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Restringir voos quando surge nova variante é medida eficaz?

27 de novembro de 2021

União Europeia, EUA e outros países decidiram restringir voos de nações do sul da África por causa da variante ômicron do coronavírus. Mas não há consenso se isso funciona ou se apenas dá falsa sensação de segurança.

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Pessoas caminham em saguão de aeroporto
Nova rodada de restrições a viagens é implementada quando elas começavam a ser retiradasFoto: Leon Neal/Getty Images

Uma nova variante do coronavírus identificada na África do Sul está provocando uma nova rodada de restrições de viagem, justo quando elas finalmente começavam a ser retiradas.

Os riscos da variante, chamada ômicron, são em sua maioria ainda desconhecidos. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) a definiu como uma "variante de preocupação", e governos do mundo inteiro não estão esperando os cientistas a entenderem melhor para adotarem proibições de voo e outras restrições de viagens.

Os EUA informaram nesta sexta-feira que proibirão viagens da África do Sul e de sete outras nações africanas por cidadãos não americanos a partir de segunda-feira. Os países-membros da União Europeia (UE) concordaram em restringir viagens da África do Sul e mais seis países para combater a propagação da ômicron. O Reino Unido, o Canadá e outros países impuseram restrições similares.

Essas iniciativas renovam o debate sobre se proibir voos e adotar outras restrições de viagem funcionam para impedir a propagação de novas variantes. Alguns dizem que, na melhor das hipóteses, as restrições podem dar algum tempo para os países implementarem medidas de saúde pública. Na pior das hipóteses, elas fazem pouco para impedir a propagação e dão uma falsa sensação de segurança.

Os Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças disseram que desencorajavam fortemente a imposição de proibições de viagens a pessoas vindas de países onde a variante foi relatada.

As restrições de voos retardam a propagação do vírus?

Elas podem dar aos países mais tempo para acelerar a vacinação e adotar outras medidas, como uso de máscaras e distanciamento social, mas é altamente improvável que impeçam a entrada de novas variantes, disse Mark Woolhouse, professor de doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo.

"Restrições de viagem podem atrasar, mas não impedir a propagação de uma variante altamente transmissível", afirmou.

O especialista em doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins, Amesh Adalja, diz que as restrições a voos só dão ao público uma falsa sensação de segurança e deveriam deixar de ser a reação "irrefletida" das autoridades públicas. Adalja observou que a imposição de restrições faz os políticos "parecerem que estão fazendo alguma coisa", mas não faz sentido agora que os países têm outros instrumentos como testes rápidos e vacinas.

O epidemiologista-chefe da Suécia, Anders Tegnell, disse que não acredita que uma proibição de viagens tenha qualquer efeito relevante, a não ser para os países com voos diretos para as áreas afetadas. "É basicamente impossível controlar todos os fluxos de viagens", afirmou Tegnell ao jornal Expressen.

Poderia ser diferente desta vez?

Jeffrey Barrett, diretor da COVID-19 Genetics, no Instituto Wellcome Sanger, considera que a detecção precoce da nova variante poderia significar que as restrições adotadas agora teriam um impacto maior do que quando a variante delta surgiu pela primeira vez.

"A vigilância [sanitária] é tão boa na África do Sul e em outros países próximos que eles encontraram esta [nova variante], entenderam que era um problema e contaram ao mundo muito rapidamente sobre ela", disse. "Podemos estar em um estágio anterior com a nova variante, então ainda pode haver tempo para fazer algo a respeito".

Entretanto, Barrett disse que restrições severas seriam contraproducentes e que as autoridades sul-africanas não deveriam ser punidas por alertar o mundo sobre a nova variante. "Eles prestaram um serviço ao mundo e nós devemos ajudá-los, não penalizá-los por isso".

O que diz a ciência?

Sharon Peacock, da Universidade de Cambridge, que liderou o sequenciamento genético no Reino Unido, disse que as decisões sobre restringir voos eram políticas, e não científicas. Ela enfatizou que ainda havia grande incerteza sobre a nova variante, incluindo se ela é realmente mais infecciosa ou mortal. Embora algumas das mutações detectadas pareçam preocupantes, ela disse que ainda não há provas de que a nova variante seja mais letal ou transmissível que as anteriores.

"É possível manter a infecção de fora, mas você precisaria de restrições muito, muito severas e apenas alguns países estariam dispostos a fazer isso", disse.

"Ganhar tempo é importante e vale a pena, mas esta é uma decisão para os formuladores de políticas", disse. "No momento, não teremos nenhuma resposta científica definitiva por algumas semanas".

E quanto aos impactos econômicos?

Se há algo do que a economia global não precisava agora é de mais incerteza.

Uma nova variante do coronavírus altamente transmissível representa um risco tanto econômico quanto sanitário, e ameaça desorganizar a recuperação econômica global e agravar os gargalos da cadeia de abastecimento, que já estão elevando os preços. As bolsas de todo o mundo caíram nesta sexta-feira por causa das preocupações com a variante e da reação dos líderes políticos.

"O ponto mais preocupante sobre a nova variante no momento é o pouco que sabemos sobre ela", disse Craig Erlam, analista sênior de mercado da empresa de câmbio OANDA.

bl (AP)