrorizando a população, o governo central era fraco demais, o Exército e a polícia encontravam-se num estado deplorável.
Soldados de quase 50 nações foram se juntando às tropas da Isaf – no ano de 2010, já eram 130 mil homens no lugar dos cinco mil iniciais. No entanto, os resultados não foram muito satisfatórios. O então ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, da conservadora União Social Cristã (CSU), foi o primeiro membro do governo a falar em "guerra" no Afeganistão, já que a missão no país havia começado há mais de oito anos.
A operação parecia cada vez mais um beco sem saída. Além disso, surgiram turbulências internas no país: o ataque aéreo comandado por um oficial alemão em setembro de 2009, que deixou um saldo de dezenas de civis mortos, acabou levando à renúncia do então ministro alemão da Defesa, Franz Josef Jung.
Definir metas, disponibilizar meios
Pelo menos 35 soldados alemães morreram até agora na missão no Afeganistão – considerando dados de agosto de 2013. Nessas alturas, a retirada das tropas de combate já começou e deverá se encerrar em fins de 2014. Em caso de missões futuras, é preciso pensar desde o início numa estratégia de retirada, exige o Partido Liberal Democrata (FDP), que forma a coalizão de governo ao lado da CDU.
O Partido Verde já defendeu que funcionários afegãos da Bundeswehr deveriam receber ofertas de emprego na Alemanha depois que as tropas se retirarem, tendo em vista que os funcionários locais temem por suas vidas após a saída das tropas estrangeiras.
Quais serão as missões do futuro?
No que diz respeito às missões das Forças Armadas alemãs no exterior, os partidos mantêm uma postura vaga, mesmo depois da experiência no Afeganistão. "Uma missão correta é aquela na qual você não se sente responsável, a qualquer custo, pela solução do conflito", argumenta o social-democrata Hans-Peter Bartels. Segundo ele, "as alianças regionais são as primeiras às quais teríamos que perguntar se podem fazer alguma coisa", sugere o deputado.
Já para os democrata-cristãos, os ataques de piratas a navios de carga, por exemplo, já são um argumento para mobilizar a Bundeswehr. Na campanha eleitoral, justifica-se isso indiretamente com interesses econômicos. Social-democratas e verdes, por outro lado, defendem mecanismos de prevenção de crises e solução de conflitos. E a Esquerda dá um passo além, ao afirmar que os recursos que irão sobrar com o fim das missões no exterior deveriam ser investidos na formação de forças de paz.
Posições incompatíveis
Devido ao seu passado de guerras, até os anos 1990 os alemães foram muito reticentes quanto à participação de seus soldados em conflitos armados.
Embora questões de política de segurança não sejam decisivas para os resultados das eleições parlamentares, elas podem desempenhar um papel importante na formação de alianças de governo. Por exemplo: A Esquerda não quer de forma alguma participar de um governo que permita as missões de combate da Bundeswehr no exterior.
Esta é uma das razões pelas quais uma coalizão entre social-democratas, verdes e esquerdistas – que em termos numéricos proporcionaria uma maioria parlamentar – parece improvável após as eleições de 22 de setembro.