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EsporteEuropa

Sem alemães e franceses, gigantes europeus criam Super Liga

Michael da Silva
19 de abril de 2021

Doze grandes clubes, como Real Madrid, Manchester United e Milan, anunciam criação de liga independente, sem participação de Bayern de Munique, Borussia Dortmund e PSG. Fifa e Uefa ameaçam sancionar.

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Jogadores do Manchester City e Liverpool disputam partida
Manchester City e Liverpool estão entre os seis times ingleses que se uniram à Super LigaFoto: Laurence Griffiths/PA/dpa/picture alliance

Doze grandes clubes europeus anunciaram neste domingo (18/04) que criarão um novo campeonato, chamado Super Liga, na prática rompendo com a Liga dos Campeões, organizada pela Uefa, que gerencia o futebol europeu. O movimento deflagrou uma crise de grandes proporções entre os clubes e entidades do esporte nos níveis europeu e mundial.

Os membros fundadores da Super Liga são os ingleses Manchester United, Manchester City, Liverpool, Chelsea, Arsenal e Tottenham Hotspur, os espanhóis Barcelona, Real Madrid e Atletico Madrid e os italianos Milan, Inter de Milão e Juventus.

Nenhum clube alemão ou francês se comprometeu a participar da Super Liga até o momento. O Bayern de Munique, que levou a taça na Liga dos Campeões da UEFA em 2020, e o Paris Saint-Germain e o Borussia Dortmund, semifinalistas do campeonato deste ano, são ausências importantes da lista.

O comunicado que detalhou a criação da Super Liga, no entanto, informou esperar que mais três clubes também se unam como membros fundadores antes do torneio inaugural, que deve ocorrer "logo que seja possível".

Os clubes fundadores afirmaram que a crise econômica provocada pela pandemia foi um dos motivos que levaram à iniciativa. "A criação da Super Liga ocorre em um momento em que a pandemia mundial acelerou a instabilidade do atual modelo econômico do futebol europeu", argumentaram.

"Além disso, por vários anos, os clubes fundadores vinham perseguindo o objetivo de melhorar a qualidade e a intensidade das competições europeias existentes em todas as temporadas, e de criar um formato para os maiores clubes e jogadores competirem com regularidade."

A nova liga será garantida por um financiamento do banco americano JP Morgan, que atuou na compra do Manchester United pela família Glazer em 2005 – hoje uma das idealizadoras da Super Liga.

"Os clubes fundadores receberão 3,5 bilhões de euros (R$ 23,5 bilhões) apenas para apoiar seus planos de investimento em infraestrutura e para compensar o impacto da pandemia de covid", afirmam os clubes. "O novo torneio anual oferecerá crescimento econômico e apoio significativamente maior para o futebol europeu."

"Projeto cínico"

Os 12 clubes afirmaram que eles "esperam manter conversas com a Uefa e a Fifa para trabalharem juntos e em parceria para proporcionar os melhores resultados para a nova liga e para o futebol como um todo", mas os órgãos europeu e mundial de futebol criticaram os planos com uma resposta dura, ameaçando banir qualquer clube que participe da Super Liga de todas as competições.

"Os clubes mencionados serão banidos de jogarem em qualquer outra competição nos níveis doméstico, europeu ou mundial, e seus jogadores podem ser impedidos de representar seus times nacionais", afirmaram a Uefa e a Fifa em comunicado conjunto.

A Fifa expressou desaprovação ao plano. "Qualquer competição de futebol, seja nacional, seja regional, seja mundial, deve sempre refletir os princípios básicos de solidariedade, inclusão, integridade e redistribuição financeira equitativa", afirmou a entidade.

"Considerando esse pano de fundo, a Fifa só pode expressar sua desaprovação a uma liga europeia fechada e separada, fora das estruturas internacionais do futebol e que não respeita esses princípios."

