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Scholz nega envolvimento em escândalo de fraude fiscal

19 de agosto de 2022

Chanceler alemão é interrogado no âmbito do caso "Cum-Ex". Investigação apura se ele teria ajudado um banco a evitar pagar milhões em impostos na época em que era prefeito de Hamburgo.

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Scholz em interrogatório
Scholz é interrogado pela segunda vez no caso "Cum-Ex"Foto: Christian Charisius/dpa/picture alliance

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, negou mais uma vez nesta sexta-feira (19/08) ter ajudado um banco a evitar o pagamento de milhões em impostos enquanto era prefeito da cidade-estado de Hamburgo. 

"Não tive qualquer influência nos procedimentos fiscais do [Banco] Warburg", declarou Scholz, ao ser questionado pela segunda vez por um comitê parlamentar local. "Não há qualquer indicação de que eu tenha dado qualquer garantia."

A questão é sobre se Scholz exerceu influência sobre a administração tributária para impedir que pagamentos pendentes fossem exigidos do banco Warburg, com sede em Hamburgo.

O interrogatório faz parte de uma investigação sobre o escândalo conhecido como "Cum-Ex". O caso envolveu práticas bancárias em que se criou uma espécie de carrossel de compra e vantagem de ações para, em última instância, reivindicar a restituição de impostos que nunca haviam sido pagos. O golpe fiscal custou bilhões ao governo.

Dezenas de pessoas foram indiciadas pelo escândalo na Alemanha, incluindo banqueiros, corretores de ações, advogados e consultores financeiros. O esquema em grande escala possibilitou enormes lucros indevidos e teria envolvido centenas de bancos e instituições financeiras europeias e alemãs.

A manobra era feita da seguinte forma: vários titulares trocavam rapidamente ações, causando confusão sobre quem as detinha. Assim, várias entidades conseguiam reclamar para si o que deveria ser um único pagamento de benefício fiscal.

Scholz diz não lembrar de detalhes

O foco do interrogatório é se Scholz, que foi prefeito de Hamburgo de 2011 a 2018, ou outros membros importantes de seu Partido Social-Democrata (SPD) ajudaram o banco privado Warburg a evitar pagar milhões em impostos.

No cerne da investigação estão três reuniões entre Scholz e os coproprietários do Warburg, Christian Olearius e Max Warburg, em 2016 e 2017. Em seu primeiro interrogatório, Scholz admitiu os encontros, mas disse que não se lembrava de detalhes.

Christian Olearius, no entanto, testemunhou que Scholz o aconselhou sobre uma possível maneira de evitar a devolução de 47 milhões de euros em benefícios fiscais que tinha recebido irregularmente.

Segundo Scholz, a suspeita se baseia em "conjecturas que não têm respaldo". Ele afirma não conhecer os detalhes da investigação feita pela administração tributária a esse respeito durante seu mandato como prefeito e, posteriormente, durante seu mandato como ministro das Finanças.

O chanceler também salientou que, no final, não houve nenhum dano à cidade-estado de Hamburgo, já que o Warburg acabou pagando a dívida ao tesouro.

Inicialmente, o caso foi considerado prescrito pelas autoridades fiscais de Hamburgo. Mas, posteriormente, sob pressão do governo de Angela Merkel – do qual Scholz depois seria ministro das Finanças e vice-chanceler, o banco teve que devolver a quantia.

Fachada de um prédio iluminada
Sede do banco Warburg em HamburgoFoto: Hanno Bode/imago images

Oposição desconfia de Scholz

Várias reportagens recentes da mídia alemã dizem que os investigadores apreenderam e-mails do ex-gerente do escritório de Scholz que sugerem que o então prefeito de Hamburgo possivelmente excluiu dados relativos ao assunto.

O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, de tendência conservadora, disse que os e-mails claramente "incriminam" Scholz.

Outros documentos recentemente apreendidos sugerem que Scholz levantou o assunto do reembolso diretamente com Olearius. O chanceler nega.

A promotoria de Hamburgo disse que não há suspeitas contra Scholz, mas a desconfiança entre os políticos da oposição permanece. O presidente da União Democrata Cristã (CDU) e líder da oposição no Bundestag (Parlamento alemão), Friedrich Merz, disse ao jornal Handelsblatt que não acreditava em "uma única palavra" de Scholz sobre ele não se lembrar das conversas que teve sobre o caso.

"Quando se trata de reivindicações fiscais multimilionárias contra um banco em sua própria cidade, você não esquece o conteúdo das conversas", alegou Merz.

O copresidente do partido A Esquerda no Bundestag Dietmar Barsch expressou dúvidas de que Scholz possa ter realmente esquecido o conteúdo de certas conversas. Para ele, o comportamento do chanceler lança uma "nuvem de desconfiança" sobre ele e sua posição.

O especialista em finanças da Transparência Internacional, Stephan Oehme, garantiu que, em sua opinião, a versão de Scholz não é plausível.

Além do mistério em torno do caso, há relatos de que foi encontrado na posse de um ex-parlamentar do SPD, Johannes Kahrs, cerca de 200 mil euros em um cofre de banco. No entanto, não está claro se a descoberta tem algo a ver com o escândalo financeiro.

Questionado sobre esse dinheiro em entrevista coletiva recentemente, Scholz respondeu: "Estou tão curioso quanto você e, claro, gostaria de saber de onde veio".

Chanceler em apuros

Os índices de aprovação de Scholz atualmente estão baixos, em parte devido ao que alguns consideram sua resposta lenta à invasão da Ucrânia pela Rússia, embora seus apoiadores tenham elogiado o que consideram cautela apropriada em uma situação altamente delicada.

Scholz também enfrenta o desafio de tranquilizar os moradores da Alemanha sobre possível escassez de energia e custos crescentes de aquecimento no inverno europeu que se aproxima, bem como sobre as consequências econômicas da guerra e da pandemia.

Suas habilidades de comunicação em meio a todos esses problemas têm sido questionadas – seja por ser incapaz de responder a perguntas difíceis em um comitê parlamentar, por não estar disposto a criticar um colega orador (como os comentários de Mahmoud Abbas sobre o Holocausto nesta semana), ou por ser percebido como indelicado ao enfrentar perguntas.

le (Reuters, AFP, DPA, Efe)