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Resquícios da Stasi

9 de julho de 2009

Debate ganha nova dimensão na Alemanha após Departamento Federal de Investigações confirmar que emprega 23 ex-funcionários da Stasi – um deles é guarda-costas da chanceler federal Angela Merkel.

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Arquivos da StasiFoto: AP

Cerca de 17 mil ex-funcionários da Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, teriam permanecido na administração pública dos estados do leste alemão após a reunificação, segundo uma reportagem da edição desta quinta-feira (09/07) do jornal Financial Times Deutschland.

De acordo com informações do jornal, seriam 2.247 ex-funcionários da Stasi em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, 2.942 em Brandemburgo, 800 na Turíngia, 4.400 na Saxônia-Anhalt, 2.733 em Berlim e 4.101 na Saxônia.

O debate foi retomado na Alemanha na semana passada, após denúncias na imprensa alemã de que haveria cerca de cem ex-funcionários da Stasi trabalhando no Departamento Estadual de Investigações (LKA) de Brandemburgo. O governo em Potsdam confirmou 58 casos.

Na quarta-feira, também o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA) confirmou a incorporação de 48 funcionários da Stasi após a reunificação, 23 dos quais continuam exercendo suas funções até hoje. Dois trabalham no alto escalão e um pertence ao grupo de guarda-costas da chanceler federal, Angela Merkel.

Após a reunificação da Alemanha, os funcionários públicos do lado oriental foram submetidos a avaliações para verificar se estiveram envolvidos com a Stasi. Os testes variaram de um estado para o outro. Em alguns deles, qualquer envolvimento já impedia o funcionário de continuar trabalhando para o Estado. Outros verificaram exatamente qual função era exercida.

'Higiene política'

O pesquisador Klaus Schroeder, especialista em Alemanha Oriental da Universidade Livre de Berlim, exigiu transparência dos estados alemães em relação ao assunto. "Essas dimensões eram desconhecidas até o momento", declarou ao Financial Times Deutschland. "Os testes foram muito padronizados e superficiais", criticou.

Gerhard Ruden, responsável pelos arquivos da Stasi em Magdeburg, capital da Saxônia-Anhalt, afirmou ser necessária uma reavaliação de todo os servidores públicos, pois somente hoje a maior parte da documentação da época está disponível. "É uma questão de higiene política", salientou.

O diretor do memorial às vítimas da Stasi no bairro berlinense de Hohenschönhausen, Hubertus Knabe, cobrou consequências em entrevista ao site do jornal Handelsblatt.

"O mínimo que se espera é que antigos funcionários da Stasi não exerçam funções de comando nem tenham influência sobre decisões de pessoal", afirmou. Ele disse que mais da metade dos funcionários da Stasi continuam trabalhando na administração pública do lado oriental e que seria praticamente impossível demitir essas pessoas agora.

Novos testes são descartados

Para o deputado social-democrata Stephan Hilsberg, a ocupação de ex-funcionários da Stasi no serviço público não é, em si, problemática. "A questão é qual posição eles ocupam. Se forem porteiros, por exemplo, é aceitável, mas posições de comando não são."

Apesar dos protestos, dificilmente haverá uma reavaliação de todos os funcionários públicos estaduais do leste alemão. Em 2006, uma mudança na legislação determinou que apenas pessoas que exerçam cargos de chefia sejam avaliados sobre suas relações com a Stasi.

O Tratado de Unificação, que selou a união das Alemanhas Ocidental e Oriental, especificava que uma colaboração para a Stasi poderia levar à demissão de um funcionário público, mas não afirmava que a demissão era obrigatória.

AS/dpa/afp/ap

Revisão: Rodrigo Abdelmalack