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PolíticaAfeganistão

Resgatados pelos EUA, afegãos aguardam em outros países

29 de agosto de 2021

Dezenas de milhares de pessoas que foram retiradas do aeroporto de Cabul esperam em países como Uganda a decisão sobre se serão aceitas nos EUA. Seu futuro é incerto e depende de uma série de obstáculos burocráticos.

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Afegã aguarda em camas de campanha numa base americana na Alemanha
Afegã aguarda em camas de campanha numa base americana na AlemanhaFoto: Matthias Schrader/AP/picture alliance

Mais de 100 mil pessoas foram resgatadas de Cabul pelos Estados Unidos e seus aliados desde que o Talibã tomou o poder no Afeganistão, em 14 de agosto. A maioria foi levada para várias bases militares no Oriente Médio e na Europa.

Até a última quinta-feira (26/08), em Ramstein, na Alemanha, por exemplo, maior base aérea americana fora dos Estados Unidos, 14,5 mil pessoas haviam chegado do Afeganistão. Cerca de 3.500 foram levadas para os EUA. Entre elas, nenhum afegão.

Ajudantes afegãos que trabalharam para as instituições militares, diplomáticas ou outras organizações americanas ficarão inicialmente com suas famílias nas instalações militares dos EUA na Alemanha. Seu futuro é incerto.

Só 1.200 chegaram aos EUA

Das dezenas de milhares de forças locais resgatadas pelos EUA, apenas cerca de 1.200 chegaram até agora aos EUA. Segundo o governo americano, a Alemanha é apenas um país de trânsito. Mas ainda é incerto para onde os refugiados que aguardam em Ramstein serão levados.

O objetivo do governo americano é aparentemente distribuir o maior número possível de forças locais a terceiros países em todo o mundo até que seus pedidos de visto tenham sido examinados e aprovados.

Na semana passada, o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, anunciou que 12 países parceiros já haviam concordado em aceitar temporariamente afegãos resgatados pelos EUA: Albânia, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Kosovo, Macedônia do Norte, México, Polônia, Ruanda, Ucrânia, Uganda e Qatar.

As primeiras famílias afegãs já chegaram a Uganda. O país africano quer acolher 2 mil pessoas. A Colômbia concordou em hospedar 4 mil afegãos durante seus procedimentos de visto. Lá, como anunciou o presidente dos EUA Joe Biden, eles serão primeiramente verificados cuidadosamente - medicamente, mas acima de tudo no que diz respeito à sua elegibilidade para um visto.

Programa especial de vistos para afegãos

Desde 2009, os EUA têm um programa chamado "Special Immigrant Visa" para trabalhadores afegãos locais, o que supostamente facilita a obtenção de uma autorização de residência permanente.

Até o momento, cerca de 76 mil afegãos receberam um visto desse tipo. No final de junho, o governo dos EUA mais uma vez suavizou os critérios de admissão para que o programa incluísse pessoas que só trabalharam para organizações americanas por um curto período de tempo.

Washington, porém, ainda não atendeu às exigências internacionais de abrir um procedimento simplificado de admissão a ativistas de direitos humanos, jornalistas e outros grupos particularmente vulneráveis.

Até mais 100 mil afegãos poderiam ter direito a um visto, segundo disse J.C. Hendrickson, da ONG International Rescue Committee, à revista política americana Foreign Policy.

Obstáculos burocráticos em série 

Alex Nowrasteh, especialista em migração do Instituto Cato, baseado em Washington, estima que um número muito maior de pessoas adquiriu pelo menos direito teórico a a um visto ao longo dos últimos 20 anos. Mas é provável que apenas uma fração deles seja capaz de reivindicá-lo, explicou ele ao podcast Cato Daily em meados de agosto:

"É tão difícil e caro, e você tem que provar que trabalhou para o Exército dos EUA por um certo período de tempo. E assustadoramente, os militares americanos não mantiveram bons registros disso".

Em muitos casos, disse ele, nenhum registro salarial ou contrato foi documentado, ou acabou destruído desde então. "A maneira como as autoridades estão tratando o procedimento, parece que não querem essas pessoas", afirmou.

Politização da crise afegã

Críticos questionam por que razão Biden, que defende uma política de imigração mais aberta, não está abrindo o caminho para os afegãos. A jornalista da CNN Maeve Reston ressalta em uma análise que a política migratória é um assunto sensível para o atual governo. Trump já está fazendo campanha novamente para as eleições presidenciais de 2024 e poderia acusar Biden de não agir no interesse dos EUA ao aceitar um grande número de refugiados afegãos.

O analista Nowrasteh também acredita que o governo Biden teme que o sentimento parcialmente antimigração possa se espalhar ainda mais nos EUA. Aparentemente, Biden vê paralelos com a crise de refugiados de 2015/2016 na Europa, o que, segundo o especialista, é ridículo.

Há várias razões pelas quais os EUA estão levando os refugiados para outros países. Uma é que Biden quer dar a impressão de que o fardo está sendo compartilhado internacionalmente. Além disso, há considerações práticas: "É mais fácil deportar candidatos rejeitados para o Afeganistão se eles não estiverem nos EUA. Aqui eles têm certos direitos. Em Uganda, não são tantos", afirma Nowrasteh .

Nowrasteh defende a simplificação dos procedimentos de visto para refugiados afegãos: "Não há uma boa razão para barrar os refugiados afegãos", afirma ele, em artigo recente.

O congressista republicano Adam Kinzinger tem uma visão semelhante: "Os refugiados sempre demonstraram um empreendedorismo extremo neste país. Todos sabemos que eles trabalham duro e lutam para ter sucesso", disse em entrevista recente à CNN.

O jornalista Arthur Herman usou argumento semelhante em seu artigo de opinião Help afghan refugees and they will help America (Ajude os refugiados afegãos, e eles ajudarão os EUA) no Wall Street Journal.

Kinzinger lançou um fundo para ajudar as famílias afegãs nos EUA a construir uma nova vida. Segundo o republicano, Biden apenas herdou os obstáculos burocráticos. O lento processamento dos requerimentos de visto começou sob Barack Obama, mas assumiu maiores proporções com Trump. Agora cabe a Biden mudar isso. Kinzinger descreveu a propaganda de medo sobre refugiados na política americana e na imprensa como algo "não americano”.