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Rússia condena à prisão jornalista crítica de Putin

16 de julho de 2024

Escritora russo-americana Masha Gessen, autora de diversos livros sobre escalada autoritária na Rússia, foi sentenciada a 8 anos de prisão pela Justiça do regime de Putin após ser acusada de divulgar "informações falsas"

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Mascha Gessen é uma mulher branca de 57 anos, cabelos castanhos e curtos, olhos castanhos, usa óculos e veste uma camisa branca com terno xadrez
Masha Gessen em 2019, durante a feira de livros de LeipzigFoto: STAR-MEDIA/IMAGO

A jornalista e escritora russo-americana Masha Gessen foi condenada na segunda-feira (15/07) à revelia – quando o réu é comunicado oficialmente do processo e opta por não apresentar defesa – por um tribunal de Moscou. Ela foi acusada pelo regime de divulgar "informações falsas" sobre a atuação militar da Rússia na Ucrânia e foi sentenciada a oito anos de prisão.

Nascida em Moscou, Gessen vive nos Estados Unidos e é redatora da revista The New Yorker e colunista do The New York Times, veículos nos quais escreve frequentemente textos críticos ao presidente russo Vladimir Putin. Gessen também é autora de diversos livros de referência sobre a escalada autoritária na Rússia nas últimas décadas, incluindo uma biografia de Putin.

A polícia russa incluiu Gessen em uma lista de procurados em dezembro, e a imprensa no país informou que o caso se baseava em declarações da jornalista sobre atrocidades ocorridas na cidade ucraniana de Bucha em uma entrevista com Yury Dud, popular blogueiro russo.

Na entrevista, que foi vista mais de 6,5 milhões de vezes no YouTube desde setembro de 2022, Gessen e Dud discutiram as atrocidades cometidas no início da invasão russa. As tropas ucranianas que retomaram Bucha das forças russas em retirada encontraram pelo menos 400 corpos de homens, mulheres e crianças nas ruas, em casas e em valas comuns, sendo que alguns apresentavam sinais de tortura.

As autoridades russas negaram a denúncia e processaram várias figuras públicas do país por terem se manifestado sobre Bucha.

Nove pessoas de cabeça baixa vestem roupas de frio e seguram flores
Parentes das vítimas do massacre em Bucha prestam homenagem após dois anos da retomada da cidade pelas tropas ucranianasFoto: Vadim Ghirda/AP Photo/picture alliance

Kremlin tornou crime denúncias sobre sua conduta

Os processos foram realizados com base em uma lei russa que entrou em vigor dias após o início da invasão à Ucrânia. A norma criminalizou qualquer expressão pública sobre a guerra que fosse diferente da versão do Kremlin.

A Rússia afirma que suas tropas na Ucrânia atingem apenas alvos militares, não civis. Gessen, que tem dupla cidadania, americana e russa, viveu na Rússia até 2013, quando o país aprovou legislação contra a comunidade LGBTQ+.

É improvável que Gessen seja presa na Rússia por causa da condenação, a menos que viaje para um país com um tratado de extradição com Moscou.

Desde o início da guerra, foram registrados 1.053 processos criminais na Rússia contra manifestantes contrários à guerra, de acordo com o grupo de direitos OVD-Info, que rastreia prisões políticas e fornece assistência jurídica.

Também na segunda-feira, o cidadão russo Richard Rose foi considerado culpado por espalhar informações falsas sobre os militares russos em Bucha e condenado também a oito anos de prisão, disse o OVD-Info. Em seu discurso final perante o tribunal, Rose disse que se considera um prisioneiro político e disse que não mudaria seus pontos de vista, disse o grupo de monitoramento.

Autora teve prêmio cancelado por crítica a Israel

Masha Gessen é autora do livro O Homem Sem Rosto – A Improvável Ascensão de Vladimir Putin, publicado em 2023 e que narra como um oficial de baixa patente da KGB conseguiu convencer o presidente Boris Yeltsin a torná-lo seu sucessor.

Em dezembro de 2023, a Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde da Alemanha e responsável pelo Prêmio Hannah Arendt para o Pensamento Político, cancelou uma premiação à jornalista, que tem ascendência judaica, por ter comparado a atuação de Tel Aviv em Gaza à que ocorria em guetos nazistas no Holocausto.

sf (AP, AFP, ots)

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