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Russos que perderam emprego após saída de empresas do país

Kira Sokolova
11 de maio de 2022

Em meio à invasão russa da Ucrânia e às sanções impostas pelo Ocidente, várias redes internacionais suspenderam suas atividades na Rússia. A DW ouviu histórias de jovens que tiveram suas carreiras interrompidas.

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Lojas fechadas em shopping de Moscou
Várias redes internacionais fecharam lojas na RússiaFoto: Vladimir Gerdo/ITAR-TASS/imago images

Até meados de janeiro, Alexander trabalhava 12 horas por dia numa fábrica e ganhava cerca de 35 mil rublos por mês (cerca de R$ 2.600). O estudante de 22 anos de Saratov, na Rússia, queria na verdade ser piloto de avião, o que não conseguiu por questões de saúde. Por isso, optou pela carreira de comissário de bordo.

No início do ano, ele se candidatou para uma vaga numa companhia aérea russa. Ele passou com sucesso pela entrevista e por um teste em Volgograd. Na época, ele já havia se demitido da fábrica. A empresa aérea lhe ofereceu uma boa oferta – treinamento em Moscou e um salário mensal inicial de cerca de 100 mil rublos (cerca de R$ 7.400).

Mas Alexander nunca chegou a fazer o treinamento. Após o ataque russo à Ucrânia em 24 de fevereiro, empresas estrangeiras começaram a deixar o mercado russo. Sanções foram aplicadas contra centenas de pessoas e empresas, inclusive na aviação. Além disso, o Ocidente fechou seu espaço aéreo para aeronaves russas e proibiu a venda, entrega e transferência de aviões e peças para a Rússia. Empresas de leasing pediram de volta suas aeronaves. Embora as companhias russas ainda não tenham devolvido os aviões alugados, eles são usados apenas em rotas domésticas.

O treinamento de Alexander e seu emprego foram cortados. Ele afirma que não adianta se candidatar para outras empresas aéreas. "Os aviões não estão passando por manutenções normais, peças não são entregues, não está claro em quais condições as aeronaves estão voando. Os riscos são grandes demais para mim", diz.

Retrocesso econômico

Segundo a economista e professora de economia russa em Moscou Tatjana Michajlova, as sanções terão efeitos a longo prazo, incluindo a exclusão da Rússia das cadeias de produção global. As restrições levariam ao isolamento e ao atraso tecnológico. "A indústria da aviação já está gritando que ficará sem peças de reposição daqui a seis meses. Outras indústrias terão a mesma evolução", diz a especialista.

Funcionários finalizam montagem de carro em fábrica da Volkswagen na Rússia
Indústria automobilística também será afetada pelas sanções Foto: Sergei Chirikov/epa/dpa/picture-alliance

Michajlova avalia que a economia russa retrocederá ao nível dos anos 1990. Ela ressalta que as sanções afetarão todos os setores econômicos que dependem de peças ou insumos do exterior, como a indústria automobilística, farmacêutica e até mesmo a agricultura, que depende de sementes importadas.

"As empresas serão forçadas a fechar as portas e demitir funcionários. A demanda por bens e serviços diminuirá, pois a população ficará mais pobre, e isso afetará todos os setores, até os cabeleireiros", afirma Michajlova.

Devido à diminuição na demanda por trabalhadores qualificados, a especialista conta que muitos russos já estão perdendo seus empregos ou não conseguem mais uma ocupação. A situação afeta especialmente os moradores de Moscou, segundo ela. O prefeito da capital russa, Serguei Sobianin, estimou que 200 mil habitantes da cidade podem perder o emprego com a saída de empresas estrangeiras do país.

Primeiros impactos em Moscou

A estudante Aliona, de 19 anos, trabalhava como vendedora numa loja da Zara em Moscou. No início de março, porém, a rede de roupas espanhola anunciou o fechamento de suas mais de 500 filiais na Rússia. "Eu e minhas colegas não contávamos que isso fosse acontecer tão rápido", diz.

Agora, ela ainda está recebendo dois terços de seu salário e também o pagamento pelas férias deste ano. "Minha situação não é a pior. Só trabalhava lá por causa do dinheiro e queria sair de lá em breve. Agora quero buscar um emprego que eu goste", afirma a estudante de design.

Marina também busca um novo emprego. A moscovita de 30 anos trabalha com marketing digital. No início do inverno, uma empresa, para qual ela gostaria de trabalhar há tempos, ofereceu-lhe uma vaga. Mas quando a guerra começou, a direção da empresa interrompeu as novas contratações. Isso deixou Marina muito chateada.

Loja da H&M fechada em Moscou
Várias empresas internacionais já saíram da RússiaFoto: Vladimir Gerdo/ITAR-TASS/Imago

 "Claro que gostaria de encontrar uma posição semelhante, mas isso é irreal num futuro próximo. Muitas empresas estão reduzindo seu quadro funcional e, em geral, a demanda por novos funcionários diminuiu muito, principalmente em marketing", afirma Marina. Agora, segundo ela, não se trata mais de realização profissional, mas de fonte de renda. "É preciso se animar com qualquer oportunidade de ganhar alguma coisa."

Milhares de desempregados até o fim do ano

Mais de 600 mil russos correm o risco de perder o emprego até o final deste ano, segundo a revista Forbes. Alexander sofreu um forte impacto emocional com a perda da tão sonhada vaga. "Se eu não tivesse passado no teste, seria minha culpa e poderia melhorar no futuro. Mas o que aconteceu, não pude prever e nem mudar, e isso dói". Agora, ele pretende se concentrar nos estudos com a ajuda financeira que está recebendo dos pais no momento.

Nenhum dos entrevistados pela DW apoia a guerra contra a Ucrânia. Todos avaliam deixar o país. "Ainda não planejamos sair da Rússia, mas mantemos aberta essa possibilidade", conta Marina. Após terminar os estudos, Aliona pretende se mudar para a Alemanha.

Para Alexander, Moscou era para ser apenas uma escala. De lá, ele gostaria de ir para o exterior. "Agora ficou bem mais difícil. Os preços subiram, os salários, porém, continuam os mesmos, e as pessoas estão descontentes com isso. Mas elas não culpam a política russa por isso, e sim aqueles que impuseram as sanções", critica o jovem.