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Relaxar medidas na Alemanha é irracional, diz especialista

16 de março de 2021

Epidemiologista de agência governamental afirma que afrouxamento de medidas anticoronavírus está acelerando crescimento exponencial de infecções. Médicos intensivistas pedem retorno imediato a lockdown severo.

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Profissional atende paciente em unidade de terapia intensiva de hospital
Especialistas em tratamento intensivo pediram retorno de medidas restritivas severas na AlemanhaFoto: Bernd Wüstneck/dpa/picture alliance

As autoridades sanitárias temem que a Alemanha esteja diante de um crescimento exponencial dos números da pandemia em meio à flexibilização das restrições do lockdown. A quantidade de novos casos de coronavírus cresceu 20% no país em comparação com a última semana, afirmou nesta terça-feira (16/03) um especialista do Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental para controle e prevenção de doenças infecciosas.

Em entrevista à TV alemã, o epidemiologista do RKI Dirk Brockmann criticou o relaxamento das medidas de restrição, num momento em que cresce a disseminação da variante britânica B117 do coronavírus no país.

"Estamos exatamente no limiar da terceira onda. Não há mais o que discutir sobre isso. E nesta altura abrandamos as restrições, e isso está acelerando o crescimento exponencial, que já estávamos vendo antes mesmo do relaxamento [das restrições] devido à nova variante B117", afirmou o epidemiologista Brockmann à emissora ARD.

"Tem sido totalmente irracional esse relaxamento. Ele apenas alimenta esse crescimento exponencial", acrescentou o especialista, apontando que a Alemanha está entrando "em pleno crescimento exponencial".

"Retorno imediato a lockdown"

Nesta segunda, médicos especializados em tratamento intensivo defenderam a volta de algumas medidas restritivas para evitar um novo aumento de infecções e mortes.

"Pelos dados que temos atualmente e com a propagação da mutação britânica, recomendamos fortemente um retorno imediato ao lockdown para evitar uma grave terceira onda", disse Christian Karagiannidis, diretor científico da associação alemã de médicos intensivistas. 

A Alemanha vive um período de aumento acentuado de casos. O RKI informou nesta terça-feira ter registrado 5.480 novas infecções por coronavírus em 24 horas – 1.228 casos a mais do que os contabilizados há uma semana – elevando o total de casos para 2.581.329. O número de mortes aumentou em 238, subindo para 73.656.

A incidência de novos casos de coronavírus por 100 mil habitantes nos últimos sete dias chegou a 83,7 nesta terça-feira. Há quatro semanas, em 16 de fevereiro, a cifra era de 59.

Flexibilização

No começo do mês, a Alemanha flexibilizou algumas restrições, estabelecendo um plano em cinco etapas. Mas os governadores estaduais concordaram que medidas mais severas voltariam automaticamente se a incidência de novos casos de coronavírus por 100 mil habitantes em últimos sete dias voltar a ser maior que 100.

Numa primeira etapa, floriculturas, livrarias e lojas de jardinagem puderam reabrir, desde que observadas medidas rígidas de higiene. Já a abertura do comércio varejista depende da situação epidemiológica. 

Regiões com incidência inferior a 50 casos podem reabrir museus, zoológicos e galerias. Lojas podem receber um certo número de clientes, dependendo da área do estabelecimento. Regiões com incidência entre 50 e 100 podem reabrir esses espaços, mas com hora marcada.

Suspensão da vacina da AstraZeneca

Nesta segunda-feira, a Alemanha anunciou a suspensão do uso da vacina contra covid-19 desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca com a Universidade de Oxford, após relatos de algumas pessoas vacinadas que desenvolveram coágulos no sangue, que podem provocar trombose ou embolia pulmonar.

A medida acompanha decisão tomada por outros países europeus e se baseou em uma recomendação do Instituto Paul Ehrlich (PEI, na sigla em alemão), responsável pela regulação e aprovação de medicamentos no país.

"Depois de novos relatos de tromboses em vasos sanguíneos no cérebro em conexão com a vacinação na Alemanha e na Europa, o PEI considera que uma investigação mais aprofundada é necessária", disse o ministério da Saúde da Alemanha. "A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) irá decidir se e como os novos achados afetarão a aprovação da vacina", acrescentou.

Logo depois do anúncio da Alemanha, França, Itália e Espanha também informaram que estavam suspendendo o uso da vacina de Oxford de forma cautelar, juntando-se a uma crescente lista de países europeus que suspenderam nos últimos dias o uso do imunizante, apesar dos atrasos nos programas de vacinação contra a covid-19.

Médicos e especialistas em saúde pública da Europa criticaram a decisão. Estudos clínicos e a vacinação de milhões de pessoas no Reino Unido mostram que o imunizante da AstraZeneca é seguro, e não há indícios de relação causal entre a vacina e coágulos, afirmam.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), a fabricante AstraZeneca, o governo britânico e a Universidade de Oxford afirmam não haver até o momento indicação de uma relação entre a vacina e os casos relatados ou de aumento de registros de coágulo sanguíneo em relação à média histórica.

md/lf (Reuters, AFP, DPA)