Risco de barbas ou amizade ao capital?
7 de outubro de 2002A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva está presente nas versões online de quase todos os grandes jornais da Alemanha e da Suíça. O espaço dado ao pleito reflete uma preocupação extraordinária da Europa com os rumos a serem dados à economia brasileira. O enfoque vai desde o detalhe da votação eletrônica em todo o país às dificuldades a serem enfrentadas pelo próximo presidente com "a herança deixada por Fernando Henrique Cardoso", como pincela o diário suíço Neue Zürcher Zeitung.
"Os correligionários de Lula festejaram durante toda a noite com muito samba e fogos de artifício", observou o jornal, que traz ainda um especial sobre a posição do Movimento dos Sem Terra frente a um eventual governo Lula. Segundo o Neue Zürcher Zeitung, em texto intitulado "Lula – O Risco Nacional de Barbas", o candidato mais votado nas eleições brasileiras é considerado "o fantasma que assusta a comunidade financeira". Também o Süddeutsche Zeitung ressaltou o nervosismo do mercado frente a uma vitória do candidato do PT. "O Brasil é o maior poderio econômico da América Latina", salientou o jornal.
Triunfo histórico –
Para o diário alemão econômico Handelsblatt, "a esquerda venceu claramente as eleições no país sul-americano, com a vitória do socialista Lula, que conseguiu um triunfo histórico". Vários órgãos de imprensa alemães acentuaram que a eleição é apenas a quarta disputa democrática desde o fim da ditadura militar, em 1985. Outro tópico registrado pelos diários europeus diz respeito às imensas filas formadas durante o dia de votação no país.Terno e gravata –
Em textos de fundo, praticamente todos os jornais europeus salientaram a mudança de perfil de Lula, se comparado às eleições anteriores por ele disputadas. Hoje "de terno e gravata", segundo o Neue Zürcher Zeitung, Lula seria apenas o estopim que veio a desencadear a crise de confiança alastrada pelo país, "cujas causas verdadeiras estão no excessivo déficit orçamentário brasileiro". Para o semanário Der Spiegel, "até mesmo o capital já fez as pazes com o sindicalista".