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Ricos e pobres se confrontam em galeria de luxo de Havana

Andreas Knobloch de Havana / fc
26 de maio de 2017

Algumas das marcas mais luxuosas do mundo estão fazendo sua primeira aparição em Cuba. Após décadas focando a igualdade social, governo da ilha caribenha espera que o turismo de ponta impulsione a economia.

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Novos hotéis e lojas de luxo são claramente destinados aos turistas estrangeiros
Novos hotéis e lojas de luxo são claramente destinados aos turistas estrangeirosFoto: Martin Funck

Marta espia através das vitrines do andar térreo da nova e sofisticada galeria de lojas de Havana. "Minha aposentadoria mensal é de 342 pesos cubanos [cerca de 14 dólares]", diz a professora aposentada. Ela nunca poderá se dar o luxo de comprar os itens do outro lado do vidro.

Os produtos de luxo – cosméticos, jóias e relógios de última linha, artigos eletrônicos custando centenas ou milhares de dólares – estão expostos no shopping que faz parte do Hotel Manzana, no coração da capital cubana. O consumo capitalista chega a uma sociedade que há décadas defende os ideais de igualdade social.

Luxo suíço, propriedade militar

O suntuoso edifício de cinco andares, erguido entre 1894 e 1917, foi o primeiro centro comercial do país insular. Após a Revolução Cubana na década de 1950, foi confiscado pelo Estado e transformado em escritórios e uma escola, para depois entrar em decadência.

Revitalizado, o prédio abrigará a partir de junho um hotel cinco estrelas com 246 quartos, cujas diárias custam entre 370 e 660 dólares. O hotel é operado pela rede hoteleira Kempinski, da Suíça. A propriedade permanece nas mãos da Gaviota, operador turístico pertencente aos militares.

"É uma desgraça", diz a atriz Edenis Sanchez. "Quem vai poder fazer compras aqui?" Poucos cubanos, já que a maioria não tem condições nem mesmo de adquirir os produtos básicos do dia a dia nas lojas comuns.

Para muitos cubanos, ostentação do novo centro comercial em Havana é inaceitável
Para muitos cubanos, ostentação do novo centro comercial em Havana é inaceitávelFoto: Martin Funck

Da União Soviética e Venezuela ao turismo

O luxo recém-chegado contrasta com os anos de crise da década de 1990, quando o fim da União Soviética representou a perda do principal benfeitor de Cuba quase da noite para o dia.

O Produto Interno Bruto (PIB) de Cuba caiu um ponto percentual em 2016. O parceiro comercial mais importante do país, a Venezuela, reduziu as exportações de petróleo devido a suas próprias dificuldades econômicas e políticas, obrigando o governo de Raúl Castro a recorrer ao turismo como fonte de crescimento econômico.

Mais de 4 milhões de turistas visitaram Cuba em 2016, incluindo 614 mil americanos, e a tendência é ascendente. Mas nem todos estão satisfeitos com o "upgrade estético" do país. Muitos visitam a ilha caribenha exatamente para ter uma pausa do luxo que tem tomado outros lugares. "É decepcionante", diz um casal alemão de férias na ilha. Eles vieram para "fugir do McDonald's e Starbucks": "Agora, encontramos tudo isso aqui", lamentam.

Equilíbrio improvável

O governo cubano quer atrair turistas e o dinheiro que eles trazem para gastar no país, o que significa empregos. Ele quer também se proteger contra uma crescente divisão entre ricos e pobres, porém esse equilíbrio se prova difícil.

Um desfile exclusivo da Chanel realizado em 2016 no famoso Paseo del Prado, um espaço público, foi alvo de críticas por analistas cubanos e alguns membros da sociedade civil.

Mas nem todos os cubanos temem um futuro de luxo e o risco de uma maior disparidade econômica. Rodolfo, que vive num edifício em ruínas, não muito longe do Hotel Manzana, vê sinais de bons tempos por vir: "Tudo a serviço do desenvolvimento é bom. Essas lojas e o hotel trarão turistas com dinheiro."

O hotel de luxo a ser inaugurado em breve pode ser o primeiro de Cuba, mas não será o último. Não longe dali, outro futuro hotel, um prédio alto, está sendo preparado para servir a um novo tipo de turista que escolhe passar as férias na ilha comunista.