Em seguida, a Uefa, as associações britânicas Premier League e English Football Association, a espanhola La Liga e a italiana Seria A divulgaram outro comunicado conjunto, no qual definem a formação da Super Liga como "um projeto cínico baseado no interesse próprio de alguns poucos clubes".

"DFL não concorda"

Os clubes alemães Bayern de Munique e Borussia Dortmund não estão entre os 12 clubes fundadores, apesar de terem sido convidados. Os dois times ainda não comentaram o tema, mas Christian Seifert, presidente da Liga Alemã de Futebol (DFL), reagiu às notícias condenando o anúncio como uma ameaça que poderia destruir as estruturas do futebol europeu.

"A DFL não concorda com nenhum conceito de uma Super Liga", afirmou Seifert. "Os interesses econômicos de grandes clubes na Inglaterra, na Espanha e na Itália não podem destruir as estruturas que existem em todo o futebol europeu."

"Em particular, seria irresponsável danificar de maneira irreparável as ligas nacionais do futebol profissional europeu dessa forma. Portanto, apoio a decisão conjunta da Uefa e das ligas nacionais da Inglaterra, Espanha e Itália", afirmou.

"Motivado por avidez"

Alguns dos maiores nomes do futebol, associações de torcedores e até os governos do Reino Unido e da França manifestaram oposição ao plano.

O ex-diretor do Manchester United Alex Ferguson afirmou à Reuters que uma Super Liga seria "um distanciamento de 70 anos do futebol de clubes europeu. Os torcedores em todos os lugares adoram a competição do jeito que ela é".

"A competição fechada será o último prego no caixão do futebol europeu, abrindo mão de tudo que o fez ser tão popular e bem-sucedido – mérito esportivo, promoção e rebaixamento, qualificação aos torneios da Uefa por meio do sucesso doméstico e solidariedade financeira", afirmou a associação Torcedores de Futebol da Europa. "É ilegítimo, irresponsável e anticompetitivo por definição. É motivado exclusivamente por avidez."

O ministro da Cultura do Reino Unido, Oliver Dowden, afirmou que qualquer tipo de Super Liga criaria um espaço fechado e afastaria o esporte de seus fãs. "Torcedores de futebol são o coração do nosso esporte nacional e todas as decisões importantes devem ter o seu apoio", declarou. "Assim como muitos torcedores, estamos preocupados que esse plano possa criar um espaço fechado bem na elite do nosso esporte nacional. Sustentabilidade, integridade e competição justa são absolutamente cruciais e qualquer coisa que abale isso é profundamente problemática e danosa ao futebol."

Como funcionaria

Segundo o comunicado dos 12 clubes fundadores, a Super Liga poderia ter ainda mais três membros fundadores (provavelmente o Bayern de Munique, o Borussia Dortmund e o Paris Saint-Germain) e mais cinco clubes convidados, sob critérios de seleção ainda não divulgados.

Os vinte times competiriam em dois grupos de dez, jogando partidas em casa e no campo do adversário, e os três mais bem colocados de cada grupo progrediriam para o mata-mata.

Os membros fundadores gostariam de iniciar a competição em agosto, com os jogos ocorrendo no meio da semana. Esses clubes deixariam a Liga dos Campeões, mas ainda pretendem competir nos campeonatos nacionais, uma cenário improvável devido à disputa legal que deve ocorrer.

Como fica a Uefa?

O anúncio da criação da Super Liga, na noite de domingo, ocorreu apenas nove horas antes de uma reunião do Comitê Executivo da Uefa que deveria finalizar os detalhes de um plano para reformar a Liga dos Campeões, substituindo o atual modelo de disputas em grupos pelo chamado "modelo suíço".

Planos anteriores feitos por clubes de elite para criar uma Super Liga sempre foram considerados manobras para arrancar concessões da Uefa, como a reforma que estava sendo planejada agora pela entidade.

Ainda não está claro se a Uefa manterá seu plano de reformar a Liga dos Campeões, considerando o rompimento de 12 de seus maiores clubes.