Shevardnadze seria bem-vindo à Alemanha
24 de novembro de 2003No momento em que o presidente da Géorgia cedia às pressões popular e da oposição, no domingo (23), após três semanas de protestos, e decidia ir para casa escrever suas memórias, o porta-voz do governo alemão Bela Anda anunciava em Berlim: se Eduard Shevardnadze decidir vir para a Alemanha, ele será bem-vindo por causa de seus méritos na unidade alemã.
Até a manhã desta segunda-feira (24) era desconhecido o paradeiro do ex-presidente acusado de corrupção e responsabilizado pela grave situação em que seu país se encontra. A oposição dizia que ele havia deixado o país, mas seu porta-voz em Tbilisi garantia que Shevardnadze, de 75 anos, permanecia na Geórgia, onde possui vários imóveis.
Gratidão alemã
- Os alemães são gratos a Shevardnaze por causa do papel que desempenhou como importante negociador da União Soviética nas conversações que levaram ao acordo sobre o fim da República Democrática Alemã (RDA), comunista, e a consequente reunificação das duas Alemanhas. Ele foi ministro soviético das Relações Exteriores de 1985 a 1990, no tempo do presidente Mikhail Gorbatchov.Shevardnadze foi o primeiro presidente da Geórgia, depois da independência do país em 1991. Ele assumiu o poder como uma grande esperança da população da ex-república soviética. Mas a decepção veio logo. Por último, na medida em que aumentavam os protestos na Geórgia por causa de várias irregularidades no seu governo, como corrupção e suspeita de fraude na eleição do novo parlamento em 2 de novembro, surgiram notícias de que Shevardnadze estaria preparando seu exílio na Alemanha. Para isso, ele teria comprado uma mansão em Baden-Baden por 11 milhões de euros.
Resistência & alarme
- Shevardnadze ainda tentou resistir às pressões, decretando estado de emergência e despertando temores com declarações de que uma virada política na Geórgia poderia terminar em banho de sangue. Mas ele não resistiu às pressões depois que manifestantes invadiram a sede do parlamento, no domingo, enquanto fazia o seu primeiro discurso depois da eleição suspeita e a Guarda Nacional passava para o lado da oposição.O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Igor Ivanov, foi bem sucedido na sua mediação entre as partes em conflito. Pressionado por todos os lados, Shevardnadze assinou sua renúncia. A líder oposicionista e presidente do parlamento, Ninó Burdzhanadze, assumiu a Presidência da Geórgia interinamente. Cerca de 50 mil pessoas festejaram o fim da era Shevardnadze a noite inteira.
Eleições antecipadas
- A situação ainda amanheceu tensa nesta segunda-feira. Em seu primeiro pronunciamento à nação, transmitido pela tevê, a nova chefe de Estado, Ninó Burdzhanadze, de 39 anos, exortou o povo à ordem e à tranqüilidade. Confirmou, ao mesmo tempo, a convocação de eleições para a Presidência e o novo parlamento dentro de 45 dias, como prevê a Constituição.Burdzhanadze esclareceu que quer tanto prosseguir com os esforços para o ingresso da Geórgia na União Européia e na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) quanto melhorar as relações do país com a Rússia. Durante a madrugada, ela havia convocado os altos funcionários da segurança nacional para que jurassem lealdade à sua administração interina.
Participou do encontro o presidente do Conselho de Segurança Nacional, Tedo Djaparadnadze, que havia sido demitido no domingo por Shevardnadze, porque admitira fraude na eleição de 2 de novembro.