'Lifestyle' Santa Fu
10 de agosto de 2009"Sem muros, as pessoas precisam decidir – a cada dia – se permanecem aqui. Não fugir é uma decisão individual, ativa", explica Angela Biermann, diretora da Penitenciária Glasmoor, no norte de Hamburgo. Ela parece descontraída ao guiar os visitantes através do pátio da instituição, com se a ausência de cercas e de arame farpado também a afetasse positivamente.
É o que se chama de "prisão aberta": Glasmoor parece uma grande fazenda. Prédios baixos entremeados de áreas verdes, bosques e campos em torno. A porta de um antigo celeiro está aberta: é a central da marca penitenciária Santa Fu.
Seis homens estão sentados ou em pé na grande sala com mesas simples. O rádio toca, há pôsteres pelas paredes, à esquerda, uma área gradeada. Não é uma cela, mas sim o depósito dos produtos Santa Fu. À direita, atrás do vidro que isola o escritório, um homem rechonchudo, de bigode, acena. Em sua camiseta, lê-se em letras brancas a palavra "Justiça".
Vigia de um filme infantil
Wolfgang Mücke é quem supervisiona a oficina. Com 50 e poucos anos, ele transmite algo de bonachão, poderia ser o vigia de um filme infantil, ameaçando com o dedo os meninos que se comportam mal. No caso, eles são os seis operários que imprimem ditos da prisão em bótons e camisetas.
Além desses artigos, os internos empacotam outros, produzidos na Penitenciária de Fuhlbüttel – daí o nome Santa Fu. Em Glasmoor encontram-se também o depósito e o serviço de remessa desses produtos que já se tornaram cult. Fabricados em pequena quantidade, artesanalmente, eles tematizam a vida atrás das grades. O tom é autêntico e nunca falta uma pitada de humor.
"A camiseta estampada com 'Prisão perpétua', eu mesmo já dei de presente numa despedida de solteiro", conta Mücke, visivelmente orgulhoso do projeto. "A pequena logomarca da Santa Fu já tem um status comparável ao jacarezinho verde de um concorrente nosso."
"Pior coisa que existe"
Mas não será que esse humor se faz às custas dos presidiários? A diretora Biermann discorda. "Não esqueçamos que todos os artigos e dizeres foram criados pelos detentos. Não veio ninguém de fora e disse: vamos imprimir 'Livre de novo' ou 'Prisão Perpétua' nas camisetas."
Henrik K., que produz bótons numa pequena prensa, considera o humor dos produtos libertador. "É claro que assim a gente tenta esquecer um pouco a prisão. Tem um certo humor negro, e isso ajuda, sem dúvida."
A atmosfera na oficina é descontraída, os homens vivem fazendo piadas. Mas Wolfgang Mücke não quer que se passe a impressão de que o presídio seja uma coisa "até legal", uma espécie de república meio pirada, com coabitantes um pouco grossos. "Privação de liberdade é algo péssimo, sempre. É a pior coisa que existe. Pelo menos na Alemanha."
Incentivo à autoestima
O trabalho ajuda a tornar a permanência mais suportável, dá para os detentos um sentido às coisas. Até porque parte dos lucros com as vendas da Santa Fu vai para a organização Weisser Ring (Anel branco), que presta assistência às vítimas da criminalidade.
E não se deve subestimar o impulso que é para autoestima dos presos saber que criam algo desejado e reconhecido "lá fora". Mehmed B., encarregado de estampar as camisetas, pôde confirmar isso durante uma licença especial.
"Vi as camisas Santa Fu numa vitrine e sabia que eram artigos meus ou do meu colega. Então me senti orgulhoso de ver como a coisa chegou ao público."
Autor: Dirk Schneider
Revisão: Simone Lopes