Representantes afegãos elaboram acordo final
3 de dezembro de 2001As negociações sobre o futuro político do Afeganistão prosseguem nesta segunda-feira, no palácio de Petersberg, em Bonn. Representantes das quatro delegações afegãs, que participam da conferência estão concentrados agora na elaboração do esboço de um acordo final que inclui a composição do planejado governo de transição.
A conclusão de tal acordo, entretanto, está sendo mais difícil do que o esperado. Observadores relataram sobre a dificuldade em reunir todas as ressalvas escritas à mão pelos participantes e traduzi-las nos três idiomas adotados como oficiais neste encontro: o inglês, dari e pachtun.
Apesar da morosidade, o documento final sobre a nova ordem política no Afeganistão é agora prioridade da conferência que já dura sete dias. "O trabalho de tradução é muito complicado e exige mais tempo que o previsto", confirmou o porta-voz da Organização das Nações Unidas, Ahmad Fausi.
Enquanto isso, o embaixador especial da ONU, Lakdar Brahimi, que coordena os debates, conversou novamente, na manhã desta segunda-feira, com os representantes das quatro delegações sobre a indicação dos membros que comporão a administração provisória.
A lista de nomes apresentada é bem maior do que o número estimado de pessoas que irão ocupar cargos no governo provisório. Por isso, os participantes da conferência terão agora que restringir ainda mais a lista e definir os ministérios, para que seja possível planejar a distribuição de funções. Fausi desmentiu os boatos de que as delegações teriam feito um acordo sobre a cota de cada etnia no futuro governo de transição.
Tão logo seja definido, o gabinete deverá assumir imediatamente o poder, que atualmente se encontra nas mãos da Aliança do Norte. As sete páginas do documento que servirá de base para a elaboração do acordo final prevê a criação de uma comissão independente, composta de 21 membros, para formação de uma assembléia, a tradicional Loya Jirga, reunindo representantes de todas as etnias.
A tarefa desta assembléia será, primeiramente, garantir que o processo de transição dure dois anos, conforme desejo da ONU. Outra incumbência será criar condições para a elaboração de uma constituição com garantia dos direitos humanos e reformas que permitam a realização de eleições livres.
Candidatos em potencial
Vários nomes estão cogitados para assumir a presidência interina do governo provisório do Afeganistão, que deverá ter 29 membros. Os mais cotados são o líder da etnia pachtun, Sajed Hamid Karsai, e o chefe da delegação do chamado grupo de Roma, ligado à monarquia, Abdul Sattar Sirat.
Karsai é considerado um político islâmico moderado. Ele estudou na Suíça e foi ministro no gabinete do rei Mohammed Zahir Schah, nos anos 70. Ao enviar sua mensagem aos participantes da conferência em Bonn, Karsai fez um apelo em prol da "irmandade e respeito mútuo entre os afegãos".
Enquanto Karsai tem o apoio dos Estados Unidos e desfruta de plena confiança por parte da ONU, Sirat tem o amparo da Aliança do Norte. Como seu concorrente, ele também integrou o governo afegão na década de 70. Sitar, inclusive, trabalhou na Alemanha como professor de Islamismo.
Rabbani não faz oposição
O atual presidente do Afeganistão, Burhanuddin Rabbani, reconhecido como tal pela ONU, anunciou nesta segunda-feira que não fará oposição à escolha do novo presidente do governo de transição. Segundo seu porta-voz, ele deixará que a decisão seja tomada pelos participantes da conferência em Bonn e garantiu que não faz qualquer objeção aos nomes que estão sendo cogitados para o cargo.
Ajuda alemã aos refugiados
O governo alemão pretende destinar 1,8 milhão de marcos (pouco mais de 900 mil euros) para a organização Planned Parenthood, com o intuito de apoiar os refugiados do Afeganistão.
O dinheiro será empregado em projetos envolvendo mães e crianças e também na criação e manutenção de postos de aconselhamento, segundo esclareceu um porta-voz do Ministério de Cooperação Econômica, nesta segunda-feira, em Berlim.
A organização, que conta com representantes no Paquistão e Irã, pretende criar programas sobre planejamento familiar e divulgação de métodos contraceptivos, além de montar centrais de atendimento médico no Afeganistão.